01 | Eric?

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VILA MADALENA, SÃO PAULO

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VILA MADALENA, SÃO PAULO

HELENA BARCELOS

Mundo Bita ecoava, sem timidez alguma, dos alto-falantes do tablet que Maria Júlia, minha sobrinha de cinco anos, tinha preso em suas pequenas mãos desde o momento em que ela chegou da escolinha, juntamente com a sua voz infantil, descompassada e fora do ritmo. E, por mais que eu tentasse não me render e cantar a plenos pulmões juntinho a ela - ganhando com isso um olhar julgador seu -, as vozes da minha cabeça me traíam na maior cara de pau possível.

Que magia eles costumam usar nessas músicas infantis?

Tipo... é impossível não cantar.

Músicas infantis são boas e viciantes em demasia; essa é a verdade.

Na realidade, Mundo Bita é viciante.

E eu falo isso sem vergonha, tendo 30 anos na cara.

Confesso que, se algum dia, por acaso, a minha cunhada - sedentária nível hard - me pedisse para levar a cantorinha pra lá de desafinada ao meu lado em um show deles, eu a levaria sem reclamar ou cobrar pelos meus serviços de babá, porque, sem sombra de dúvidas, eu iria me divertir bem mais do que ela e teria uma boa desculpa para usar caso fosse questionada a respeito.

- Tia Lelena, quantos dentes tem um tubarão? - a sua pergunta poderia ser considerada aleatória, como qualquer outra pergunta infantil que costumava ser feita por ela (hoje, por exemplo, foram feitas inúmeras), mas era apenas uma curiosidade que ressoava e enfatizava na música que ela estava ouvindo.

"Quem sabe essa questão: quantos dentes tem um tubarão?"

- Eu... - abri a minha boca para respondê-la, buscando no meu HD de memória baixíssima a resposta correta que eu jurava ter ouvido num passado distante; no entanto, o seu irmão mais velho, Lorenzo, foi bem mais rápido do que eu.

- Mais de 100, Maricota... - O menino de sete anos, trajado com o uniforme da escola, tal qual a irmã, ditou, sem tirar os olhos do seu carrinho de Fórmula 1 vermelho. - Igual ao vovô.

- O vovô não tem mais de 100 dentes, Lolô.

- Mas tem mais de 100 anos.

Ele deu de ombros, como se aquilo fosse óbvio e verdadeiro; contudo, não era. Concentrando-se na complicada missão de consertar o seu carrinho da Ferrari - o qual ele fez questão de desmontar inteirinho, peça por peça - tal qual um engenheiro profissional. Na realidade, segundo suas palavras apaixonadas sobre o universo de corridas, motores e competições acirradas, aquela seria a sua profissão no futuro, ou uma das, já que ser piloto também fazia parte do seu pacote de sonhos - tanto que ele amava ir ao kartódromo Ayrton Senna em Interlagos com o seu pai (e o vovô de "100" anos). Nas corridas em si, que ocorriam uma vez por ano, quando acontecia o Grande Prêmio do Brasil, aquele era o seu passatempo favorito e, volta e meia, eu os acompanhava.

Die With a Smile | Bruno MarsOnde histórias criam vida. Descubra agora