Capítulo 1: O Início de Uma Nova Jornada

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Belo Horizonte, a cidade onde Misty nasceu e cresceu, fervilhava ao som dos motores, dos passos apressados e das vozes que ecoavam nas ruas cheias. Era uma manhã comum para ela, embora sua vida estivesse longe de ser comum. Aos 26 anos, Misty era uma mulher determinada, apaixonada por cultura e música, e trabalhava como jornalista cultural em uma das revistas mais renomadas de Minas Gerais. Com seus longos cabelos castanhos sempre soltos, olhos intensos e um sorriso caloroso que encantava qualquer um, ela era uma presença marcante no meio artístico local.

Naquele dia, como em tantos outros, Misty começava sua rotina no escritório da revista. O ambiente sempre era agitado, cheio de conversas sobre eventos, entrevistas e reportagens. Seu trabalho lhe dava uma sensação de liberdade, e cada matéria que escrevia era como um pedaço da sua alma sendo entregue ao mundo.

Ela vivia em um apartamento no bairro Funcionários, no coração de BH. Com uma vista modesta, mas acolhedora, o espaço refletia sua personalidade criativa, com livros empilhados, vinis espalhados e quadros de artistas que admirava. Suas manhãs começavam ao som de alguma playlist escolhida a dedo, e o café forte era sua única companhia antes de sair para enfrentar o trânsito e o caos da cidade.

Sua família, no entanto, estava sempre presente, mesmo que de forma caótica. Misty era a filha do meio. Sua irmã mais velha, Maria Clara, já casada e com uma vida aparentemente estável, era o oposto dela: metódica, organizada e sempre com um plano para tudo. Pedro, o irmão mais novo, estava na faculdade, dividido entre a busca por seu futuro e a vontade de viver intensamente o presente. Moravam todos na mesma cidade, e os almoços de domingo na casa dos pais eram quase sagrados. Misty gostava desses momentos, embora às vezes se sentisse como a "ovelha negra" da família, com sua vida sem amarras e cheia de imprevistos.

O nome "Misty" vinha de um romance que sua mãe leu enquanto estava grávida. A personagem principal do livro a cativou tanto que ela decidiu convencer o marido a aceitá-lo. No início, a família e os amigos estranharam o nome incomum, mas, com o tempo, todos se acostumaram e aceitaram. Para sua mãe, Misty era a personificação da personagem forte e sonhadora que tanto a encantara, e esse significado sempre esteve presente em sua criação.

Os encontros familiares eram sempre um misto de carinho e caos. Naquele domingo, Misty chegou à casa dos pais e encontrou Maria Clara sentada à mesa, com seu habitual ar de quem estava em completo controle.

— "Você não vai acreditar," começou Maria Clara, sem nem ao menos um "oi". "O Pedro decidiu trancar a faculdade por um semestre."

— "O quê?!" Misty arregalou os olhos, virando-se para o irmão, que estava no sofá, completamente despreocupado, com o olhar fixo no celular. "Você tá louco, Pedro?"

Pedro deu de ombros, sem tirar os olhos da tela.

— "Só preciso de um tempo, Misty. Não tô aguentando mais essa pressão toda. Vou viajar um pouco, trabalhar por aí... relaxar."

— "Relaxar? Com o quê, exatamente?" Maria Clara respondeu, claramente indignada. "Você tem uma carreira pela frente, e não vai conseguir nada ficando por aí sem fazer nada."

Misty riu, lembrando-se de como Maria Clara sempre fora a disciplinada da família.

— "Deixa o Pedro, Maria. Às vezes, a gente precisa de uma pausa pra se encontrar," disse Misty, piscando para o irmão. "Eu mesma tô precisando de uma."

— "Você sempre foi assim, Misty. Vive no improviso." Maria Clara sacudiu a cabeça. "Eu não sei como você consegue lidar com tanta incerteza. Nem parece que somos irmãs."

— "A gente lida, Maria. De um jeito ou de outro," Misty respondeu com um sorriso, pegando uma coxinha da mesa. "E falando nisso, alguma novidade de trabalho?"

ENTRE DOIS AMORESOnde histórias criam vida. Descubra agora