Uma cidade no meio do nada, cheia de boatos sobre criaturas sinistras e pessoas desaparecidas? Nem a pau que eu deixo minha amiga ir sozinha, é assim que os filmes de terror começam!
E então, a gente se perde, maravilha! Que roteirista preguiçoso, esse.***
- Cê disse que sabia pra onde a gente tava indo! - Laysa resmungava, atrapalhando a calma caminhada pela cidade.
- Livya, onde a gente tá?!
- Onde você tá eu não sei. Eu sei onde eu estou. No meu limite!Eu já estava cheia daquela cidade.
- Nossa... - ela suspirou - Ei, aquilo ali é uma pessoa?
Logo em seguida, ela apontou para uma moça que havia aparecido na esquina. Ela estava ofegante e parecia assustada, devia estar tão perdida quanto nós.
***
O único funcionário daquela espelunca era um jovem baixinho e gordo, com olheiras que davam a impressão de que ele não dormia fazia milênios. Ele esfregava preguiçosamente alguns copos com um pano seco. Como se adiantasse de algo, limpar os copos, se o muquifo continuava sujo como um terreno baldio.
O lugar continuava em total silêncio enquanto ele nos ignorava por completo. Os mosquitos se chocavam contra lampada antiga, só para cair e se juntar aos montes de poeira no piso. Cruzes, esse lugar me dava arrepios. Mas eu estava decidida a não sair dali até que ele nos ajudasse.- É a primeira alma viva que a gente acha em quilômetros, temos que ficar. - argumentei de forma sensata.
- Não exagera, a gente tá andando há menos de meia hora. - Laysa bufou.
- Eu acho que meu relógio parou de funcionar. - Rebeca cutucou seu relógio de pulso. Tentando participar da conversa, acho.Nós três sentamos à uma mesa. A menos suja que conseguimos achar, por mais que ainda estivesse ridiculamente imunda. Em pouco tempo, eu bolei uma boa ideia, óbvio.
- Olha, eu realmente não sei como isso vai ajudar... - Laysa reclamou, como sempre.
- Vale de tudo pra chamar a atenção do carinha ali. Ou você tem uma ideia melhor? - eu retruquei.Eu me levantei devagar, a cadeira arrastou contra o chão de madeira fazendo um barulho horrível. Meu semblante era sério e carregava uma fúria lantente, a tensão crescia no ar a cada segundo em silêncio.
- Eu nunca devia ter deixado você me arrastar pra esse fim de mundo! - gritei, descarregando toda a raiva acumulada.
- Ei, foi você que se ofereceu! - Laysa exclamou, de um jeito convincente até demais.
- Se eu soubesse que era assim, não tinha vindo!"Eu devia virar uma atriz", pensei com orgulho.
Ao passo que a briga se tornava acalorada, graças a minha atuação impecável, vi em minha visão periférica que uma das sobrancelhas do bartender se levantou, parecia interessado. Eu sabia que funcionaria.
Eu segurei uma das mesas pela borda, toda a emoção do momento se concentrava naquele impulso, lançando o plástico encardido contra as outras mesas.
Ok, talvez eu tenha extrapolado um pouco aqui, mas os fins justificam os meios. No momento em que viu uma das mesas de seu bar sendo arremessada pelos ares, ele finalmente reagiu.- Tá achando que isso aqui é casa da mãe Joana?! - o jovem disparou com hostilidade. - Saiam do meu bar!
Sua exigência foi seguida de um longo período de silêncio desconfortável, o que foi engraçado. Não demorou para ele perceber que seu pedido foi em vão.
- Vocês turistas acham que podem entrar aqui e sair a hora que quiserem. - resmungou com uma carranca.
- Você é um morador local, então? Posso fotografar você? É pra minha pesquisa. - Laysa disse sem nenhuma vergonha.
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Morro velho: Cidade xilindró.
Misteri / ThrillerMorro Velho é uma cidade rodeada de lendas macabras, relatos sobrenaturais e carrega um ar misterioso. Porém, Rebeca não sabia disso quando resolveu se aventurar no pequeno município no interior do estado, a convite de sua tia. Um infortúnio impede...