Capítulo Sete: Um Ladrão No Bando

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Paro perto de uma pilastra ao lado de Dora, que também acordou com o barulho, ela roia a unha enquanto observava todo o ocorrido. Pedro passou pelos meninos de cabeça erguida, parando em frente aos dois que estavam brigando.

⏤ Veja ai, Bala, Ezequiel estava roubando as coisas do menino. ⏤ um dos envolvidos fala.

⏤ Devolve agora.

⏤ Não acredita nele não, João Grande bebeu demais.

⏤ Devolve, porra. ⏤ ordena. Ezequiel encara Bala desafiando-o, sua mão esquerda desliza no bolso e ele retira de lá uma correntinha. Arqueo a sobrancelha e coloco a mão no meu busto, sentindo falta de algo. Deixo Dora  pondo-me no meio dos meninos.

⏤ Esta correntinha é minha. ⏤ falo. Um outro menino da um passo à frente.

⏤ Estava nas minhas coisas.

⏤ Você pegou na minha casa e eu quero de volta. ⏤ olho para Ezequiel. ⏤ Dê ela a mim. ⏤ estendo a mão, ele demora um pouco para agir, mas logo faz o que é certo.

⏤ O que você fazia com iss, hein? ⏤ pergunta Professor.

⏤ Só estava olhando, não roubei nada.

⏤ Que mentira roubou sim. ⏤ Sem Perna, aponta o dedo na cara dele.

⏤ Tira a mão daqui, roubei mesmo e o que que tem? Nós somos ladrões.

⏤ Aqui dentro não, somos ladrão lá fora e você sabe. ⏤ fala Bala. ⏤ Roubar de amigo não é certo.

⏤ Eu sei o que é certo, cara, você não é meu pai. ⏤ Bala o olha com fúria e, em seguida, diz:

⏤ Vai embora agora, quem pensar igual vai junto. ⏤ um grupo de garotos passam para o lado de Ezequiel e os outros que estavam com Bala gritam para que eles sairem. Ezequiel para e olha de mim para Pedro.

⏤ Cuida bem da sua putinha, porque sua vida vai virar um inferno Pedro Bala.

⏤ Vai. ⏤ grita.

Na manhã seguinte, estou sentada no pier ao lado de Professor, estamos em silêncio, apenas sentindo a brisa fresca do ar. Ele mexe no bolso e tira de lá um carvão e, então, começa a desenhar na madeira. Fascinada com sua habilidade eu sorrio.

⏤ Me desenha. ⏤ peço.

⏤ O quê? ⏤ pergunta.

⏤ Me desenha vai. ⏤ faço uma pose.
⏤  Essa pose está boa? ⏤ ele ri balançando a cabeça.

⏤ Pode relaxar. ⏤ abaixo os braços pensativa.

⏤ Você sabe nadar?

⏤ Eu sou o melhor nisso.

⏤ Melhor do que eu, Professor? ⏤ olho para cima e vejo Bala. Me coloco de pé. 

⏤ Vamos ver quem salta daquelas pedras então. ⏤ o desafio, apontando para um conjunto de pedras próximas ali.

⏤ Esta doida, fica próximo à costa podemos nos machucar. ⏤ meus lábios se esticam em um sorriso divertido.

⏤ Tá com medo Pedro Bala? ⏤ ele me olha.

⏤ Eu sou sujeito homem, não tenho medo de nada.

⏤ Então bora. ⏤ puxo o vestido que estava deixando o tecido cair no chão. O Professor desviou o olhar, mas Bala não se deu ao trabalho de ao menos disfarçar o seu olhar sacana sob o meu corpo. Reviro os olhos. ⏤ Quem chegar por último, paga uma prenda. ⏤ corro enquanto ele ainda tira a blusa.

Paro de correr e me viro. Bala está logo atrás. Ele para também, colocando a mão já cintura ofegante.

⏤ Rá. Ganhei.

⏤ Deixa disso só vamos pular logo. ⏤ me aproximo da beira e olho para baixo. Era alto demais. Dou um passo para trás. ⏤ Não me diga que está com medo, princesa?

⏤ Nenhum pouco. ⏤ talvez um pouco.
⏤ Quem vai primeiro? ⏤ pergunto.

⏤ Faça as honras. ⏤ ele abre os braços para que eu seja a primeira. Merda. Não queria ser a primeira. Respiro fundo e tomo distância e então me preparo para pular. Bala coloca a mão na frente me barrando e logo em seguida pulando no mar no meu lugar. Corro para abeira e olho para baixo. A correnteza estava forte e eu não o via mais. Porra. Não  penso duas vezes e pulo logo em seguida.

Quando a água cobre o meu corpo, não sinto mais nada além da pressão e o silêncio. Nado de volta para cima e respiro o ar olhando em volta. Bala não estava no meu campo de visão e meu coração acelera. Mas que merda. Começo a gritá-lo, mas nada adianta. Olho de longe o Professor acenando para mim, enquanto tento entendê-lo algo passa por debaixo de mim me tocando. Dou um gritinho olhando em torno e, então, uma cabeça sai de baixo d'água rindo.

Bala puxa seu cabelo para trás e eu empurro seu ombro. ⏤ Idiota achei que tivesse morrido.

⏤ Não estou planejando morrer tão cedo, princesa. ⏤ fala. ⏤ Ficou preocupada?

⏤ Nenhum pouco. ⏤ minto.

⏤ Deixa disso dona, você tava toda desesperada ai. ⏤ fico em silêncio. ⏤ Tá, me desculpa.

⏤ Oi? ⏤ me finjo de sonsa. ⏤ O que você disse? ⏤ ele joga água na minha cara e eu abro a boca surpresa, então, começamos uma guerrinha de jogar água um no outro até cansarmos.

⏤ Melhor voltarmos, tenho algumas coisas para fazer. ⏤ assinto.

Nadamos até a praia e depois pegamos caminho para o pier, visto meu vestido torcendo meu cabelo. Bala veste sua camiseta amarela furada e Professor se levanta caminhando com a gente até o trapiche.

Quando chegamos lá, João Grande veio ao nosso encontro com um jornal. Bala toma da sua mão e lê o conteúdo, estou a sua frente curiosa para saber o que é.

⏤ O que vamos fazer? ⏤ pergunta.

⏤ O que é? ⏤ Bala abaixa o jornal e estende na minha direção, quando eu pego o papel vejo minha foto estampada nela e um aviso de procurasse, com data e horário de quando deixei a minha casa após ajudar Bala a fugir. Olho para ele assim que abaixo o papel. ⏤ Isso deve ser coisa do meu pai.

⏤ Se acharem-na aqui, vamos ser mandados para um reformatório, ou pior para um orfanato. ⏤ fala João Grande. ⏤ Ela não pode ficar aqui. Ela tem que voltar para a família dela. ⏤ Bala olha para João Grande.

⏤ Isso só quem decide é ela.

⏤ O que você quer fazer, Lavínia? ⏤ olho para Professor.

Eu não sei. Não posso viver no Trapiche para sempre, mas se eu voltar as consequências serão drásticas. Mordo os lábios apreensiva.

⏤ E então?

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