041; Aparências.

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ATENÇÃO: nesse capítulo, a gente vai voltar um pouco no tempo, lá quando a Lavínia soube que Bala iria para um reformatório, até chegar ao capítulo anterior.

Eu estava sem comer desde o dia anterior, apenas deitada na cama, fixando o olhar no teto, remoendo tudo o que estava acontecendo. A cabeça parecia um turbilhão, e a dor era constante, como se eu não conseguisse escapar de tudo o que estava se passando.

Eu ainda estava com raiva do meu pai, eu não queria vê-lo, nem ouvir sua voz. Eu estsva deitada, imersa nos meus pensamentos, tentando bloquear tudo ao meu redor. Foi então que a porta do meu quarto se abriu suavemente, e minha mãe entrou, com uma bandeja de café da manhã nas mãos. Ela olhou para o criado-mudo e, ao perceber a bandeja do janta da noite passada, ainda intacta, soltou um suspiro profundo. Com um olhar cansado, ela se sentou na cama ao meu lado e colocou a bandeja sobre os lençóis.

Minha mãe olhou para mim com uma expressão preocupada, mas também cansada, como se estivesse falando a mesma coisa pela milésima vez. Ela suspirou, os olhos se estreitando levemente, e, com a voz suave, mas firme, disse:

- Lavínia, você precisa comer. Se continuar assim, vai acabar parando em um hospital, e não é isso que você quer.

- Não estou com fome. - eu respondi, a voz fraca, sem a menor energia para discutir.

Minha mãe, percebendo o tom, ficou mais firme. Ela se aproximou um pouco mais, com os olhos carregados de preocupação, mas também de uma frustração silenciosa.

- Lavínia, você precisa reagir. Não pode ficar assim, deitada, o tempo todo. Você não pode passar a vida toda desse jeito.

Eu dei uma risada fraca, sem realmente querer, mas foi a única coisa que me saiu. Ela me olhou, confusa, tentando entender o que havia de engraçado.

- Qual é a graça? - ela perguntou, o tom exigente, mas também vulnerável. Eu me sentei lentamente, olhando para as mãos, como se fosse mais fácil encarar o vazio do que ela.

- A graça? - falei, a voz embargada. - Minha vida é uma piada, mãe. Todo mundo ao meu redor age como se nada estivesse acontecendo.

Minha mãe me olhou com uma expressão de quem já sabia, mas ainda esperava ouvir de mim. Ela deu um suspiro baixo e perguntou, com um tom cauteloso:

- Você está falando do tal Bala, não é?

Eu a encarei, sem conseguir esconder o peso das palavras.

- Sim, estou falando dele. - respondi, minha voz se quebrando um pouco. - Você não viu o jeito que o pai tratou o caso dele... com tanta indiferença e crueldade... Como alguém pode agir assim com outra pessoa? Ele não se importa com ninguém, nem com ele mesmo.

Minha mãe me olhou, uma expressão que parecia misturar preocupação e defesa. Ela respirou fundo antes de falar, a voz dela firme, como se estivesse tentando justificar tudo o que havia acontecido.

- Lavínia, você precisa entender... tudo o que o seu pai faz, ele faz por você e pelos seus irmãos. Ele trabalha tanto, tenta garantir que todos tenham o que precisam, que a casa esteja bem. Ele não tem tempo para lidar com as coisas de maneira mais... sensível. Mas isso não significa que ele não se importe. Ele faz o que acha ser o melhor para a nossa família.

Eu a ouvi em silêncio, sentindo uma mistura de raiva e desgosto crescer dentro de mim.

Minha mãe suspirou, tentando encontrar as palavras certas para me fazer entender, como se explicasse algo simples. Ela me olhou com um olhar mais suave, como se estivesse tentando me confortar.

- Eu entendo, filha. Eu sei que você ajudou Bala porque ele é um menino de rua, sem ninguém. Eu sei que você fez isso porque você tem um coração bom. E isso é nobre da sua parte, eu reconheço.

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