Depois de um tempo na casa da tia Cassandra, nos despedimos dela e seguimos para um restaurante. Eu ainda estava com a cabeça cheia, tentando processar tudo o que havia acontecido, mas, pelo menos, estava longe da pressão de casa. A refeição começou em silêncio, todos tentando manter a normalidade, enquanto o garçom servia o prato principal.
Enquanto eu comia, tentando não pensar muito. Um garçom apareceu com um bolo na mão, com uma vela acesa no topo. Ele caminhava em nossa direção, e de repente, meu pai, minha mãe e até Rian começaram a sorrir. Antes que eu pudesse reagir, todos ao redor começaram a cantar "Parabéns pra você" em coro. A melodia, que parecia tão distante para mim naquele momento, ecoou pelo restaurante.
Eu fiquei ali, paralisada, enquanto as vozes ao meu redor preenchiam o espaço. A sensação era estranha, como se o tempo tivesse desacelerado.
Valentina, com aquele jeito travesso, empurrou meu braço de leve, tentando arrancar uma reação de mim. Sem querer, um sorriso surgiu nos meus lábios, um sorriso tímido, quase forçado, mas que, de alguma forma, parecia a única resposta possível diante daquelas expectativas todas. Eu tentei esconder, mas ela já tinha percebido.
Ela sorriu de volta, como se tivesse conseguido alcançar algo que nem eu mesma sabia que estava guardado lá dentro. Eu não queria admitir, mas naquele momento, aquele pequeno gesto de carinho foi o que me trouxe de volta àquele lugar, mesmo que por um segundo.
Enquanto todos continuavam cantando, a sensação de desconforto em mim aumentava. Aquelas vozes alegres, tão cheias de entusiasmo, soavam como se estivessem em outro mundo, um mundo onde as coisas realmente estavam bem. Quando a música finalmente parou, minha mãe, com um sorriso forçado, me olhou e pediu suavemente:
— Apaga as velas, filha.
Eu apenas olhei para o bolo, tentando não parecer tão distante, e com um suspiro, inclinei-me para apagar a vela. Um pequeno gesto, mas que parecia significar tanto para todos ali.
Soprei a vela e, por um instante, fiquei olhando a fumaça subir, como se esperasse que algo, qualquer coisa, mudasse depois daquele sopro. Mas nada aconteceu. Eu ainda estava ali, e a realidade que eu queria fugir continuava me cercando.
Todos bateram palmas, aplaudindo animados. Minha mãe, com um sorriso exagerado, colocou um presente sob a mesa e me olhou, esperando ansiosamente.
— Vai, abre o presente, filha. — ela disse, com a voz doce, como se fosse um momento especial, como se fosse algo que eu estivesse esperando.
Eu olhei para o pacote, a embalagem colorida e o laço bonito. Suspirei, tentando me forçar a fingir alguma empolgação, e então puxei o laço, abrindo o presente lentamente.
Dentro da caixa maior, encontrei uma caixa menor, com um acabamento delicado. Minha curiosidade me impulsionou a abrir, e quando finalmente retirei a tampa, lá estava. Um colar. A corrente era fina, de prata, com um pequeno pingente.
Eu o segurei na mão, sem saber o que dizer. O colar era bem feito, com detalhes elegantes. Minha mãe observava com expectativa, esperando minha reação, mas eu só pude forçar um sorriso sem graça.
— É bonito, mãe. — disse. — Obrigada.
Valentina, vendo que era a vez dela, colocou o presente sobre a mesa com um sorriso travesso.
— Agora é a minha vez. — ela disse, com um brilho nos olhos.
Eu ri, tentando me soltar um pouco da tensão do momento, e abri o pacote. Dentro, encontrei um livro: O Pequeno Príncipe. Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto, mais pela surpresa do que pelo presente em si.
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Fearless
FanfictionConcluída Lavínia tem tudo o que sempre quis: uma família presente, riqueza e uma vida sem maiores preocupações. No entanto, sua busca por liberdade, algo que seus pais sempre lhe negaram, a faz se sentir presa em uma gaiola dourada. Em uma tentativ...