Lucas não sabia quanto tempo havia passado desde que a lanterna apagou, mas cada segundo parecia uma eternidade. Ele permaneceu em silêncio no sótão escuro, os olhos se esforçando para se acostumar à escuridão completa. O silêncio ao redor era opressor, mas ele sentia algo estranho – a sensação de que o sótão inteiro o observava, como se o próprio ambiente fosse uma criatura à espreita, esperando pelo menor movimento.
Então, um leve brilho surgiu através das frestas do piso de madeira. Um feixe fraco, vindo de algum lugar no andar de baixo. Lucas se aproximou da porta trancada e começou a bater nela desesperadamente. De repente, o trinco da porta cedeu com um estalo seco, abrindo-se como se nunca tivesse sido trancada.
Ao descer as escadas, Lucas percebeu que o brilho vinha de uma vela acesa, repousando sobre a mesa na sala de jantar. Ele não se lembrava de ter visto a vela ali antes e sentiu o coração apertar, como se estivesse sendo guiado para uma armadilha cuidadosamente montada. Mas a curiosidade o fez seguir em frente.
A luz tremulante da vela iluminava uma nova mensagem rabiscada em uma folha de papel, deixada no mesmo lugar onde ele encontrara o primeiro bilhete. Dessa vez, o papel estava ainda mais gasto, e as letras pareciam borradas, como se alguém o tivesse escrito em estado de pânico.
"Saia agora. Eles estão ao redor. Não olhe para trás. Não ouça as vozes. Eles sabem que você está aqui."
O aviso estava escrito na mesma caligrafia desleixada e frenética, mas algo parecia diferente. Ao segurar o bilhete, Lucas sentiu um frio intenso percorrer suas mãos, e por um momento, foi como se pudesse ouvir sussurros ecoando ao redor da sala, distantes, mas claramente presentes. Pareciam vozes misturadas, sobrepostas, algumas masculinas, outras femininas, mas todas carregando um tom de sofrimento e desespero.
Lucas deu um passo para trás, sentindo que deveria deixar a casa o mais rápido possível. No entanto, ao tentar se afastar, sentiu algo frio e invisível segurando seu pulso. Era como se mãos geladas o agarrassem, firmes, mas ao olhar para o braço, não havia nada ali. Ele tentou se soltar, mas a força invisível parecia resistir, mantendo-o preso.
A sensação o puxava, como se tentasse arrastá-lo para o corredor escuro que levava aos quartos, mas Lucas lutou, gritando e se debatendo contra a presença invisível. Ao fim de um momento de intensa resistência, ele conseguiu se soltar, cambaleando para trás. O silêncio voltou, mas ele sabia que aquilo não era uma ilusão. O medo queimava em sua mente, mas a necessidade de entender o que estava acontecendo ainda era mais forte.
Decidido a encontrar respostas, Lucas respirou fundo e pegou a vela da mesa, disposto a explorar o restante da casa e desvendar o mistério que parecia assombrá-la. Ele sabia que corria risco, mas estava determinado a descobrir a verdade sobre o que sua mãe enfrentara e o que a levara a deixar tantos avisos.
Enquanto caminhava pelos cômodos, algo chamou sua atenção: um livro antigo, com uma capa de couro desgastada, repousando sobre uma prateleira na sala. Ele nunca tinha visto aquele livro antes. A capa estava marcada com um símbolo estranho – um triângulo invertido com um olho no centro. Dentro dele, havia uma anotação na primeira página, escrita com a mesma caligrafia dos bilhetes:
"Os espíritos daquele ritual nunca partiram. A noite os revive. Eles nos observam, sempre além da meia-noite."
As palavras o atingiram como uma faca, e ele sentiu um frio ainda mais intenso preencher o ambiente. Os sussurros voltaram, desta vez mais próximos, e ao olhar para trás, ele percebeu que as sombras no corredor pareciam se mover, como se algo estivesse se aproximando lentamente.
Com o livro nas mãos, Lucas sentiu uma mistura de repulsa e curiosidade, como se algo nele resistisse à ideia de abrir as páginas, mas ao mesmo tempo, ele sentia uma necessidade incontrolável de entender o que aquele símbolo e aquelas anotações significavam. As palavras do bilhete ecoavam em sua mente: "Eles nos observam, sempre além da meia-noite."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas Assustadoras - Além da Meia-Noite
HorrorEm um mundo onde a escuridão esconde segredos inimagináveis, as horas após a meia-noite tornam-se o palco de histórias arrepiantes que desafiam a razão e exploram o medo mais profundo. "Crônicas Assustadoras: Além da Meia-Noite" é a primeira tempora...