O Último Sacrifício - Parte 03 (Final)

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Lucas voltou à casa da família com passos apressados e mente atormentada. O relógio na parede, que se arrastava em um ritmo quase zombeteiro, mostrava que faltava pouco para a meia-noite. Ele sabia que esse era o único momento em que poderia se conectar com o mundo sombrio que o perseguia e que, se conseguisse confrontar as entidades, talvez pudesse quebrar o pacto de sangue.

A casa parecia respirar ao redor dele, como se estivesse viva, as paredes vibrando em uma frequência quase inaudível. Os móveis antigos lançavam sombras retorcidas no chão, e as vigas de madeira rangiam como se alguém andasse no andar superior. Lucas evitou olhar para os espelhos enquanto caminhava, lembrando-se das advertências do diário: eram portais para os espíritos atravessarem ao bater da meia-noite.

Ele montou um pequeno círculo com velas ao redor de si no centro da sala, as chamas oscilando em tons pálidos e azulados, quase como se recebessem a presença dos espíritos. Em uma das mãos, segurava o diário, e na outra, uma das poucas fotos antigas de sua mãe, que parecia representar o elo final do pacto sombrio.

A tensão se intensificava, e as palavras do diário vinham à sua mente como um aviso perturbador:

"Ao invocar a verdade, traga um pedaço da sua vida, ou eles lhe tomarão por completo."

Lucas entendeu que a foto de sua mãe era o elemento simbólico necessário para convocar os espíritos e que precisava oferecer algo de si para obter respostas. Ele colocou a foto dentro do círculo de velas e murmurou uma oração improvisada, um apelo de que eles, finalmente, libertassem a ele e a sua família daquele fardo.

À medida que o relógio atingia a meia-noite, o ambiente ao seu redor começou a mudar. As paredes da sala tremularam como se feitas de sombras líquidas, e o reflexo nos espelhos ao redor da casa se distorceu, transformando-se em uma neblina escura e pulsante. As figuras sem rosto começaram a surgir ao redor de Lucas, como vultos que atravessavam o espaço entre os cômodos, sussurrando seu nome, chamando-o com um tom sombrio de possessão.

Cada figura repetia seu nome, até que uma voz mais profunda se destacou das outras, um tom frio e dominante que reverberou em cada parede da casa:

"Você carrega o fardo de sua família, Lucas. É a sua vez de cumprir o pacto. Está pronto para o preço?"

Lucas sentiu sua respiração prender enquanto aquela presença se materializava, lentamente assumindo a forma de um homem idoso, com um rosto coberto por uma máscara de madeira escura, seus olhos completamente negros e vazios. A figura se aproximou dele com um movimento calculado, carregando a aura de uma entidade ancestral, um espírito mais antigo do que qualquer história contada.

Sem desviar o olhar, Lucas perguntou com a voz trêmula, mas determinada: "Como posso quebrar o pacto? Quero liberdade para mim e para minha família!"

A figura inclinou a cabeça, e a máscara de madeira pareceu rachar levemente, revelando uma pele pálida e enrugada por baixo. "A liberdade exige uma troca, Lucas. Algo deve tomar o seu lugar. O que você está disposto a oferecer?" perguntou a entidade com um sorriso gelado.

Ele hesitou, tentando encontrar algo que pudesse dar em troca, mas sabia que nenhuma resposta seria fácil. Sentia que cada escolha custaria algo inestimável. Lucas percebeu que essa era a verdadeira essência da maldição: um ciclo interminável de sacrifícios para manter as entidades no outro lado do espelho, mas sempre à custa de uma nova alma.

O ar na sala ficou denso, e Lucas sentiu a presença de seus antepassados ao seu redor, como se a própria casa o estivesse observando, esperando sua decisão final.

Lucas permaneceu em silêncio, as palavras da entidade ecoando em sua mente como um pesadelo sem fim. A figura mascarada o fitava com expectativa, suas feições pálidas apenas parcialmente visíveis através da rachadura na máscara de madeira, como se revelassem uma fração de uma verdade há muito escondida.

Crônicas Assustadoras - Além da Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora