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Eu sempre soube que estava prometida a um homem. Passei minha infância e início da adolescência esperando pacientemente, sonhando acordada, desejando, ansiando pelo dia em que eu enfim seria entregue a meu tão estimado príncipe.

Berilo era, de fato, um príncipe, mas não sabia muito bem sobre essa parte de ser "estimado". Por boa parte da minha vida, com certeza ele foi estimado por mim — e muito! Ao longo de 15 anos, nutri uma paixão platônica — mas que eu tinha a esperança de se tornar real, considerando que eu era sua noiva — pelo herdeiro do trono de Cordilheiras.

Nos últimos cinco anos, contudo, as coisas mudaram um pouco...

— Sua Alteza Real, Princesa Jade Prairie, do Reino de Prados. — A voz do arauto me anunciou, tirando-me de devaneios inúteis e trazendo-me de volta ao que eu precisava fazer naquele momento.

Logo depois, as portas do salão foram abertas e uma multidão de rostos voltou-se em minha direção.

Respirei fundo discretamente e entrei no papel a mim estipulado. Endireitei ainda mais a postura, ajeitei pela última vez o elástico da minha luva logo acima do cotovelo — mesmo que já estivesse no lugar — e mantive uma expressão serena em meu rosto. Era hora do espetáculo.

Jade sai e Sua Alteza Real entra.

Desci a opulenta escadaria que me conduziu até o centro do salão. Todos pararam para assistir à minha entrada, afinal, quem não se interessaria pela família real — por todas as três —, certo?

Cumprimentei com um breve sorriso todos à minha volta conforme andava pelo ambiente, deixando no meu rastro uma porção de reverências.

Cheguei ao canto mais afastado e mais majestoso do local, em que se encontravam o rei Ametrino, soberano de Enseadas, assentado sobre seu trono de areia rebuscado e, ao seu lado, em um trono um pouco menos exuberante, mas igualmente de areia, sua esposa, a rainha Cianita.

Curvei-me perante o rei e a rainha com graciosidade e disse em meu tom de soprano delicado:

— Vossas Majestades.

A rainha assentiu para mim exibindo um pequeno sorriso e o rei mexeu os dedos com certo descaso, indicando que eu podia retornar à minha postura ereta. Assim que o fiz, o rei disse:

— Princesa Jade, que grande honra recebê-la em nosso reino...

— A alegria e a honra são minhas. — Sorri com polidez. — Que grande privilégio ter sido convidada para o baile de sua tão estimada filha.

Por incrível que pareça, fui sincera em cada uma dessas palavras. Sempre achei a princesa Esmeralda uma fofa, o que era raro no meio da nobreza.

Além disso, alguém da minha família precisava vir e, como Enseadas era o reino de menor importância da Talineia, nem meus pais nem meu irmão mais velho, herdeiro do trono de Prados, quiseram se dar ao trabalho de se deslocarem até aqui apenas para o aniversário de uma "pirralha que entraria no mercado casamenteiro agora" (palavras do meu irmão).

— É muita bondade sua, doce princesa Jade. — A Rainha Cianita disse, aparentando um real afeto por mim; mas, tratando-se da realeza, não se pode confiar em ninguém.

O rei Ametrino assentiu e falou com um sorriso torto:

— De fato, é uma grande bondade sua fazer tamanho esforço para visitar nosso humilde território.

Acostumada às alfinetadas travestidas de gentileza, tão próprias dos nobres, meu sorriso doce nem sequer se abalou. Apenas fiz outra reverência, como se a provocação tivesse passado despercebida por mim, e disse mais uma vez:

Aliança de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora