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Menos de um mês após o aniversário de Esmeralda, minha mãe me cumprimentou, quando cheguei para tomar café da manhã, com a seguinte informação:

— Em dez dias, receberemos uma comitiva de Rabile aqui no Palácio de Filito e devemos iniciar imediatamente os preparativos.

Assenti com um rosto impassível encobrindo meu sobressalto.

Por que uma Comitiva de Rabile estava vindo para a Talineia? E por que tão de repente? Será que tinha alguma relação com o código que o Grande Rei passou para o meu pai...?

Eu já vinha ruminando essas letras há um mês, mas ainda não havia chegado a nenhuma conclusão sobre seu significado.

Quis fazer essas e outras perguntas que surgiram assim que minha mãe fez seu anúncio, mas me limitei a dizer apenas:

— Claro, mãe. O que a senhora quer que eu faça?

Diferentemente do meu pai, minha mãe não se importava que eu a chamasse de "mãe" nem exigia que eu a tratasse apenas por "Vossa Majestade" ou "minha Rainha".

— Seria de grande utilidade se você se responsabilizasse pela distribuição dos convidados pelas mesas. Precisamos ser estratégicos, nem misturar demais, para não gerar discussões, nem de menos, para não ofendermos ninguém. Se colocarmos as pessoas erradas juntas, teremos guerra com Rabile. Mas, se não botarmos os rabilenos com nenhum dos nossos, também teremos guerra, pois será uma grande ofensa. — Eu já sabia de todos esses dilemas diplomáticos, é claro, porém não disse nada. — Mas vamos primeiro tomar nosso desjejum, depois seguimos para a sala de reuniões e eu te passo mais detalhes.

— Como quiser. Estou à sua disposição.

Minha mãe me lançou um sorriso ao mesmo tempo carinhoso e tenso.

— Muito obrigada, querida. Você é sempre muito solícita, não sei como vou fazer depois que você partir para o Palácio de Arcóseo.

Se eu fosse você, não me preocuparia com isso, mamãe. Ao que tudo indica, Berilo está com ainda menos pressa que eu para nos casarmos.

— Decerto ainda poderei te ajudar eventualmente quando me mudar para o palácio do Grande Rei. — Sorri.

— Oh, certamente que não, minha querida! Quando isso acontecer, você estará ocupada com suas próprias responsabilidades de Grande Rainha. Não ousaria te incomodar com algo tão pequeno e que sou perfeitamente capaz de resolver por mim mesma.

Se ela era capaz de resolver sozinha, não haveria motivo para ela se preocupar com minha eventual partida, mas não foi realmente isso que atraiu minha atenção.

As palavras "Grande Rainha" ficaram ressoando em minha mente. Apesar de ter passado minha vida inteira sendo preparada para isso, muitas vezes me esquecia de que não iria simplesmente me casar com Berilo. Eu iria me casar com uma função. Seria a esposa do Grande Rei, o que me tornaria, por consequência, a Grande Rainha, aquela sobre quem repousavam as maiores expectativas de todo o povo talineu, ficando atrás apenas do próprio Grande Rei.

Respirei fundo.

Não há necessidade para se preocupar com isso agora, Jade. Quando o momento chegar, você lida com o que for necessário. Por ora, basta gastar sua energia com os problemas que você enfrenta hoje.

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Ao longo dos meus 20 anos de vida, eu estive de verdade com Berilo em apenas quatro momentos. "De verdade", porque eu já o vi bem mais do que isso — nos Acoplanários, em eventos oficiais de toda a Talineia, em bailes da nobreza, em eventos da realeza... mas em nenhum desses momentos nós interagimos um com outro. Em nenhum deles Berilo sequer se dignou a dirigir a mim mais do que uma saudação polida, como se eu fosse apenas mais uma convidada qualquer, e não sua noiva.

Aliança de PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora