Capítulo 5: Ferrões no Ninho

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As ruas de Piltover exalam uma frieza que faz meu sangue fervilhar. Tudo parece limpo, reluzente, tão diferente da sujeira de Zaun. Os becos são imaculados, as luzes brilhantes como se a cidade quisesse afastar qualquer sombra que se atrevesse a entrar. Mas não me engano. Essa perfeição polida é apenas uma camada que cobre o veneno deles. E é esse veneno que estou aqui para arrancar pela raiz.

Ekko anda alguns passos à minha frente, ágil e confiante, suas botas quase não fazem som nas passagens de metal e pedra. Ele é astuto, o tipo de pessoa que todos querem seguir. E, embora eu nunca admitisse, há algo nele que me atrai - a intensidade, a determinação, o modo como carrega o peso de Zaun sem hesitar.

Passamos por uma rua estreita, e ele olha por cima do ombro, apenas para checar se estou atrás. Não preciso de instruções. Estou aqui para fazer o que sei, do meu jeito. Mas não posso negar que confiei nele quando concordei com esse plano de invadir Piltover. Quando ele me disse que havia uma chance de descobrirmos o tal plano de "purificação de Zaun", segui sem questionar. Mas a cada passo, a cada olhar de Ekko que desvia do meu, a dúvida cresce. Ele está escondendo alguma coisa.

Chegamos à entrada do laboratório. Não há placas nem sinais, apenas uma porta de metal simples e discreta, escondida na lateral de um edifício mais imponente. Ekko saca um dispositivo do bolso, conectando-o ao painel ao lado da porta. Observo enquanto ele trabalha, o olhar concentrado, os dedos rápidos. A porta finalmente se abre com um rangido, revelando o interior estéril e vazio.

O laboratório é iluminado por luzes fluorescentes, que lançam um brilho frio e impessoal em todo o ambiente. As paredes são de um branco opressor, quase cegante. O cheiro de desinfetante químico me invade as narinas. Armários de metal, mesas organizadas com instrumentos científicos, tudo cuidadosamente disposto. Mas há algo errado. Olho ao redor, mas não vejo nada que remeta a planos de erradicação. Nada que mostre que estamos no lugar certo.

- Ekko - minha voz sai mais dura do que eu pretendia. - Onde estão as provas? Cadê o que você disse que encontraríamos?

Ele se vira, o cenho franzido, os olhos varrendo a sala como se esperasse que a resposta fosse aparecer de repente. Mas a expressão dele não me convence. Há incerteza ali. Ele quer acreditar que temos tudo sob controle, mas eu sei quando alguém está tentando sustentar uma farsa.

- Esse lugar deveria ter... alguma coisa - ele murmura, olhando ao redor.

- "Deveria"? - repito, sentindo a frustração borbulhar. - Você sequer tem certeza se esse é o lugar? Acha que vamos salvar Zaun com achismos?

Ele solta um suspiro pesado e vira para mim, os olhos brilhando de raiva contida.

- Nádila, escuta. Essa era a nossa melhor chance. Piltover não deixa documentos importantes à vista. Eles escondem as coisas em camadas, protegem com segurança máxima, mas eu achei que... - ele para, como se as palavras fugissem por um segundo. - Eu achei que aqui era o lugar certo.

- Achou errado. E eu não sou sua seguidora cega. Se você achou que eu ficaria só andando atrás de você esperando respostas, errou feio.

Ele respira fundo, a tensão evidente. Em questão de segundos, ele me encara com um olhar afiado e avança para mais perto.

- Você acha que eu não quero proteger Zaun tanto quanto você? Acha que eu arriscaria minha vida aqui sem saber o que estou fazendo?

O corpo dele está a um palmo do meu, mas não dou um passo atrás. Em vez disso, meu instinto me toma. Eu giro o corpo e avanço contra ele com um golpe rápido. Ele desvia, mas não hesita em reagir. Ele bloqueia o meu ataque, e sinto a força dele, a precisão em cada movimento.

- Não me trata como uma das suas crianças, Ekko! - murmuro entre os dentes, minha voz baixa e afiada.

Ele me empurra para trás, e nossos corpos circulam pela sala em um balé de golpes e defesas. Eu me movo com fluidez, atacando com golpes certeiros, enquanto ele responde com a velocidade de alguém que conhece bem o combate. Sou obrigada a reconhecer - ele é bom, melhor do que imaginei. A cada golpe, sinto a raiva queimando dentro de mim, uma chama que não consigo apagar.

- E você acha que fazer tudo sozinha vai mudar alguma coisa? - ele rebate, desviando de um soco que quase acerta o rosto dele.

No calor da troca de golpes, mal notamos o alarme disparando. Um som agudo invade o laboratório, pulsando como um aviso de que fomos descobertos. Paro de lutar e encaro Ekko, o peito subindo e descendo enquanto o barulho ecoa. Ele solta os punhos, olhando para mim com uma expressão que beira o alívio.

- Você... fez isso de propósito? - pergunto, sentindo a incredulidade se misturar à raiva.

Ele me encara por um segundo, e então murmura:

- Precisávamos de ajuda. E eu sabia que só conseguiríamos isso se chamássemos atenção.

Sinto uma onda de confusão, mas antes que eu possa responder, passos pesados ecoam pelo corredor. Duas figuras surgem, movendo-se com precisão e força. Uma delas tem um par de luvas de combate imensas, quase como armas por si só. A outra está com um rifle apontado, os olhos frios e calculistas.

Vi e Caitlyn. As defensoras de Piltover.

Vi olha para mim, então para Ekko, e os olhos dela se estreitam. Caitlyn ajusta o rifle, mas ainda espera por um comando.

Ekko dá um meio sorriso, algo entre o alívio e a tensão, e ergue as mãos em um gesto de rendição.

- Precisamos conversar - ele diz, o olhar fixo em Vi. - Se você algo dentro de você ainda se lembra de Zaun... mais do que nunca ela precisa de você.

Nádila e o eco dos condenadosOnde histórias criam vida. Descubra agora