O som da água caindo enchia o banheiro, abafando todos os ruídos do mundo externo e proporcionando a Kazumi um raro momento de calma. Ela havia decidido manter-se longe das ruas e se resguardar por alguns dias, se recuperando das feridas e tentando não atrair atenção. Três dias desde o incidente no DeepLab, e agora ela estava mais focada, mais cuidadosa. Precisava que seus passos seguintes fossem calculados.
A água quente escorria por suas costas, e Kazumi sentia o calor relaxando seus músculos tensos, aliviando a dor dos hematomas que ainda marcavam sua pele. Observou as cicatrizes espalhadas por seu corpo, cada uma contando uma parte de sua história. Algumas antigas, de Kamagasaki, de um tempo que ela mal conseguia recordar. Outras, marcas do cativeiro, os resquícios cruéis daquilo que tentaram apagar de sua memória. E as mais recentes, lembranças de seu treinamento sob a tutela de Raphael e Nicholas, cada uma um lembrete das lições que moldaram quem ela era, agora havia novos ferimentos, arranhões e cortes profundos e um corte no corpo que poderia se tornar outra cicatriz, uma marca do confronto no DeepLab. Kazumi sabia que essas marcas eram inevitáveis, quase como uma assinatura de sua nova vida. A água quente amenizava a dor física, mas trazia à tona o cansaço emocional, relembrando-a do peso das decisões e da intensidade de seu caminho. Por fim, desligou o chuveiro e enrolou-se em uma toalha. O vapor tomava o ambiente enquanto ela respirava fundo, sentindo-se um pouco mais leve. Kazumi se olhou no espelho e por um instante, viu-se como uma figura desconhecida: olhos sérios, cabelos escuros e molhados caindo sobre o rosto. Era difícil pensar na pessoa que ela havia sido e naquela que estava se tornando, de até quando ela pode se reconhecer como ela mesma.
Ao voltar ao quarto, sentiu uma determinação nova. A parede ao lado da cama exibia um mural improvisado, onde ela havia fixado todas as informações que havia conseguido reunir até agora. Fotografias, nomes, e pequenas anotações em papel formavam um mosaico que traçava o fio de sua missão. No centro, o nome de Daniel Sinns e, ao lado, de Antony Reglan. Aquele mural era um mapa do labirinto que ela precisava atravessar.
Kazumi estava com sentimento de alerta desde que acordou Estava em uma cidade que a conhecia menos do que gostaria, mas que talvez já soubesse mais dela do que seria seguro. Seu nome e rosto não estavam nos jornais, mas as notícias sobre a invasão na DeepLab e as mortes associadas àquela noite eram destaque em quase todos os canais locais. Sair em público era um risco que precisava calcular bem, mas depois de três dias escondida, o isolamento e a fome a empurravam para fora, em frente ao pequeno espelho do banheiro, ela aplicou uma camada de maquiagem para suavizar os hematomas que ainda cobriam seu rosto e pescoço. Vestiu uma jaqueta de tamanho suficiente pra oculta as bandagens nos braços e as ataduras dos cortes recentes. Antes de sair, guardou a máscara no bolso, mesmo que estivesse habituada a usá-la, ela não queria correr o risco de ser associada a qualquer descrição que alguém pudesse ter repassado à polícia ou aos jornais. Ela olhou para o próprio reflexo, ajustando a franja para cobrir levemente de canto os olhos, quase como uma cortina que fazia parte de sua feição, ela gostava e se sentia confortavel com sua franja sem seu rosto, prendeu o restante do cabelo em um coque discreto e deu uma última olhada ao redor do quarto, certificando-se de que o mural com as informações sobre os alvos estava bem escondido.
Saindo pelas ruas de Hopebullet, Kazumi manteve a cabeça baixa, mas os olhos atentos. Cada esquina era potencialmente arriscada, mas o cheiro de café fresco vindo da cafeteria da esquina a atraiu. Passou pela entrada e se acomodou num canto, onde podia observar o movimento sem ser vista, quando o garçom se aproximou, pediu um café e uma refeição rápida, algo que a sustentasse sem chamar atenção. Ao levar o primeiro gole amargo aos lábios, lembranças da noite da invasão tentaram surgir, mas ela as afastou com um novo gole. Olhou ao redor da cafeteria, absorvendo as conversas e estudando as pessoas. Na tela de um televisor próximo ao balcão, uma reportagem começava a passar sobre o incidente no DeepLab. Kazumi abaixou o olhar, concentrando-se em parecer uma cliente qualquer, enquanto o narrador da matéria repetia o que a cidade já temia, havia sido um ataque inesperado e calculado.
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Kazumi: Bite me
SonstigesPra fugir de sua infancia traumática Kazumi decide ser acolhida por mercenarios, após anos de treinamento ela terá que lidar sozinha com seu primeiro trabalho como mercenária em uma cidade nova, e terá que descobrir se realmente consegue aguentar a...