Kazumi aos 11 anos estava sentada sozinha na última fileira da sala, o olhar distante enquanto ouvia os murmúrios dos colegas. Mesmo no calor das atividades e risadas ao redor, ela parecia fora de lugar. Ainda desconfortavel com seu cabelo mais curto em cavalo, mesmo com sua franja que era o suficiente para encobrir parte superior do rosto, que ela tentava manter escondido. Lembrava-se bem das ruas, havia algo em seu jeito de olhar, em sua expressão quieta, que ainda a ligava àquela vida, modo como se encolhia e se movia em silêncio denunciava sua inquetude a qualquer um que soubesse o que procurar. E ela sabia que os colegas percebiam, mesmo que não soubessem o que de fato se passa com ela. Eles a evitavam, olhavam de longe com certo desdém talvez, ou às vezes com uma curiosidade mal disfarçada. Kazumi ignorava as trocas de olhares, preferindo afundar-se em seus próprios pensamentos. Sabia que havia outras crianças ali que nunca entenderiam, sem segurança, presa numa bolha, as vezes sentindo a atenção faz sentir falta de ser "invisivel" para ela.
Kazumi está sentada sozinha quando três garotas se aproximam, lançando olhares curiosos e quase provocadores. Uma delas pergunta diretamente:
- É verdade que você mora com um estrangeiro? Um americano de olhos dourados?
Kazumi sente o rosto esquentar e olha para o chão, sem saber o que responder, incomodada com o tom das garotas. Ela começa a hesitar, sem saber como reagir, quando Nicholas aos seus 15 aparece e percebendo a situação se aproxima.
- Oi, meninas! Algum problema? - pergunta ele, com um tom leve que imediatamente quebra a tensão.
As garotas, surpresas, trocam olhares entre si e murmuram desculpas, lançando olhares furtivos para Nicholas antes de se afastarem envergonhadas. Ele então volta-se para Kazumi e dá um sorriso encorajador.
- Não se preocupe, Kazumi - diz ele com calma. - Elas logo esquecem disso. Vamos.
Ela assente, aliviada, e juntos caminham para longe. Na presença de Nicholas, Kazumi sente um pouco do peso da solidão diminuir, ajudando-a a esquecer, pelo menos por um momento, o incômodo de sempre ser vista como diferente. Enquanto caminham juntos pelos corredores, Kazumi permanece em silêncio, sentindo um misto de alívio e desconforto. Nicholas, percebendo o humor dela, a olha com uma expressão tranquila.
- Não precisa se importar tanto com o que eles falam, Kazumi. - Ele parece escolher as palavras com cuidado. - É normal se sentirem curiosos, mas logo vão parar de implicar com você.
Ela baixa o olhar, pensativa. Desde que saiu das ruas, estar ali ainda lhe parecia algo surreal e quase desconfortável, como se ela estivesse apenas tentando ocupar um lugar que não era seu.
- Eu só... - ela murmura, as palavras saindo baixas. - Eu só não entendo por que eles olham pra mim desse jeito.
Nicholas faz uma pausa, observando-a com atenção antes de responder:
- Talvez seja porque você é forte, mais do que eles podem entender. Você teve que viver de um jeito que nenhum deles conhece. E isso as assusta um pouco.
Ela ergue os olhos, estudando a expressão dele, e Nicholas sorri, um sorriso que parece cheio de compreensão.
- Se precisar de alguém pra ficar ao seu lado - ele continua, agora com um tom leve - sabe onde me encontrar. Ninguém mexe com você quando eu estou por perto, certo?
Kazumi dá um leve sorriso, tímido, quase imperceptível, mas que deixa um pouco de sua frieza habitual para trás.
- Certo. Obrigada... acho... - responde ela, com um leve toque de insegurança.
Os dois seguem o caminho, e Kazumi sente, pela primeira vez em muito tempo, que talvez possa encontrar um espaço para si, uma pequena abertura nesse novo mundo. Mesmo que ainda existam olhares julgadores e sussurros, ela sabia que não estava totalmente sozinha.
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Kazumi: Bite me
LosowePra fugir de sua infancia traumática Kazumi decide ser acolhida por mercenarios, após anos de treinamento ela terá que lidar sozinha com seu primeiro trabalho como mercenária em uma cidade nova, e terá que descobrir se realmente consegue aguentar a...