Dressed In Black

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 Kazumi com apenas 13 anos, exibia um olhar concentrado e firme em um dojo silencioso, uma intensidade que não combinava com a fragilidade aparente de seus ombros juvenis. Ela estava em posição de combate, pés bem plantados no chão, o corpo em tensão. O frio da manhã tocava sua pele exposta, mas ela mal parecia notar, perdida no exercício e na respiração controlada que ecoava pelo espaço ao redor.

 Uma mulher mais velha, sua mentora, observava atentamente. Seu olhar era rígido e inexpressivo, uma máscara indecifrável que nunca deixava transparecer se estava satisfeita ou não com o progresso de Kazumi. Ela andava ao redor da garota, avaliando cada mínimo movimento, enquanto Kazumi executava golpes repetitivos com a precisão de uma máquina. Seus punhos, pequenos mas rápidos, cortavam o ar com uma força que vinha de dentro, de algo que ela própria mal entendia, mas que usava como combustível.

– Mais rápido, Kazumi! – a voz grave da mentora soou seca e firme. – Você precisa ser rápida como o vento e forte como o aço. A fraqueza não é uma opção.

 Kazumi respirou fundo e intensificou os golpes, sentindo os músculos dos braços e das pernas queimarem. O suor escorria pelo rosto, mas ela mantinha o foco, cada golpe mais certeiro, como se estivesse moldando algo invisível, algo que ela ainda não sabia, mas que a levaria além. O cansaço a atormentava, mas ela sabia que parar significava enfrentar o desdém da mentora, e, mais ainda, o sentimento de fracasso que ela não suportava. Ela já sabia, desde cedo, que falhar não era permitido. De tempos em tempos, a mentora ajustava sua postura, corrigia a posição dos pés ou o ângulo dos ombros, apertando o dedo no local como para cravar aquela lição na pele. Kazumi mal reagia, acostumada com a disciplina rígida, com a dor que, para ela, tornava-se um tipo de linguagem.

Depois de quase uma hora de repetição constante, sua mentora trouxe uma nova instrução.

– Pegue a lâmina, Kazumi.

 Ela parou apenas por um instante, o tempo de inspirar e abaixar as mãos. Em seguida, caminhou até a parede onde um conjunto de pequenas lâminas estava disposto, cada uma fria e reluzente como se a espera dela fosse uma parte do próprio treinamento. Kazumi agarrou uma das lâminas, sentindo o peso que se tornava familiar em suas mãos.

– Você sabe o que fazer – a mentora disse, observando-a com a severidade que lhe era comum. – Mas hoje, quero que imagine algo. Quero que veja um alvo, que imagine uma ameaça real. Não apenas um exercício.

 Kazumi respirou fundo, fechando os olhos para enxergar, no vazio da mente, um inimigo invisível. E então ela o viu, uma imagem construída daquilo que ela temia e odiava, algo que a deixava acordada à noite e a fazia tremer. Ela abriu os olhos, fixos em um ponto distante, e lançou a lâmina com precisão, atingindo o alvo imaginário com uma destreza que parecia sobrenatural para uma criança de sua idade.

A mentora cruzou os braços satisfeita.

– Mais uma vez.

Kazumi repetiu, e depois repetiu novamente, cada movimento carregando um pouco mais de força, um pouco mais de intenção. Ela sabia que aquele treinamento era parte de algo maior, um propósito que ela ainda não compreendia, mas ao qual já estava entregue.

Ao final do exercício, seus braços estavam exaustos, mas seu olhar era mais firme. Ela sabia que precisava ser implacável, que aquela era a única maneira de sobreviver e, talvez de encontrar algo que ela ainda não sabia o que era, mas que a movia noite e dia, no silêncio do dojo, com a mentora ainda a observando, ela ajeitou a postura e preparou-se para o próximo desafio. Sabia que não haveria descanso, pois a força que ela buscava não se fazia com palavras, ela se fazia com cada golpe

Kazumi: Bite meOnde histórias criam vida. Descubra agora