O Despertar das Almas

CAPÍTULO 01

NOVA CHEGADA
olhares

   O vento uivava nas colinas, carregando consigo uma neblina densa que parecia envolver toda a cidade, como uma proteção divina. Yoongi observava pela janela do carro em movimento as casas cinzentas e antigas que surgiam ao longo da estrada. O cenário não era o mais atraente, as ruas pareciam não levar a lugar algum, e havia uma sensação constante de isolamento. Com certeza era um lugar na qual apenas os habitantes queriam estar e estranhos ocasionalmente exploravam.

Quando Yoongi passou pelo portal de pedra que demarcava a entrada, sentiu uma mudança no ar — um peso, quase físico, que o fez se endireitar no banco do carro. Aquilo o atingiu de maneira inexplicável, uma pressão invisível que pressionava seus ombros. Ele suspirou, os olhos inquietos analisando cada detalhe do lugar que, a partir daquele dia, seria seu lar temporário. Ele seria um dos estranhos a explorar aquele lugar envolto em mistérios, mas um sentimento dentro de si lhe dizia que não seria tão fácil quanto poderia parecer.

O carro, aos poucos, diminuiu a velocidade, parando em frente a uma hospedaria, sua fachada era feita de uma madeira escurecida pelo tempo, lhe dando uma aparência antiga, mas, ainda sim, bem conservada. Segundo as informações que conseguiu, aquele era o único lugar na cidade disponível para abrigar visitantes — ou pelo menos, os raros visitantes que ousaram cruzar os limites daquela cidade esquecida. O fato dela ser a única reforçava o quão rara eram os novos rostos naquele lugar.

Deixou o carro, junto ao motorista que o ajudou a retirar sua bagagem. Assim que a proteção metálica do veículo deixou de o proteger, foi envolvido por um silêncio quase absoluto. O barulho do motor parecia soar mais longe do que deveria. A cidade era mergulhada em uma tranquilidade sinistra, como se segurasse o fôlego.

Continuou parado na calçada, observando o táxi ir embora, as casas e os poucos comércios em volta. Se aproximou da entrada da hospedaria. A porta de madeira imediatamente rangeu quando a abriu, deixando o interior tão — ou mais — escuro que o lado de fora. Lá dentro era quente e abafado, a temperatura era mantida por uma lareira ao canto, a única fonte de luz. O ar cheirava a madeira e chá de camomila.

— Olá? — Yoongi soltou aos ventos, esperando que alguém aparecesse.

— Você deve ser o antropólogo. — Uma voz feminina e rouca veio de um cômodo superior, que era ligado por dois lances de escada.

Yoongi ergueu o olhar ao mesmo tempo em que a silhueta de uma mulher de cabelos cinzentos — assim como o tempo lá fora — amarrado em um coque apertado e expressão rígida surgiu no topo da escada forrada por um tecido escuro. Ela o avaliou friamente, sem qualquer traço de afinidade.

— Min Yoongi. — Se apresentou com um tom casual e um sorriso amigável. — Estou aqui para a pesquisa. Já fiz a reserva...

— Eu sei quem você é. — A mulher o cortou, terminando de descer as escadas indo para trás do balcão de madeira.

Yoongi se aproximou, sentindo o ar cada vez mais gelado enquanto a mulher anotava alguma coisa em um caderno e, casualmente, lhe lançava olhares. No entanto, sua atenção foi roubada pelo quadro empoeirado atrás dela. Mesmo com a camada sutil de pó, podia ver a silhueta ameaçadora do castelo no topo de uma colina, destacando-se contra o céu nublado. Piscou quando a senhora estalou os dedos na frente de seu rosto e franziu ainda mais o rosto, deixando mais evidente suas linhas de expressão.

— Seu recibo. — Empurrou a folha pequena e uma chave velha com número do quarto sobre o balcão e apontou com a caneta. — Segundo andar. Não incomode ninguém.

Ele assentiu, pegando a chave e o papel. Enquanto subia, escutava a madeira rangendo, a cada passo ele sentia um olhar queimar em suas costas. Já no topo da escada, ousou olhar para baixo e viu a mulher lhe encarando, mas voltando para a entrada da pousada. Desde que entrou ali, ela o olhava com desconfiança , como se ele fosse uma ameaça, ou pior, um intruso indesejado. Deu de ombros e voltou para seu caminho.