CAPÍTULO 02

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ALÉM DO LIMITE
pertinência

   O amanhecer trouxe com ele uma névoa espessa, que parecia não querer dissipar. Min Yoongi abriu os olhos com a mesma sensação de desconforto que o acompanhava desde que pisara naquela cidade. O sonho da noite anterior ainda estava vivo em sua mente, como uma assombração que se recusava a partir. Ele podia ver o castelo no alto das colinas, as portas negras que se abriam como um convite irresistível. Mas havia algo mais, algo no fundo daquelas visões que ele não conseguia identificar, uma presença oculta e poderosa que o chamava.

Sacudindo o sono, ele se levantou e olhou pela janela do pequeno quarto da hospedaria. A praça central estava quase deserta, exceto por alguns aldeões que se moviam lentamente, como sombras silenciosas. O castelo, visível à distância, parecia ainda mais ameaçador sob a névoa densa. Mesmo de longe, sua silhueta imponente dominava o horizonte, como se estivesse sempre vigiando a cidade abaixo. Era estranho que um lugar tão antigo e grandioso tivesse sido deixado em completo abandono.

No entanto, pelos rostos dos aldeões, Yoongi compreendia que não se tratava apenas de negligência ou desinteresse. Havia medo. Um medo silencioso que pairava no ar, impregnando cada parte daquela cidade.

Depois de um café da manhã solitário na sala escura da hospedaria, Yoongi decidiu sair mais uma vez. Ele sabia que os moradores não seriam fáceis de lidar, mas não tinha muito tempo a perder. Algo naquela cidade exigia respostas, e ele não estava ali apenas para novas descobertas.

Havia uma inquietação crescente dentro dele, como se estivesse destinado a descobrir algo maior do que as simples mortes sem explicações.

A pousada estava silenciosa, desceu cuidadosamente as escadas. Pela janela, viu a dona do lugar no lado de fora bordando alguns tecidos e conversando com alguns moradores vizinhos. Se aproximou sorrateiramente da porta, o suficiente para escutar o que diziam.

— Já se passou muito tempo desde a última vez, não podemos evitar.  — Uma mulher falou, com a voz calma, mas que carregava algum tipo de preocupação.

— Você viu o tempo? O monstro já deve estar ansioso para uma próxima alma. As nuvens estão mais densas. — Alertou o homem ao lado dela, apontando para o céu.

— Temos que falar com o chefe da cidade, ele não pode demorar muito dessa vez. — Foi a vez da dona da hospedaria contribuir para a conversa.

Para Yoongi, eles pareciam estar falando em códigos. Seu cérebro analisou apenas as partes que achou serem importantes: existia algum tipo de monstro no castelo da colina e o chefe da cidade tinha que decidir alguma coisa importante. Mas… O que ele tinha que decidir?

Abriu a porta e de repente os três ficaram em silêncio. Acenou com a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos do casaco verde que vestia. Passou por eles sem dizer nada, sabia que não seria respondido, havia aprendido muito rápido como as coisas funcionavam ali.

Caminhando pelas ruas , ele percebeu que os olhares dos aldeões o seguiam. Ninguém se aproximava ou dizia uma palavra, mas o incômodo era palpável. Yoongi os via murmurando entre si, gestos rápidos e olhares de desdém sempre que ele passava. Era como se sua presença fosse uma ameaça, algo que eles preferiam ignorar, mas que não podiam evitar. Não era apenas a recepção fria, era algo que ele precisava entender.

Ele seguiu até a loja de ervas onde esteve no dia anterior, esperando que a senhora que o atendeu pudesse contar mais sobre o lugar. Quando entrou, o sino da porta soou de maneira estranhamente alta, ecoando pelo pequeno espaço abafado. A velha estava em um lugar diferente, sentada atrás do balcão, mexendo em um amontoado de ervas secas sobre uma pequena mesa.

O Despertar das AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora