— Eu vou embora. Com meus pais. Pro Japão.
É claro que isso não tinha como ser sério. Mas a cara do Jungkook não era de quem estava brincando. Senti como se eu tivesse levado um soco no peito, e minha respiração falhou. E meus olhos inundaram de lágrimas em menos de um segundo. Acho que isso nunca acontecera comigo antes.
Me levantei, desgrudando meu braço do Jungkook, e saí o mais rápido que pude, antes que ele me visse chorar e isso piorasse ainda mais as coisas. Entrei na casa e a porta bateu atrás de mim em um estrondo, me assustando.
Corri para o meu quarto e me fechei lá dentro. Não demorou para a minha mãe chegar e falar comigo através da porta:
— Filho, tá tudo bem?
Engasguei. Não queria falar com ela.
— Sim, tá tudo bem. Só vim… pegar uma coisa para mostrar pro Jungkook. — Minha esperança era de que ela acreditasse e saísse logo.
Sentei na cama quando ouvi os passos dela se afastando e me deitei. Minha cabeça acertou algo bem mais duro que meu travesseiro. Era a mochila do Jungkook.
Senti uma pontada no coração, peguei a mochila no colo e parei para pensar. Como assim os pais do Jungkook iriam se mudar? E ele iria junto?
Eu os vira na noite anterior, e tudo parecia normal: as piadinhas, a mesma educação, simplicidade e simpatia de sempre. E agora eles iam se mudar? Assim, do nada? Como alguém que sempre esteve aqui simplesmente se vai?
A Minji e o Junseo são como meus tios, embora o Jungkook seja bem mais que um primo. Ele é meu melhor amigo. Na verdade, é mais que isso. O que existe entre a gente não é muito classificável nos termos normais, mas eu nunca pensara nisso. Nunca pensara no que, de fato, o Jungkook significa para mim.
Meu coração se encolheu e, então, lembrei que ele continuava na jabuticabeira.
Me levantei e sequei as lágrimas dos olhos. Em seguida, abri a porta devagar, conferindo se minha mãe não estava mesmo por ali. Assim que confirmei, saí correndo pela cozinha até o quintal, e ele estava lá, do mesmo jeito de quando saí, uns dez minutos antes. Fiz questão de pisar em todas as folhas secas do chão, para que o Jungkook percebesse que eu vinha vindo. Mesmo assim ele não se virou para mim.
Eu me sentei de novo ao lado dele sem conseguir encará-lo. Encostei meu braço no dele, do mesmo jeito que estávamos antes, e o Jungkook pareceu sorrir. Mas não que ele estivesse feliz.
— Como assim você vai embora? — perguntei, depois de um tempo em silêncio, mesmo com muito medo da resposta.
— Pois é, eu vou. Meus pais me contaram tudo ontem, logo depois que você foi embora.
— E o que eles falaram?
— O que você pode imaginar… Que a proposta é irrecusável… Que a qualidade de vida lá é melhor, que vou me adaptar rápido… E que provavelmente vou gostar mais de lá do que daqui e que em breve nem vou mais me lembrar da Coreia. Que o japonês não é difícil, já que eu sou rápido para aprender coisas novas… E disseram que poderei vir para cá com certa frequência para visitar você, e você também poderá ir para lá. Essas coisas…
— Isso faz algum sentido?
— Eles afirmam que sim. Só não sei se faz algum sentido para mim.
Pelo seu tom de voz, Jungkook pareceu, assim como eu, tentar assimilar aquilo tudo.
Só aí olhei para ele, e vi uma lágrima escorrer lentamente por sua bochecha. Meus olhos arderam, provavelmente com as lágrimas querendo voltar, mas eu as ignorei.
— Aqui é tão ruim assim? Você não pode ficar com alguém? Morar aqui comigo, sei lá… — Minha garganta ardia. Por mais ridícula que a ideia parecesse, ainda era uma possível solução. Aquilo não podia estar acontecendo.
— Quem me dera. Aquela foi uma dessas reuniões a que a gente nunca é convidado a participar, sabe? Depois eles só nos participam da decisão que tomaram e pronto. Meus pais acham que vai ser melhor assim, apesar de tudo.
— Mas você nem tentou…
— Tentei — ele me interrompeu. — E acho que vou continuar tentando, até o dia em que eu conseguir voltar. Não quero ir embora. — E aí o Jungkook começou a chorar para valer.
Ele quase nunca chorava, mas acho que esse era um bom motivo. Ou melhor, um péssimo motivo… Definitivamente, algo justificável para chorar. Eu não estava me mudando, e mesmo assim, deixei as minhas lágrimas também rolarem bochechas abaixo. Nenhum de nós dois falou mais nada. Passei o braço pelo ombro dele, num quase abraço, e o Jungkook escorou a cabeça no meu ombro. E ficamos assim, chorando por algo que não entendíamos direito e nem havia acontecido.
Não consegui mentir que ficaria tudo bem. Não me parecia que as coisas ficariam bem. O pranto não era capaz de evitar que aquilo tudo acontecesse, e eu também não conseguia impedir que a cada segundo surgissem cada vez mais dúvidas na minha cabeça. Uma, em especial, parecia maior que todas as outras: E agora?!
Talvez eu tivesse pensado alto, ou o Jungkook lera meus pensamentos, porque ele disse:
— Vou ficar longe da minha cidade, dos seus pais, da escola, de tudo o que sempre conheci. De você. Lembra como você dizia que às vezes 1 + 1 pode ser 1? Eu te entendo agora. Mas somos menos que um. Somos uma equação de divisões e saldos negativos.
E ali, com o rosto molhado, eu não soube o que responder. O Jungkook sempre foi melhor em matemática e, infelizmente, ele parecia ter razão.
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Entre humanas e exatas, eu escolho nossa química | YK
Fanfiction》 EM ANDAMENTO 《 Jungkook e Yoongi eram melhores amigos desde muito pequenos. Porém, Jungkook recebe a notícia que irá se mudar para muito longe, para outro país, na verdade. E esse foi o estopim para que os amigos percebessem o quanto era valiosa a...