Além da Linha de Chegada

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Os dias passam devagar. Cada movimento é uma batalha, cada exercício, uma lembrança do quanto o caminho de volta é árduo. Lena e Alex estão sempre ao meu lado, mas, mesmo com o apoio delas, a dor é implacável, teimosa, constante. Sinto-me presa, como se a velocidade e a força que sempre me definiram fossem agora apenas memórias distantes.

Alex me ajuda a levantar para mais uma sessão de fisioterapia. Suas mãos são firmes, mas o peso do meu próprio corpo parece um fardo impossível de sustentar. Tento fazer força, mas minhas pernas não respondem como antes. A frustração começa a se acumular, e o gosto amargo do desânimo é difícil de ignorar.

— Você consegue, Kara — ela diz, seu tom de voz firme, mas carinhoso. — Um passo de cada vez. A gente está aqui para isso.

Respiro fundo, mas cada tentativa falha traz uma nova onda de dúvida. Em um momento de fraqueza, sinto o desejo de simplesmente desistir, de aceitar que talvez eu nunca volte a ser quem fui. Meus olhos se enchem de lágrimas e, num impulso, abaixo a cabeça, deixando que a frustração e o medo transbordem.

É então que Lena se aproxima e se ajoelha ao meu lado, olhando nos meus olhos com uma intensidade que nunca havia visto. Ela segura minhas mãos e diz, com uma força que parece quase sobrenatural:

— Kara, eu sei que parece impossível agora, mas você tem uma força que vai além do que qualquer um imagina. E mesmo que você não consiga ver isso agora, saiba que eu vejo. Eu sempre vi.

Aquelas palavras são como um golpe no peito. Algo dentro de mim se quebra, mas ao mesmo tempo, uma centelha se acende. Lena está ali, acreditando em mim quando eu mesma já não consigo. E Alex, sempre ao meu lado, é como um pilar inabalável.

— Não vou deixar você se livrar de nós tão fácil, então nem pense em desistir, — Alex completa, num tom mais leve, tentando arrancar um sorriso em meio ao momento difícil.

Ajeito a postura, tentando reunir as forças que ainda restam. Com o apoio das duas, dou mais um passo, depois outro. A dor persiste, mas há algo a mais agora, algo que me move.

Ao final da sessão, estou exausta, mas consigo sentir, ainda que de forma sutil, um fio de esperança. Cada dia será uma luta, mas talvez, com elas ao meu lado, eu consiga vencer uma batalha de cada vez.

E, no fundo, começo a entender: meu retorno às pistas será mais do que uma recuperação física. É um caminho de volta a mim mesma, um resgate da força que, por mais adormecida que esteja, nunca me abandonou completamente.

Fecho os olhos, respirando fundo. Mais do que nunca, sei que preciso atravessar essa linha de chegada, não apenas por mim, mas por todas as pessoas que acreditam em mim.

Não esqueçam de curti, me ajuda a continuar

A melhor corredora do mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora