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MARIANA

Acordei com algo estranho, como se estivesse sendo empurrada para fora da cama.

Pisquei algumas vezes, tentando entender o que estava acontecendo, até que virei para o lado e quase pulei para fora do colchão.

— Mas que...?

Uma cabecinha loira estava deitada ali, toda encolhida, roubando todo o cobertor.

Flora dormia tranquilamente, como se o quarto e a cama fossem dela.

Coloquei a mão no peito, tentando acalmar os batimentos acelerados pelo susto.

A porta do quarto abriu e Rute entrou apressada, mas parou ao nos ver, soltando um suspiro de alívio.

— Ah, graças a Deus! — murmurou, encostando a mão na parede. — Eu já ia avisar o patrão que Flora tinha sumido.

— Sério? — Perguntei, ainda tentando entender, meio sonolenta. — Mas... como ela veio parar aqui? Eu nem percebi.

Rute caminhou até a cama.

— Deve ter ficado com medo durante a madrugada e veio pra cá. Ela costuma fazer isso às vezes.

Olhei para Flora, ainda dormindo profundamente.

— Ela tem muitos pesadelos? — Perguntei, passando os dedos pelos cabelos macios dela.

Rute assentiu, com o olhar também no rosto da menina.

— Tem épocas que piora. Ela fica assustada com tudo, até com a própria sombra, pobrezinha. — Lamentou.

— E por que não foi para o quarto do Augusto? — Minha pergunta saiu mais curiosa do que qualquer outra coisa, mas a resposta de Rute me surpreendeu.

— O patrão sempre tranca a porta. Acho que o único momento em que ele retira a máscara é quando dorme... e ele não quer que ninguém o veja sem ela.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, digerindo aquilo.

Então era por isso a sua relutância em dormir ao meu lado? Ele tinha receio de que eu o visse sem aquela máscara e saísse correndo?

Lentamente Flora começou a se mexer, espreguiçando-se e abrindo os olhos devagar. Quando me viu, ficou vermelha como um tomate.

— Bom dia, dorminhoca. — Sorri, tentando aliviar o constrangimento dela. — O lençol que me roubou estava confortável?

— Eu... eu entrei aqui sem pedir permissão. — Ela abaixou os olhos, parecendo tímida. — Peço perdão, senhorita Mariana. — Quase não pude ouvir a sua voz.

— Pode vir quando quiser, meu amor. Não vou ficar zangada com você. — Respondi, sem pensar duas vezes e ela pareceu gostar da ideia.

Flora abriu um largo sorriso. Depois de um instante, ela perguntou:

— Agora você é minha tia?

Pensei por um momento e olhei para Rute, antes de responder.

— Se você quiser, sim. — Dei de ombros.

O sorriso dela se alargou ainda mais.

Rute logo a levou para se arrumar, dizendo que já era hora do café. Antes de sair, ela me olhou e acrescentou:

— Faça o mesmo, senhora. O patrão gosta de pontualidade e já estão todos lá embaixo.

Assenti, mas a minha vontade era de não ir, de não ver Augusto e muito menos aquelas duas cobras que chegaram durante a madrugada. 

Acordo com a Fera [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora