Bom dia, Rio

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Aubrey Plaza como Rio Vidal

Jornalista editora-chefe da Alma, a revista cultural e política do grupo Nacional, 31 anos, solteira e lésbica.


"Rio Vidal, você vai ter um bom dia", determinei me olhando no espelho do elevador

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"Rio Vidal, você vai ter um bom dia", determinei me olhando no espelho do elevador. Fazer com que tudo naquela quarta-feira de pré-fechamento da revista, corresse perfeitamente era minha meta pessoal. O fechamento de uma revista nunca era fácil, com a Alma não era diferente, mas também não era novidade. Como editora-chefe há cinco anos, eu já conhecia o ritual: revisão final dos textos, ajustes de layout, preparação do arquivo final e todas as outras tarefas inesperadas que surgiam no caminho. Vou dar conta. Além disso, ajuda saber que a Alma é o centro da minha vida, uma revista crítica e multidisciplinar, que mesclava cultura, política e outros temas como ciência, tecnologia e economia - tudo que eu amava. Fazer parte disso, trabalhar com o que amo era mais que um privilégio.

É claro, essa dedicação ao trabalho me deixava pouco espaço para a vida pessoal. Poucas pessoas conseguiam acompanhar meu ritmo sempre preocupado com pautas, ou assuntos relacionados à revista que invariavelmente consumiam todo meu tempo, isso explicava os meses sem sexo e o crescente arsenal de vibradores na minha gaveta. Ainda gosto de sair, me divertir ou de me entregar a prazeres casuais quando surge uma oportunidade. Mas, com o tempo, parece que tudo isso se torna mais difícil, e eu não queria me complicar, quero um bom sexo sem compromisso e a liberdade para amar meu trabalho em paz.

Eu sabia que a redação estaria tranquila quando chegasse, apesar de todos estarem sob a pressão do fechamento, eu estava adiantada, por isso, não deixei de me surpreender ao ver, através do vidro espelhado da minha sala, Agatha Harkness sentada à espera. Conhecia bem a mulher das inúmeras reuniões do Conselho das quais era obrigada a participar, já que a Alma fazia parte de um conglomerado de revistas subsidiado por uma empresa maior, a Nacional.

Sinceramente, vê-la ali, alheia à minha presença e claramente me esperando já me fazia questionar se a quarta-feira seria mesmo tranquila como eu havia planejado. O fato é que Agatha Harkness era fascinante. A única mulher no Conselho, já tive o privilégio de testemunhar a advogada silenciar muitos dos outros membros (homens) entediantes. Harkness era implacável, mas com uma classe refinada. Ela parecia ter o controle de tudo, e isso além de me deixar encantada, também me deixava completamente excitada. Sempre faço o exercício de não fazer julgamentos antecipados, mas quando coloquei os olhos pela primeira vez sobre a mulher, pensei que talvez aquele pudesse ser o rosto mais lindo e sexy que já havia visto na vida. O cabelo dela ia até o meio das costas e estava sempre um tanto quanto bagunçado, mas de um jeito que parecia pensado e por isso, era perfeito. A pouca maquiagem sempre realçava os olhos estupidamente e desnecessariamente azuis. Admirava tanto Agatha que, durante um dos meus devaneios nas longas reuniões, me peguei pensando como o terno azul-marinho que ela usava, combinado com blusa branca e a calça de alfaiataria que parecia abraçar seu corpo nos lugares certos e de maneira impecável, deveria ser considerado um crime. Era demais pra mim. Mesmo assim, meus pensamentos, longe de serem apenas profissionais, me fizeram anotar uma ideia de pauta sobre mulheres corporativas, se não estivesse tão ocupada, eu mesma escreveria a matéria, talvez assim conseguisse um passe livre para me perder em pensamentos sobre Agatha: Agatha de terno, Agatha com suas bolsas chiques caminhando pelos corredores, Agatha caminhando sobre altíssimos saltos como se estivesse em um desfile, pegando o elevador com aquela expressão séria de quem sempre tem muito a fazer, ou Agatha explicando algo enquanto gesticulava, fazendo todos ao redor caírem em um silêncio reverente.

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