O acordo

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O fim de semana passou voando, e eu não poderia estar mais grata por isso. Desde o beijo arrebatador que Agatha e eu trocamos na minha sala – até ser dolorosamente interrompido por Wanda –, eu não a vi mais na festa. No dia seguinte, finalmente era fim de semana, e o merecido descanso após semanas intensas de trabalho havia chegado. Enquanto isso, Wanda estava mais ausente do que de costume, ocupada com uma sequência de encontros, mas sem me dar muitos detalhes sobre eles, o que era incomum. Deixei passar, pois minha mente estava completamente absorvida por Agatha e aquele beijo explosivo.

Cheguei a cogitar mandar uma mensagem para ela pelo Instagram, mas acabei desistindo, achando que talvez fosse exagero. E se aquele beijo tivesse sido só uma forma de "tirar aquilo do sistema"? A ideia me incomodava, claro. Eu queria mais do que um momento pontual, mas também entenderia se ela preferisse que tudo voltasse ao normal. Afinal, éramos adultas, certo? Bom, eu esperava conseguir agir como tal.

No domingo de manhã, já com a ansiedade prévia da segunda-feira e a expectativa de vê-la no trabalho, liguei para Wanda e insisti para que ela me contasse tudo o que sabia sobre Agatha, inclusive sobre o casamento que ela decidira terminar. Wanda, que parecia saber mais do que eu imaginava, revelou detalhes preciosos: Agatha e a ex-esposa se conheceram na faculdade e viveram seu primeiro relacionamento sério, marcado por aquela paixão jovem. Com o tempo, o namoro evoluiu para noivado, casamento e, ao que parece, o próximo passo logo viria... até que Agatha percebeu que não queria seguir aquele roteiro. Elas ficaram juntas por oito anos, até o fim – ou, como Wanda chamou, "o fatídico final" –, como se a mágica tivesse simplesmente acabado para Agatha. Desde então, ela estava solteira havia quase um ano, um tempo relativamente curto considerando o histórico, mas parecia estar bem com isso, sem recaídas.

Algo que ficou claro na conversa com Wanda era que Agatha tinha outras prioridades no momento, e um relacionamento sério não estava entre elas, o que não me incomodava. Afinal, eu me conhecia o suficiente para saber que dificilmente conseguiria priorizar uma relação em detrimento do meu trabalho. Depois dessa conversa, refleti que, se tivéssemos a oportunidade de falar com ela sobre o que aquele beijo significava, eu deixaria claro que estávamos na mesma página: duas mulheres maduras, atraídas uma pela outra, mas sem necessariamente desejar um compromisso. Quanto à atração, talvez pudéssemos encontrar uma forma de viver isso sem que interferisse no ambiente de trabalho.

Por isso, quando cheguei mais cedo no escritório na segunda-feira e vi Agatha já na minha sala, senti que aquilo poderia ser o começo de algo muito empolgante para nós duas.

– Devo me preocupar com essa sua obsessão pela minha sala? – perguntei assim que entrei, notando o sorriso que se instalou em seus lábios ao me ver.


– Não estou obcecada pela sua sala – ela respondeu, com naturalidade.

Deixei minha bolsa sobre a poltrona e me aproximei, tentando segurar o riso.

– Ah, perdão, tem razão. Você está obcecada por mim – provoquei.


– Você pensa muito bem de si mesma, não é? – retrucou, entrando no jogo.

Agatha vestia uma camisa listrada em azul-claro e branco, combinada com um blazer preto que dava um toque formal ao visual descontraído, completado por uma calça folgada de tecido leve em cinza-claro, na boca, um vermelho vivo de batom. Era impressionante como ela conseguia parecer tão confortável e profissional ao mesmo tempo.

Segurei pelas laterais do blazer dela, trazendo-a para mais perto em um movimento casual.


– Anos de terapia me deram muita autoconfiança – brinquei.


– Combina com você – respondeu, com um leve sorriso. – Acho que nos devemos uma conversa.

Concordei com a cabeça.

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⏰ Última atualização: 17 hours ago ⏰

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