ENTRE CAMINHOS E SEGREDOS [08] ~ Pulga atrás da orelha!

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Depois da noite incrível com o Caio, finalmente voltei para casa. Quando cheguei, minha mãe estava de saída para o trabalho. Ela não sabia que eu tinha dormido fora, pensava que eu tinha acabado de chegar da viagem. Ao me ver, ela sorriu de leve, mas havia um ar de cansaço em seu rosto.

— Finalmente de volta, né? Como foi a viagem, meu filho?

— Foi ótima, mãe! A capital é incrível, consegui resolver tudo o que precisava. E sabe o que mais? Vi o mar pela primeira vez. O Sr. Antônio me fez uma surpresa, me levou lá sem eu nem perceber. Foi lindo! — falei com entusiasmo, tentando esconder o quanto aquele momento havia mexido comigo.

— Ah, o mar... já ouvi falar, mas nunca vi. — Ela respondeu com um leve desinteresse, como se quisesse mudar de assunto. — E o Sr. Antônio, como ele está? Ele tem te tratado bem?

— Tá tudo certo, mãe. Ele foi super atencioso durante a viagem, me ajudou bastante. Foi bom ter a companhia dele. E agora, o Sr. Allyson pediu pra eu ir na fazenda hoje. Vou lá daqui a pouco.

Ao mencionar isso, percebi um leve incômodo em seu semblante. Ela respirou fundo e hesitou antes de responder.

— Filho, você sabe que eu nunca gostei muito dessa sua proximidade com os Carneiro... — ela começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Eu sei que você trabalha lá, mas não acho que esse lugar seja pra gente. Eles são... diferentes. Nós somos humildes, sabe disso. E essas coisas, essa história toda de querer ir morar na capital, de passar no vestibular... Eu só não quero que você se machuque. A vida não é fácil pra gente.

— Mãe, eu sei disso, mas eu quero tentar! Quero algo diferente pra mim, e ir pra capital, estudar... é o meu sonho! — Eu disse, sentindo uma mistura de frustração e determinação ao tentar convencê-la.

Ela balançou a cabeça, como se estivesse cansada da conversa, mas ainda assim preocupada.

— Eu só quero que você seja realista, Rafa. Não é todo mundo que nasce pra isso... e essa gente da fazenda, os Carneiro, não sei... Tem coisa aí que você não sabe.

— Coisa? Que coisa, mãe? — perguntei, curioso.

Ela desviou o olhar, claramente desconfortável com o rumo da conversa.

— Nada, filho. Só toma cuidado. Essa gente, eles vivem num mundo diferente do nosso. Só espero que você saiba o que está fazendo.

Ela pegou sua bolsa e suspirou, como se tivesse dito mais do que queria.

— Eu preciso ir. A gente conversa mais tarde.

— Tá bom, mãe... — disse, vendo-a sair pela porta, mas ainda com aquela sensação de que ela sabia de algo que eu não.

Organizei algumas coisas em casa e deitei um pouco, tentando descansar antes de ir à fazenda conversar com o Sr. Allyson. Mas a verdade é que minha mente não parava. As palavras da minha mãe ecoavam dentro de mim, me deixando com aquela sensação incômoda, como se uma pulga estivesse atrás da minha orelha, cutucando. Eu sabia que tinha algo ali, algo que ela não me contava, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim hesitava em ir mais fundo, talvez por medo do que eu poderia descobrir. Não sei se estava pronto para encarar essa verdade, seja lá o que fosse.

Naquela época, eu era uma explosão de sentimentos. Tudo dentro de mim parecia à flor da pele, e às vezes eu mal conseguia processar o que estava sentindo. O envolvimento com o Bernardo, ainda que complicado, mexia comigo. Ao mesmo tempo, a paixão que eu sentia pelo Caio era avassaladora, uma daquelas que consome por dentro, queima com força, mas que também me deixava vulnerável. Além disso, havia o peso do trabalho na fábrica, os dias exaustivos que me faziam questionar o futuro. E então, o sonho de passar no vestibular, de ir embora para a capital e tentar uma vida nova, longe de tudo, longe das incertezas daqui.

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⏰ Última atualização: Nov 07 ⏰

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