O Memorial

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A noite estava linda, as duas luas cheias sobre Vnol-lil-en refletiam esplendorosas no lago das ilusões, como na noite em que ela foi ordenada mestra. Sabia que não estaria ali por muito tempo, olhou para suas acompanhantes e fitou os olhos em Incra, provavelmente aquela jovem iria sucedê-la no mestrado da casa azul. Incra tinha um diferencial, embora ela e suas três irmãs tivessem nascido no mesmo dia, ela estava a três graus a frente de suas irmãs e suportava lembranças que dilacerariam rapidamente a mente das outras.

- Ela é muito parecida comigo... – falou Dan-Lil.

As quatro irmãs olharam rapidamente para a mestra

- Algum problema Senhora? – falaram em coro

- Não! Apenas pensei um pouco alto...

Olhando novamente para a projeção da lua no lago ,viu quanta saudade sentiria de Ald-Nalden (A Ilha do Lago das Ilusões).

- Vocês estão dispensadas... Selem a porta dos meus aposentos, preciso dormir um pouco!

A multidão dos encarcerados derrubava o muro dos campos de trabalho, ela via pela primeira vez o desespero no rosto de sua mãe.Seres de armaduras cintilantes capturaram sua mãe e cortaram-lhe os cabelos, a vida parecia deixá-la aos poucos; Dan-Lil de olhos ate então lacrimejantes e soluços contidos, ao ver sua mãe fechar os olhos não aguentou e começou a gritar:

- Mamãe! – o grito ecoa no seu quarto

Era mais uma vez o mesmo sonho,era um dos segredos que guardava consigo,sabia que Iriden não podiam sonhar, o mais próximo que podia chegar dos sonhos era lembrança dos sonhos alheios, mas eles a perseguiram por toda a sua vida e foram esses sonhos que levaram Dan-Lil a quebrar o arn-or-Iriden(código das Iriden).

Levantou-se abriu a janela para que os raios do sol tocassem seu corpo nu, jogou os longos cabelos azuis sobre os seios, esfregou os olhos.

- Mais uma vez o mesmo sonho!

Já estava vestida quando bateram três vezes na porta dos seus aposentos:

- De-uriltrenterzilnen Il-detlium – disse ela (por que bate três vezes na porta).

-Risl-iodterzilnenure-denrite-le – (pensando três vezes se quero realmente entrar).

Esse era um ritual usado tanto pela Ordem Celestial como pelas Iriden quando alguém batia em sua porta sem ser anunciado. A voz não era de uma mulher,ela sabia que esse dia chegaria, teve medo, mas, precisava responder por seus atos, pegou sua espada envolta num tecido de seda vermelho e caminhou em direção à porta.

Do lado de fora as acompanhantes da mestra já estavam em posição de combate contras os possíveis intrusos, Incra empunhava suas espadas presas às pontas do tecido do seu quimono, as rosas tatuadas no corpo de Maicra começaram a se mover na sua pele e dois espinhos enormes nasciam de seus pulsos, Bulena já tinha sua flauta das ilusões aos lábios e Sibila saia do seu quarto com um arco na mão.

Mesmo em meio de um ambiente tão hostil os visitantes não poderiam deixar de notar o corpo completamente tatuado de Sibila; as tatuagens eram símbolos nunca vistos por eles antes.

- Iriden! Baixem suas armas e quebrem o selo da porta! – bradou a voz de Dan-Lil de dentro do quarto.

As irmãs baixaram suas armas, os visitantes se afastaram.

Na porta do quarto havia um desenho de uma pequena criança de olhos puxados e com roupas orientais. Sibila passa por eles completamente nua, entrega seu arco aos cuidados de Bulena, coloca suas mãos nos umbrais da porta e toca com suas costas o desenho da pequena criança de olhos puxados, o desenho é vagarosamente transferido da madeira para sua pele.

Heliantos no outonoWhere stories live. Discover now