Eu não tenho tantas memorias da minha infância, não me recordo de muitas coisas como por exemplo do dia que quebrei meu dente no sitio do meu avô, eu só sei que isso aconteceu porque meus pais me contaram. Navegando pela rede social mas popular desse século desde a pandemia me deparei com algo curioso "Já parou pra pensar que todo mundo lembra do exato momento que ganhou consciência?", não, não me lembro, não tenho essa memoria, eu não tenho a memoria de quando meu primeiro dente caiu, ou quando foi meu primeiro dia de aula, eu simplesmente não lembro de nada. Mas tenho algumas memorias felizes, como quando eu aprendi a nadar, de quando meu pai me acordava cedo pra tomarmos café na padaria antes da escola, dos domingos de manha comendo pastel na feira, de bater perna no shopping com a minha mãe, são poucas memorias.
mas me pego me questionando se tudo isso moldou meu caráter real, minha personalidade e meu colega de vida. Eu tenho memorias de ficar sozinha quando eu mais precisei, memoria de me tornar mãe do meu próprio irmão quando eu só queria ser amada e protegida, colocada num colo e alguém dizer que iria ficar tudo bem, eu vi meu mundo semi-colorido se tornar cinza em menos de 12 horas. "Clara é uma criança maravilhosa, ela é muito madura pra sua idade", Clara só queria ter um suporte, só quer um colo, só quer ser uma criança normal, parar de sentir dor o tempo todo.
Fui excluída na escola por ser diferente, ninguém queria ser meu/minha amigo, os poucos que queriam depois eu os pegava fazendo piada comigo, com minha aparência. Mas diante de tudo isso eu sempre acreditei nas pessoas, na bondade das pessoas, meu sonho era ser medica pra salvar vidas, cuidar das pessoas, mas o sistema sempre dificulta a vida de pessoas que realmente querem fazer algo por amor, infelizmente ou você tem dinheiro ou você só vira estatística.
"Seu primo acabou de passar em 3 faculdades" e eu só queria se artista, ser notada por um talento que ninguém via.
Aos 13 fui diagnosticada com depressão profunda, mas antes disso tudo eu gritei em silencio por ajuda, porque eu sabia de algum modo que toda a dor, vazio e cansaço que eu sentia não eram normais, "Você só dorme porque é preguiçosa, não faz nada, isso é frescura" e eu sentia tanta culpa, tanta culpa que doía fisicamente, eu não queria ser assim mas eu não conseguia evitar, até que me viram de verdade e então veio o diagnostico, e com isso mais uma vez excluída por quem deveria me dar suporte e pelos "amigos" da escola.
A exclusão sempre foi algo presente em minha vida, "cresci sozinha", aprendi a me virar sozinha, por muito tempo foi eu e eu, acho que por isso é difícil eu pedir ajuda, ou qualquer tipo de suporte pois foram tantas noites eu mesmo me abraçando enquanto chorava em silencio pra não acordar meus avós e meu irmão.
Aos 15 tentei meu primeiro suicídio, não deu certo obviamente, adoro fazer a piada que não sirvo pra nada nem pra acabar com a minha própria vida (risos sinceros da clara), meu psicólogo disse que seria bom eu criar um diário para relatar coisas desde a minha infância, não se ele esta tão certo, mas vou continuar com essa besteira estupida.
Esse é o fim do primeiro resumo da minha vida.
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NDA: Nunca publiquei algo aqui, bom, pelo menos que eu me lembre.
Espero que curtam ... XOXO
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Diário de Clara
RandomÉ o diário de Clara, uma menina que em meio as terapia sua psicóloga deu a ideia de que ela escrevesse seus sentimentos desde a infância. "Uma breve junção de algo que não deveria estar guardado em meu peito confuso e caótico." -Clara Pacificus.