Eram catorze horas de uma bela tarde, com o sol radiante como sempre sobre uma terra arenosa. O terreno era enorme e a casa era pequena. Não havia muro de vedação para servir como uma espécie de cobertor que nos proteja da memória de que nossas construções e denominações territoriais são apenas ilusões que nos escondem do facto desse nosso espaço, comprado ou herdado, ser pertencente à dona suprema de todas as coisas, a Mãe Natureza.
Olhando para a casa e o terreno em causa não restam dúvidas sobre a razão pela qual de, antropomorficamente, associarmos o tempo e a natureza como uma espécie de casal, em que o tempo é o cônjuge masculino e a natureza é a mulher fiel desse laço. A casa existe há mais de trinta anos e sempre foi o que foi, sem nenhuma mudança significativa: uma casa tipo três, azul, com um formato cúbico simples, telhado vermelho e, no exterior, o jardim não era lá muito especial, apresentava um campo de relva quadrado e enorme. Era o suficiente para uma criança energética tentar correr sobre ela, de uma ponta para outra, e estar esgotada sem sequer alcançar o seu destino. Faz muito sentido dizer que a Natureza é uma mãe pois ela está sempre presente,está no ar que respiramos e, neste caso, na relva que pisamos, mas por que razão o tempo é considerado um pai? Talvez se deva ao facto de nem darmos conta dele.
Horas passaram enquanto a criança desfrutava do seu Domingo, desde às dez da manhã que essa criança estava a correr na relva e com certeza que ela nem se deu conta de que passaram quatro horas e alguns minutos. Estava entretida demais com a sua mãe, explorando e navegando pelas suas maravilhosas obras.
Infelizmente, a criança foi vociferada pela sua mãe real, uma moça negra com tranças grossas, magra e de estatura média com olhos castanhos claros lindíssimos dos quais a criança herdou. Ela trajava uma modesta capulana castanha e um vestido simples sem alças de cor creme, delimitado por um desenho de uma linha horizontal de rosas que cobria todo o perímetro da parte superior do traje.
— Jalson, você está bom da cabeça? — Perguntou a mãe, gritando durante o seu percurso da casa até à relva para se encontrar com o filho.
Jalson não respondeu, ficou a assistir a mãe a aproximar-se-lhe. Ele era uma criança de nove anos, negra com bochechas grandes, usava uma jardineira azul e uma camiseta amarela por dentro. O cabelo estava despenteado e a sua roupa interior e externa coberta de manchas castanhas e folículos verdes da relva na qual ele corria. Ele estava imundo, mas não parecia ser o medo da observação de tal facto que o deixava encabulado perante a mãe. O que seria que lhe fazia permanecer tão calado porém fortemente observante dos passos da mãe?
— Jalson, tu sabes o que minha mãe teria me feito se eu a ignorasse e só ficasse a olhar para ela como tu estás a fazer agora? — Perguntou-lhe a mãe, com um sorriso forçado na cara.
Jalson simplesmente abanou a cabeça para a esquerda e para a direita.
— Nem eu nunca tive essa audácia.
— Mãe, eu tenho uma pergunta — revelou Jalson, meio tímido.
A mãe fez uma expressão de inquietação e ajoelhou-se perante ele antes de acenar com a cabeça num gesto de confirmação de que ele tinha a permissão de fazer a pergunta.
— Por que é que as pessoas da minha idade não querem brincar comigo?
Após a pergunta, a mãe entrou num estado de preocupação emotiva, as sobrancelhas ligeiramente flectidas, olhos bem fitados nele e ainda mais. Estendeu a sua mão até ao encontro do ombro dele, isto tudo transmitia um sentimento de urgência e uma tentativa de encorajamento por parte dela para com o filho e o deixar confortável em ele se confidenciar nela.
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A Busca: Um Gênio Perdido
Ciencia FicciónA nossa história é sobre um fisico moçambicano chamado Jalson atormentado pela sua mente que procura descobrir as respostas para todas as perguntas que o assolam desde criança e a razão por detrás de todas as coisas. No decorrer da sua historia irem...