Capítulo 2: Correndo em círculos

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A luz dourada da manhã, que geralmente surgia como um alívio, trazendo promessas de um novo dia, não apareceu. Em vez disso, a escuridão se aprofundava, envolvendo Lirian em um abraço frio e sufocante. Seus passos acelerados eram engolidos pela terra úmida e as folhas que rangiam sob seus pés pareciam sussurrar palavras desconexas. Tudo ao seu redor se movia, mas nada estava realmente vivo. Cada passo parecia levá-la de volta ao mesmo ponto, ao mesmo círculo de sombras que a prendia como uma maré invisível.

— Alguém... qualquer um... — Sua voz quebrou, despedaçando-se na garganta seca. Ela tentou gritar, mas o som morreu, afogado pelo peso que crescia em seu peito. Lirian sabia que a floresta de Ixtal, sempre tão acolhedora, agora a olhava com olhos escuros e frios, como se estivesse julgando cada ato, cada respiração.

Tentou forjar mais golems, mas suas mãos tremiam tanto que os estalos de vidro não passaram de meras rachaduras que evaporaram no ar. O calor em seu corpo subia sem controle, transformando o que deveria ser sua força em uma ameaça constante. Ela correu, os cabelos loiros cacheados voando em desordem, e a névoa vermelha dentro da armadura pulsando com uma intensidade descompassada. Árvores imensas, que uma vez a protegiam, agora pareciam braços estendidos, prontos para envolvê-la e nunca mais soltá-la.

Os minutos se transformaram em horas, ou foi apenas um instante? Ela não sabia mais. Lirian tropeçou, as mãos buscando apoio na base de um tronco. Suas unhas arranharam a casca até que a dor trouxe uma fagulha de realidade, mas a sensação foi tão fugaz quanto o calor do fogo que ameaçava sair de controle.

— Isso... não pode estar acontecendo — murmurou, ofegante, os olhos arregalados e buscando uma saída que não existia. Por que ninguém respondia? Por que, de repente, todos pareciam ter desaparecido da face de Ixtal? Seus aliados, seus amigos, sua própria sombra... tudo havia sumido. Não havia ninguém além dela e da escuridão pulsante que ria, sem som, entre as árvores.

A pressão em sua cabeça era esmagadora, e a respiração curta se transformou em ofegos desesperados. O calor que percorria seu corpo se tornou insuportável. De repente, a névoa avermelhada dentro da armadura de vidro começou a se expandir, e ela sentiu o pânico absoluto tomar conta de si. O controle, aquele fio frágil que mantinha suas emoções contidas, se partiu.

O brilho vermelho se intensificou, e uma labareda saltou de suas mãos trêmulas, atingindo um arbusto seco e se espalhando como um chicote de fogo. O calor lambeu a floresta, crepitando e sibilando, e em poucos segundos o inferno se espalhou. Lirian tentou gritar, mas a única coisa que saiu foi um soluço sufocado. As chamas dançavam como demônios ao seu redor, refletindo no vidro rachado da armadura e iluminando seu rosto manchado de lágrimas.

Ela se deixou cair de joelhos, derrotada. O medo transformado em desespero. A floresta que ela amava, que deveria protegê-la, agora ardia sob sua fúria descontrolada, e Lirian percebeu, por um momento terrível, que talvez a solidão fosse a única companhia que restava.

Lirian em o Crepitar da EsperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora