Capítulo 2

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O primeiro dia de aula de Laís na faculdade finalmente chegou. Apesar do imenso cansaço por mal ter dormido durante a noite, ela estava extremamente empolgada para começar o seu curso dos sonhos.

Laís tinha apenas 18 anos, mas já sabia desde criança com o que gostaria de trabalhar na vida adulta.

Quando era pequena, sempre amou brincar de médica. Tinha vários brinquedos de médica e enfermeira e fazia suas bonecas de paciente. Às vezes, seus pais, avós, irmãos e amigos eram os pacientes.

Ela nunca teve medo de fazer exames e ir em consultas. Sentia curiosidade quando ia tirar sangue e perguntava aos médicos e enfermeiros o nome de cada coisa e qual a utilidade daquilo.

Agora, ela finalmente veria de verdade a prática disso tudo. Não era mais apenas uma brincadeira. Em alguns anos Laís seria uma enfermeira formada.

Ela levantou da sua cama e foi ao banheiro tomar banho. Prendeu o cabelo num rabo de cavalo, vestiu uma calça jeans branca, uma blusa branca lisa com manga curta e um tênis branco. Sabia que era protocolo a enfermagem usar roupa branca e gostaria de fazer isso desde o seu primeiro dia.

A garota foi até a cozinha e comeu dois pães com peito de peru e queijo e tomou uma xícara de café com leite, depois foi escovar os seus dentes. Pegou a sua mochila, que já estava arrumada desde a noite anterior, e o seu celular, e mandou mensagem de bom dia para os pais, saindo do apartamento em seguida.

Ao passar pela porta, como uma grande coincidência, ela viu o seu querido vizinho saindo do apartamento ao lado. A sua reação imediata foi revirar os olhos e passar direto por ele, indo ao elevador.

— Bom dia, vizinha. — O garoto falou, em tom de deboche.

Laís seguiu o ignorando e apertou o botão para chamar o elevador.

— Teve uma noite boa? Dormiu bem?

Ela apenas o lançou um olhar furioso, desejando que fosse o bastante para ele calar a boca.

E foi em vão.

— Para quem está indo para o primeiro dia de aula na faculdade, você não parece tão contente.

— Só não fala comigo, garoto! — Entrou no elevador quando a porta se abriu e apertou o botão do térreo. Estava vazio.

— Apenas quero ser receptivo com a minha nova vizinha. — Também entrou. — Eu não posso?

— Eu só não saio desse elevador e desço de escada porque eu não quero me atrasar logo no meu primeiro dia por culpa de um babaca.

— Quanto ódio no coração, para alguém que ontem estava com um pijama e pantufas fofinhos. — Sorriu de maneira sarcástica e a olhou de cima a baixo. — Onde vai ser a festa de ano novo?

— Eu faço enfermagem!

— Calouros... — Balançou a cabeça negativamente e deu risada. — Tudo bem, já sei o seu curso, mas ainda não sei o seu nome.

— E qual seria o seu interesse nisso, afinal de contas?

— Oras, eu não posso conhecer a minha nova vizinha?

— Não. Eu quero te conhecer menos do que eu conheço e eu nem te conheço.

— Ah, mas você iria adorar me conhecer.

— Não, eu não iria não. — Saiu do elevador quando a porta se abriu ao chegar ao térreo.

— Eu duvido. — Foi atrás dela.

— Eu não ligo. — Cumprimentou o porteiro e saiu do prédio, caminhando na direção da faculdade.

— Você é sempre difícil assim?

— E você é sempre insistente assim? — Começou a andar mais rápido.

— Não responda uma pergunta com outra pergunta! — Também acelerou os passos.

— Você quer parar de me seguir, por favor?

— E quem disse que eu estou te seguindo? Esse é o caminho da minha faculdade.

— E tem mais de uma por aqui?

— Não. Muito prazer, colega.

— Contanto que eu não seja do mesmo curso que você, tudo certo.

— Não é.

— Ótimo, você não parece empático o bastante para ser enfermeiro.

— E se eu te disser que faço medicina?

— Eu nunca passaria por você como médico.

— Eu não te atenderia mesmo, serei pediatra.

— Eu não deixaria os meus filhos passarem por você.

— Você tem filhos?

— Não, eu só tenho 18 anos!

— E daí? Tem gente com 15 que já tem.

— Eu não estou entre essas pessoas... — Cruzou os braços.

— Já sei a sua idade, olha só! É uma moeda de troca... Eu sei o seu curso e você sabe o meu. Eu sei a sua idade, agora falta você saber a minha, correto? Eu tenho 19 anos, quase 20!

— Não ligo. — Atravessou a rua.

— Amolece um pouco, vai. — Foi atrás dela.

— Será que teremos matérias em comum? Não suportarei estar na mesma turma que você.

— Ah, provavelmente não, eu sou terceiro semestre e suponho que você seja primeiro.

— Graças a Deus, então. Como você conseguiu entrar em medicina sendo um desocupado que toca guitarra de madrugada?

— Não julgue um livro pela capa, eu sou muito inteligente.

— Aposto que é um riquinho que comprou a vaga.

— Não tire o meu mérito!

— Não sei, você não me parece uma boa pessoa. — Passou pelos portões de entrada da faculdade e soltou um suspiro ao olhar ao redor. — Então é aqui...

— Boa sorte no seu primeiro dia de aula, a gente se esbarra por aí, vizinha. — Piscou para ela e se afastou.

Ela revirou os olhos e começou a caminhar, tentando se localizar no imenso lugar.

A manhã seguiu bem. Laís teve 4 aulas durante a manhã e amou os professores que conheceu. Por volta de 12 horas, ela foi ao restaurante universitário almoçar e, quando o horário passou, voltou para as aulas.

Ao fim do dia, estava cansada, mas se sentindo realizada. Saiu da faculdade com um sorriso no rosto e caminhou em direção ao prédio, desejando apenas tomar um banho quente, jantar e deitar para dormir.

Ela chegou ao seu apartamento e mandou um áudio para os pais descrevendo sobre a noite anterior com o vizinho insuportável e barulhento e sobre o seu primeiro dia na faculdade, depois foi tomar banho e preparar comida para jantar. Sem vontade de fazer algo elaborado, apenas preparou arroz e frango frito, depois escovou os dentes e se deitou na cama, dormindo quase de imediato.

No entanto, assim como na noite passada, o barulho alto de guitarra vinha da parede vizinha ao seu quarto. Novamente o garoto estava tocando durante a madrugada.

E novamente ela foi ao seu apartamento reclamar.

— Boa noite, vizinha, acordada uma hora dessa? — Sorriu com deboche ao vê-la após abrir a porta.

— Para com esse barulho infernal, por favor, eu só quero dormir. Eu preciso dormir. Você faz medicina numa universidade de período integral, também não deveria dormir?!

— Obrigado pela preocupação com o meu sono, mas eu estou bem.

— Só, por favor, faz silêncio.

— Posso pensar sobre isso com carinho. — Piscou e fechou a porta na cara dela.

Laís suspirou e se deu por vencida, então voltou ao seu apartamento para tentar dormir, aproveitando os míseros minutos de silêncio que, a propósito, não duraram muito.

Realmente não estava sendo uma tarefa nada fácil ser vizinha daquele garoto.

Eu odeio te amarOnde histórias criam vida. Descubra agora