Capítulo 4

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Quarta-feira. Terceiro dia de aula de Laís. Quarto dia na nova casa. Dia de finalmente reclamar com a síndica após três noites sem descanso causadas pelo seu desagradável vizinho.

Ela levantou, tomou banho, se arrumou, tomou café da manhã, escovou os dentes e arrumou o cabelo. Decidiu que naquele dia ela iria de cabelo solto, então penteou seus fios castanhos claro e ondulados e arrumou a sua franja.

Laís não fazia a menor ideia de quem era a síndica, apenas sabia que ela era uma mulher e que morava no apartamento 517, ou seja, no andar de cima.

A jovem pegou o celular e mandou bom dia para os pais, depois respondeu as mensagens do dia anterior e pegou a sua mochila, pois aproveitaria para sair para a faculdade logo após falar com a mulher.

Ela foi até o elevador e subiu um andar, parando na frente do apartamento em questão e tocando a campainha. Não demorou quase nada para que uma garota de aproximadamente 16 anos, usando calça jeans e moletom preto, com o cabelo loiro médio preso num rabo de cavalo, abrisse a porta.

— Bom dia...? — A adolescente franziu o cenho, a olhando.

— Bom dia, eu sou a Laís, nova moradora do 404, gostaria de falar com a síndica.

— Ah, tudo bem. Mãe, é pra você!

— Já vou, querida! — Uma voz feminina saiu de dentro do apartamento.

Em poucos segundos uma mulher alta e magra, que aparentava ter seus trinta e poucos anos, talvez quarenta, apareceu. Ela usava uma roupa de academia, cabelo preso num coque perfeito, e óculos em seu rosto.

Aquilo surpreendeu Laís de duas formas:

Primeiro porque ela esperava que a síndica fosse uma idosa de sessenta anos que morava sozinha com os seus gatos;

E segundo porque Laís conhecia muito bem aquela mulher.

— Laís! Que surpresa ótima! — A mulher sorriu e a abraçou.

— Letícia, oi! — Sorriu, surpresa, a abraçando de volta.

— Quanto tempo, querida, você cresceu tanto. Então é real o boato de que você agora mora aqui?

— Bom, sim, não sabia que você era a síndica.

— Olha as coincidências da vida. Não te vejo há anos, você era tão novinha, acho que tinha uns 15 anos. Qual a sua idade agora?

— Fiz 18 em janeiro.

— E como vão os seus pais?

— Bem. Muito bem. E a sua família?

— Estão ótimos. Essa mocinha que te atendeu é a Yasmim, a minha filha mais nova, de 16 anos. A Thais, de 17 anos, está lá dentro se arrumando para a escola. E o Lucas deve estar se arrumando para a faculdade agora, ele está com 19 anos, faz 20 em abril já, não mora mais comigo, mas mora aqui no prédio, então está perto, meu coração fica em paz.

— Que ótimo, ele cursa o quê?

— Medicina! Está no terceiro semestre já, o meu orgulho. Vocês viviam brincando juntos quando eram pequenos, lembra? Quando ele não estava lá na casa dos seus pais, você estava na minha antiga casa. Uma pena que vocês cresceram e pararam de se ver, faz uns 10 anos que você não o vê, não é?

— É, crianças crescem e dificilmente meninos e meninas seguem tão próximos, gostos muito diferentes, mas o Lucas era certamente o meu melhor amigo.

— Ele está tão mudado, você precisa ver, é um homem lindo agora! Depois marcamos um lanche de tarde com vocês dois para colocarem os assuntos em dia.

— Sou super a favor.

— E como vão os seus irmãos?

— Ótimos. Marcelo está com 23 anos, se formou em história, casou e tem uma filha de 3 anos chamada Maria Cecília. Milena está com 21 anos, faz arquitetura, começou a namorar faz quase 1 ano e descobriu há 4 meses uma gravidez, é um menino, vai se chamar Anthony.

— E você? Namorando?

— Não, prefiro focar na faculdade, comecei enfermagem essa semana e é a minha única preocupação mesmo.

— Não a julgo, está certa, estudos vêm primeiro. A Thais está estudando para fazer faculdade de direito, ano que vem ela já começa, se der tudo certo, e vai dar. A Yasmim quer fazer publicidade e propaganda, está no segundo ano do ensino médio.

— Todo mundo cresceu mesmo... O tempo voou.

— Realmente, mas então, veio me visitar ou veio ver a síndica?

— Vim ver a síndica. — Deu um breve riso.

— Pode falar, querida, em que posso ajudá-la?

— Então, eu moro no 404 e tem um vizinho no 403, o apartamento ao lado, colado com a parede do meu quarto, que toda madrugada começa a tocar guitarra. Eu já reclamei duas vezes com ele e não adiantou em nada, ele apenas debocha de mim, dá risada, me responde com sarcasmo, isso é muito estressante, há 3 dias eu não sei o que é dormir, preciso de paz, acordo cedo para a faculdade, é difícil demais, sabe?

— Ah, claro, claro, eu entendo... — Falou com ar de riso. — Não se preocupe, eu irei falar com ele para tentar resolver o seu problema.

— Muito obrigada mesmo, Letícia, você é um anjo!

— Que nada. — Sorriu. — Apenas o meu trabalho.

— De qualquer forma, muito obrigada mesmo. Adoraria ficar para conversar mais, mas tenho que ir para a faculdade logo, então é só marcar o lanche da tarde que eu apareço. Sabe onde eu moro.

— Claro, pode deixar, o convite chegará em você em breve. Tenha uma boa aula e uma ótima manhã, Laís.

— Obrigada, tenha um ótimo dia.

A garota saiu, indo ao elevador e respirando com alívio. Chamou o elevador e apertou o botão do térreo, mas ele parou no andar de baixo, onde um certo alguém irritante aguardava para entrar.

— O que estava fazendo no andar de cima? — Ele franziu o cenho e entrou.

— Falando com a síndica. — Forçou um sorriso debochado.

— Ah, é? — Deu um sorriso divertido.

— É!

— E aí, como foi?

— Muito bem. Aguarde para em breve receber a devida punição por ser tão inconveniente. Não sei como ninguém nunca reclamou de você antes, afinal.

— Claro... — Cruzou os braços, ainda com o ar de riso.

— O que é esse sorrisinho aí?!

— Oras, nada, eu apenas acordei de bom humor, não posso?

— Insuportável. — Cruzou os braços e bufou, irritada.

Olhando pelo lado bom, Laís tinha plena certeza de que falar com Letícia teria resolvido o seu problema.

Eu odeio te amarOnde histórias criam vida. Descubra agora