primeira vista

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Agathario fans, comecei essa fic com a ideia de termos o começo da bela tragédia que foi e é agathario, e estou fazendo com base meus achismos mas também teorias e o que a produção em geral já nos confirmou e é isso espero que gostem!

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Agatha se esticou, tocando o pingente frio que pertencia à sua mãe. O metal parecia pesar mais em suas mãos, como se carregasse o fardo de tudo que ela jamais conseguira corresponder. Com um sorriso amargo, murmurou para si mesma, enquanto a dor e o desejo de vingança se misturavam. Ela queria tanto ser a bruxa que sua mãe idealizara, uma figura de poder e controle... Mas isso não bastava. Agatha sabia que era capaz de muito mais, mais do que qualquer limite que alguém ousasse impor.

Aos dezenove anos, ela dominava feitiços e magias que as outras nem ousavam aprender; seu poder era um redemoinho dentro dela, imprevisível e voraz. Contudo, junto à força, a dificuldade em controlá-la parecia um monstro que a ameaçava o tempo todo. Naquele instante, enquanto voava para longe, para a liberdade que só a fuga podia oferecer, ela sentia uma mistura intensa de liberdade e perigo.

Ela evitou as cabanas das outras bruxas, mas não por medo; estava simplesmente cansada de lutas sem sentido. Embora soubesse que teria pouco remorso em matá-las, não queria prolongar sua permanência no coven que um dia chamara de lar. Desde a primeira vez que sua magia escapara do controle, tirando a vida de uma bruxa, ela aprendera que ali não havia compaixão. Quando sua mãe a chamou de maligna, um rótulo que até então desconhecia, algo dentro de Agatha endureceu. O beijo que trocara com outra jovem bruxa quando ainda eram adolescentes fora um crime imperdoável para sua mãe, uma transgressão que lhe custou meses de reclusão. O amor e o ódio se misturavam de uma forma que ela mal conseguia compreender, mas sabia que precisava partir.

Voando, atravessando a escuridão da floresta, ela subitamente sentiu um arrepio – um frio que vinha de algo mais profundo, algo mais sombrio. Uma presença observava-a, silenciosa, mas cheia de uma energia opressiva que trazia uma sensação de perigo. Ela nunca sentira medo até aquele momento, e aquilo a deixava curiosa e irritada. Então, entre as árvores, viu uma figura. Uma mulher de capuz verde e vestido da mesma cor escura, carregando uma tocha que iluminava seu rosto apenas o suficiente para Agatha distinguir um sorriso discreto. Aquela mulher misteriosa, uma sombra do passado, estava ali novamente, tal como da primeira vez, quando Charlotte morreu.

Agatha sentiu um impulso contraditório; queria avançar e confrontá-la, mas a outra parte, talvez mais sensata, a fazia recuar. Ela virou-se, com um movimento que aparentava indiferença, e seguiu pela floresta sem olhar para trás. A figura se fundia à escuridão, tão intrigada quanto Agatha. Em silêncio, as duas compartilhavam algo, uma conexão frágil e quase assustadora.

Nos meses que se seguiram, Agatha vagou, matando bruxas em cada coven que ousasse atacá-la. Cada morte parecia carregar um peso crescente, mas não pelo arrependimento. Era o controle que lhe escapava; sua magia agia por conta própria, uma defesa feroz e instintiva. E, a cada vez, ela esperava que aquela figura de capuz verde aparecesse, como uma sombra fiel. E, invariavelmente, ela aparecia. O contato era breve, mas as deixava igualmente intrigadas.

Até que, em uma noite após mais um massacre, a voz familiar emergiu das árvores.

— Vinte e três. Um novo recorde. — A voz vinha de um tom irônico, cheio de uma autoridade que Agatha não ousava contestar.

— Não sabia que estava contando. — Sua resposta saiu como um sussurro entrecortado, a voz carregando um misto de exaustão e uma estranha admiração.

— São presentes para mim, afinal. Achei educado contar. — A mulher deu um chute em um dos corpos caídos, abrindo caminho entre eles com uma calma perturbadora.

— Presunção sua achar que esses corpos são presentes para você. Quem você pensa que é? — Agatha quis parecer desafiadora, mas seu tom traiu um toque de curiosidade.

— Eu sou Rio Vidal. E, ainda que não sejam presentes, aceito-os de bom grado. — Ela sorriu, estendendo uma flor que acabara de fazer surgir entre seus dedos. — Aqui. Um presente meu.

Nos meses seguintes, as duas continuaram a se encontrar, suas interações breves mas intensas. Cada vez, a figura de capuz verde deixava um rastro de mistério que consumia Agatha.

Então, em uma madrugada fria, depois de mais um combate, Agatha esperou. Ela sabia que Rio viria, e quando a bruxa verde finalmente emergiu das sombras, Agatha a recebeu com um sorriso furioso.

— Você demorou.

— Estava esperando que fosse embora. — Rio sorriu de volta, mas seu olhar carregava uma malícia que fazia o estômago de Agatha revirar.

— Sabia que eu não iria. — Ela bufou, cruzando os braços.

— Sabia, sim. — Rio se aproximou lentamente, seus passos silenciosos, como se fizesse parte da própria floresta. — Você é a própria natureza, Rio. — murmurou Agatha, um tom de provocação e fascínio misturados.

— Muitos me chamam de muitas coisas. — Rio interrompeu, o sorriso perigoso em seus lábios. — Morte, principalmente. Mas natural, com tamanha admiração... só você. Mas você é um pouco insana.

— Talvez eu seja insana, afinal, sou uma bruxa sem coven.

— Quem precisa de um coven quando pode se proteger sozinha? — Rio sussurrou, tocando levemente o queixo de Agatha. — Você sobrevive bem demais.

— Mas o coven traz mais poder. Sozinha, sou apenas... perigosa. Mas descontrolada. — Ela admitiu, o tom carregado de uma vulnerabilidade que raramente expunha.

— Seu poder, Agatha, é único. Ele te protege com a mesma ferocidade de um coven. Não é só perigoso... é formidável.

Agatha baixou o olhar, lutando com a confusão que sentia. A batalha entre o desejo de controle e o medo de ser engolida por sua própria magia era real e constante.

— E você sabe como eu poderia controlar isso? — perguntou, quase em um sussurro.

— Eu sei muitas coisas. — Rio respondeu, vagamente, um brilho enigmático em seus olhos.

— Já encontrou alguém como eu?

— Uma vez, na América do Sul. — Rio parou por um momento, o olhar se perdendo em lembranças. — Ela não conseguia controlar como você quer... mas conseguia dosar o quanto absorvia de poder. É um dom, Agatha, e não há como escapar dele,  você precisa aceitar isso se vai ser uma bruxa sobrevivente.

— Onde ela está agora? — Agatha sentiu o sangue gelar enquanto aguardava a resposta.

— Morta. — Rio respondeu, com um dar de ombros. — Ela tinha um coven, e foi traída. Ao contrário do seu, eles sabiam como matá-la.

O frio na espinha de Agatha intensificou-se. Uma raiva e uma determinação incontroláveis subiram à superfície, transformando seus olhos em um brilho sombrio e feroz. Ela não seria vítima de um coven novamente. Se precisava matar para sobreviver, que fosse então a bruxa mais formidável, a mais temida entre todas.

Beautiful tragic - AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora