– A próxima prova é a prova da fé", disse Asmodeus, sua voz ecoando pela sala. – Você precisará confiar em si mesmo e em seu destino. Mas, para fazer isso, você precisará enfrentar sua maior dúvida.
Ele sabia? Como ele sabia sobre minha própria identidade e propósito?
– O que você quer dizer? – Perguntei.
– Você será levado a um lugar onde sua memória será apagada – disse Asmodeus. – Você não lembrará quem é, onde está ou por que está aqui. Você precisará encontrar uma maneira de recuperar sua memória e confiar em si mesmo para prosseguir.
– Mas, como eu vou fazer isso? – Perguntei, sentindo um calafrio percorrer minha espinha.
– Você precisará confiar em sua intuição – disse Asmodeus. – Você precisará ouvir sua voz interior.
Assenti, determinado. Eu sabia que precisava encontrar uma maneira de superar essa prova.
Asmodeus fez um gesto com a mão, e senti uma sensação de escuridão e confusão tomar conta de mim. Um véu espesso e frio envolveu minha mente, sugando cada lembrança, cada fragmento de identidade. Quando abri os olhos, estava em um lugar completamente desconhecido.
Olhei ao redor, mas nada fazia sentido. As paredes eram nebulosas, ondulantes como se fossem feitas de sombras vivas. O chão sob meus pés parecia não ter consistência. Um eco reverberava ao meu redor, mas eu não sabia se vinha de mim ou do vazio.
Tentei pensar, puxar algo da minha mente, mas era como tentar agarrar areia escorrendo pelos dedos.
– Quem sou eu? – Perguntei em voz alta, mas minha própria voz soou estranha, como se pertencesse a outro.
Não houve resposta. Apenas o silêncio implacável.
Comecei a caminhar, sentindo-me perdido dentro de mim mesmo. Cada passo parecia incerto, como se o próximo pudesse me levar para um abismo invisível. A dúvida e a angústia se enroscavam em minha mente como serpentes.
De repente, ouvi um sussurro fraco em minha mente. Era quase imperceptível, como uma brisa distante, mas havia algo familiar nele.
"Lembre-se de quem você é", disse a voz.
Eu fechei os olhos e me concentrei. O pânico ameaçava me engolir, mas eu sabia que precisava lutar contra isso. Tentei lembrar-me de algo, qualquer coisa, mas tudo parecia um imenso vazio.
E então, uma imagem surgiu em minha mente. Era um livro antigo, com uma capa de couro preto. Algo nele ressoava em mim, como uma chama tremeluzindo em meio à escuridão.
"O livro", murmurei para mim mesmo. "Eu lembro do livro."
Segurei essa lembrança como se fosse minha última âncora na realidade. Comecei a correr, seguindo a imagem do livro em minha mente. Eu não sabia onde estava indo, mas sabia que precisava encontrá-lo.
E então, uma figura surgiu à distância. Era um homem com um sorriso nos lábios.
Meus passos vacilaram. Algo dentro de mim reconhecia aquele homem, mas minha mente ainda estava enevoada. Ele me olhava com uma expressão que misturava ternura e arrependimento.
Não precisei perguntar. Eu sabia quem ele era, mesmo que as lembranças ainda se embaralhassem em minha mente.
A cena se desenrolava em um ambiente sombrio e misterioso, com a luz de velas tremulando ao fundo. O ar era carregado, como se o próprio tempo estivesse hesitando.
No instante em que a figura surgiu à distância, um aroma sutil preencheu o ar. Um cheiro amadeirado, misturado com um toque de tabaco doce e couro envelhecido. Meu coração apertou, e algo dentro de mim reagiu antes mesmo que minha mente processasse. Aquele era o cheiro do casaco que meu pai usava nos dias frios, quando me segurava nos braços e me chamava de "pequeno lobo", um apelido carinhoso que sempre me fez sentir protegido.
Meus passos vacilaram. Algo dentro de mim reconhecia aquele homem, mesmo que as lembranças ainda estivessem nebulosas. Ele me olhava com uma expressão que misturava ternura e arrependimento.
– Pai? – Minha voz saiu trêmula, uma mistura de incerteza e emoção crua.
Ele sorriu de maneira triste, seus olhos refletindo anos de silêncio e arrependimento.
– Nicollas, meu filho – disse ele, a voz carregada de um peso que eu ainda não compreendia. – Estou aqui para te entregar os anéis da virtude. Mas primeiro, preciso te pedir perdão.
O choque foi imediato. Meu peito se apertou com emoções conflitantes. Eu sempre quis ouvir essas palavras, mas agora, diante dele, não sabia como reagir.
Meu pai caiu de joelhos, e lágrimas escorreram por seu rosto.
– Perdão por ter te abandonado – disse ele, sua voz quebrada. – Perdão por não ter sido o pai que você merecia.
Eu queria sentir raiva, queria afastá-lo, mas também queria abraçá-lo. O peso do passado ainda não era claro para mim, mas a dor em seu olhar era real.
– Por que agora? – Perguntei, minha voz carregada de incerteza.
– Porque estou prestes a partir – respondeu ele, com um suspiro pesado. – E eu preciso saber que você me perdoou.
As palavras perfuraram minha alma como lâminas. Eu não queria perdê-lo novamente.
– Não! – gritei, agarrando-o. – Você não pode me deixar de novo!
Ele me abraçou de volta, soluçando.
– Sinto muito, Nicollas – murmurou ele. – Mas estou fazendo isso por você. Os anéis da virtude são sua herança. Você é digno deles.
Minhas mãos tremeram quando ele segurou meus dedos e depositou os anéis ali. O metal frio parecia pulsar contra minha pele, carregado de uma energia indescritível.
– Você é o verdadeiro herdeiro – disse ele. – Use esses anéis para fazer o bem. E lembre-se de que eu sempre te amei.
Antes que eu pudesse responder, ele desapareceu em uma nuvem de fumaça, deixando-me sozinho, com os anéis na palma da mão.
Olhei para eles, sentindo um turbilhão de emoções. Eu estava triste por perdê-lo, mas também determinado a honrar sua memória.
E, finalmente, eu lembrava quem eu era.
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Ashmadia - O Pecado da Luxúria
TerrorO conteúdo deste livro pode ser sensível. Em um mundo onde a escuridão e o medo reinam supremos, prepare-se para entrar em um reino de terror e sobrenatural. Foi nos países nórdicos, com suas sombrias florestas, que os poderes sobrenaturais conserv...