A chuva caía como uma cortina de vidro, silenciosa, mas constante. Hoseok observava da janela empoeirada de seu apartamento no último andar de um antigo prédio, no centro de Londres. O cenário não havia mudado muito ao longo dos séculos, embora o mundo ao redor tivesse se transformado.
As luzes da cidade cintilavam como estrelas distantes, mas nenhuma delas brilhava com a mesma intensidade que a memória dela. Lara.
Ele sabia que estava perto. O ciclo estava se aproximando do fim, e algo no ar lhe dizia que desta vez seria diferente. Ele sentia, como se algo profundamente enraizado em seu ser estivesse se rearranjando, como um relógio antigo prestes a parar. As pessoas vinham e iam, mas Lara… Lara sempre voltava.
Sempre.
Ele se afastou da janela e se dirigiu à mesa onde os arquivos antigos se empilhavam — registros de vidas passadas, observações cuidadosas, notas que ele cuidadosamente guardava como se cada palavra escrita fosse um fragmento de uma história que ele não queria esquecer. O ciclo estava terminando, mas ele não podia prever o que viria depois. Talvez, pela primeira vez em séculos, ele estivesse prestes a descobrir o que significava estar verdadeiramente sozinho.
Naquela noite, enquanto a chuva batia contra as vidraças, Hoseok sentiu uma presença. Não era o cheiro doce e familiar que o anunciava como um fantasma vindo das sombras — não. Era algo diferente, algo mais... urgente. Ele fechou os olhos por um momento, permitindo que o silêncio se arrastasse até seus ouvidos, antes de dar um passo em direção à porta. Quando ele abriu, a figura estava ali.
Lara. Mas não era a mesma mulher que ele havia conhecido nos séculos passados, nem a mesma do último ciclo. Seus olhos, profundos como um abismo, agora refletiam uma mistura de confusão e algo mais. Havia um medo. E uma sensação de que ela não sabia o que estava acontecendo. Não desta vez.
— Você… sabe quem eu sou? — Hoseok perguntou, a voz rouca, como se cada palavra fosse um peso que ele não quisesse carregar.
Ela o olhou por um longo momento, sem resposta. O tempo parecia dilatar. Ela tocou a testa, como se algo tivesse começado a desmoronar em sua mente, mas logo sua expressão se fechou.
— Eu… eu não sei — Ela respondeu, e sua voz tremia. — Mas você… você parece me conhecer.
Hoseok deu um passo à frente, sem saber exatamente o que fazer. O instinto, esse maldito instinto que o havia guiado por séculos, o dizia para não tocar nela, para não se aproximar. Mas seu coração, que há tanto tempo estava enterrado em dor e arrependimento, ainda ardia com a chama de um desejo que nunca morreu.
— Você… não deve se lembrar. — Ele disse, mais para si mesmo do que para ela.
Lara olhou para o lado, como se algo estivesse chamando sua atenção. Ele também percebeu, então. Algo estava errado. O ar estava pesado, tenso. Como se uma tempestade iminente se aproximasse. Ela se virou de repente, e Hoseok viu o olhar dela mudar — não mais confuso, mas com uma determinação fria que ele não reconhecia.
— Tem algo acontecendo, não tem? — Lara perguntou, a voz agora firme. — Eu… sinto que estou sendo observada.
Hoseok não respondeu. Ele simplesmente ficou ali, imóvel, como se o peso daquelas palavras tivesse o feito envelhecer mais alguns séculos. Ele sabia o que estava acontecendo, mas não podia contar a ela. Não ainda.
Ela estava prestes a desaparecer novamente, ou pior, ser retirada deste mundo, como tantas vezes antes. Mas algo maior do que o destino os aguardava. Algo que não podia ser evitado. Hoseok sabia que ele não seria capaz de impedir o que estava por vir. E o pior de tudo: talvez ele não quisesse.
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Ciclos de Sangue e Destino
FantasyEm uma Londres eterna, onde a chuva cai incessantemente e os ciclos se repetem ao longo dos séculos, Hoseok vive assombrado por uma única lembrança: Lara. Ela é a constante em sua existência imortal, uma figura que retorna a cada ciclo, mas que nunc...