Capítulo 2 - O Chamado

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Lara acordou com um sobressalto, o coração batendo forte contra o peito. Ao abrir os olhos, um peso familiar a apertava, algo entre a ansiedade e o vazio. Tentou se lembrar do sonho que tivera — algo nele parecia urgente, real, mas a lembrança deslizava por entre seus pensamentos como água entre os dedos. Fechou os olhos novamente, tentando reter o que restava: uma torre em meio à neblina, uma sensação de perda, e um rosto que parecia ter cruzado com o dela em alguma vida distante.

Mas as imagens desapareceram tão rápido quanto surgiram, deixando Lara apenas com a sensação desconcertante de que algo muito importante escapara de sua mente. Sentou-se na cama, passando a mão pela testa, tentando aliviar o desconforto. Por mais que tentasse encontrar uma explicação, algo parecia sugerir que aquela angústia ia além de um sonho. Era como um chamado.

Ela se levantou, abriu a janela e observou as ruas vazias de Londres. A cidade estava envolta em escuridão, pontilhada pelas luzes fracas dos postes, e uma fina garoa caía, transformando as calçadas em reflexos sombrios do céu. Lara se sentia estranhamente conectada àquela escuridão, como se, em algum lugar entre as sombras, houvesse uma resposta esperando por ela.

Vestiu uma capa, calçou as botas e saiu do apartamento. Não sabia ao certo para onde ia, mas o impulso de sair era forte demais para ser ignorado. Sentia que havia algo lá fora que precisava encontrar, algo que aguardava por ela naquelas ruas úmidas e solitárias. Cada passo que dava parecia reforçar a sensação de urgência, como se estivesse seguindo uma trilha invisível.

Ao caminhar pelas ruas, as vozes de Londres se misturavam com seus próprios pensamentos. O vento cortante trazia sussurros, palavras inaudíveis que pareciam ecoar da escuridão, preenchendo o vazio ao redor. Lara sentia-se observada, mas não via ninguém. Sentia-se parte de um jogo, de um enigma que não compreendia, mas que parecia insistentemente puxá-la para seu centro.

Em determinado momento, ela parou em frente a uma vitrine, e seu reflexo a surpreendeu. Havia algo em seus olhos — uma profundidade que não se lembrava de ter antes. Sentiu uma estranha nostalgia, como se aquele reflexo fosse de alguém que ela conhecia e havia esquecido. Levou a mão ao rosto, encarando-se como se buscasse reconhecer algo perdido em si mesma. De repente, uma sensação avassaladora tomou conta dela. Era como uma saudade inexplicável, algo que ela não conseguia nomear, mas que lhe pesava o peito.

Retomou o caminho, agora um pouco mais aflita. Andou sem rumo, seguindo o instinto que a empurrava cada vez mais adiante. E então viu, ao longe, o brilho de uma luz em uma das janelas de um prédio. Não sabia explicar, mas aquele ponto brilhante a atraiu, como se houvesse algo ali aguardando por ela.

Quando chegou ao prédio, Lara hesitou. Estava tarde, e o silêncio ao redor parecia quase ameaçador. Mas, ainda assim, havia algo naquele lugar que a puxava, como se suas próprias emoções não estivessem sob seu controle. Tomou coragem, entrou e começou a subir as escadas, sentindo que cada degrau a aproximava de algo inescapável. Seu coração batia cada vez mais forte, e a sensação de estar sendo observada parecia se intensificar.

Ao chegar ao último andar, Lara parou diante de uma porta. Aquela era a origem de tudo o que sentia? Havia algo por trás dela, algo que parecia

…Havia algo por trás dela, algo que parecia chamá-la, como se sua presença ali fosse uma resposta esperada por eras. Lara estendeu a mão para bater, mas hesitou. O medo se misturava à curiosidade, e a cada segundo parado ali, algo dentro de si parecia gritar para que ela avançasse.

Respirando fundo, bateu levemente na porta, mas, antes que pudesse sequer pensar em recuar, a porta se abriu. Ela deu um passo para trás, surpresa, enquanto a figura de um homem se desenhava na entrada. Ele a olhava como se a conhecesse, como se esperasse por ela há muito tempo. Havia algo em seu olhar — um peso, uma tristeza profunda que ela não conseguia decifrar, mas que, de alguma forma, a fazia se sentir segura e vulnerável ao mesmo tempo.

Ciclos de Sangue e DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora