A casa de Thomas está mergulhada em silêncio, tudo parece tão gelado e mórbido que me dá arrepios. Só consegui entrar, pois vi o Dereck colocando a senha e memorizei, ainda bem, porque a porta estava trancada dessa vez. Acho que pelo amigo ter saído, o homem que não quer me ver acabou fechando para não ter encontros como o que proporcionarei em breve.
Ouço um barulho vindo do fim do corredor, deve ser o quarto dele, o escritório fica no início. Thomas deve estar lá, ou aqui tem fantasmas, mas creio que isso é mais difícil. Se bem que no momento, acho que uma assombração seria melhor de se ver do que forçar Thomas a conversar comigo.
Ando até o local que ouvi o barulho, abro a porta e entro, fechando a porta atrás de mim. Thomas está de costas para mim, mexendo em alguma coisa na estante. Ele está usando apenas uma calça larga e uma toalha presa ao pescoço, suas costas estão de fora e vejo alguns hematomas que me deixam péssima. O braço dele está enfaixado, deve ser o local do corte profundo que teve.
— Quem te deixou entrar? — A voz dele é dura e carregada de um ódio palpável. Não é possível que ele tenha começado mesmo a me odiar de uma hora para outra.
— Eu queria...
— Sai da minha casa! — Ordena enquanto anda em direção a um outro cômodo, parece o closet.
Engulo a vontade de chorar, respiro fundo e sigo ele, disposta a ter essa conversa que tanto precisamos. Sei que tenho culpa por esse comportamento dele, pois ao invés de ficar e conversar, preferi fugir e me esconder. Não sabia o que pensar, achei que estava fazendo o certo.
— Thomas, por favor. — Suplico.
— Não! — O homem vira para mim enquanto grita, paro de andar e mantenho distância dele. Estou assustada com seu jeito agressivo. — Não adianta implorar ou chorar, acabou. — Seu rosto demonstra a raiva que sente por mim e o chorar em sua fala deve ser pelos meus olhos levemente úmidos enquanto tento prender o choro. — Quando fui até você e implorei por perdão, você virou as costas para mim e me ignorou. Quando chorei, supliquei e disse que te amava, você me pediu para te esquecer. Não adianta vir agora e agir como uma boa menina, pois não vai colar.
— Só queria... ajeitar as coisas. — A lágrima que tanto tentei segurar, acaba saindo e com ela, muitas outras. — Sinto muito.
— Eu não sinto, e decidi que sentir demais é o que destrói a minha vida. — O homem passa por mim e sai do ambiente, me deixando estática e ainda tentando controlar a agonia que cresce em meu peito.
Respiro fundo, recobro a coragem e vou atrás dele. Ele entrou no escritório, a blusa que antes estava em sua mão, agora está em seu corpo e só o cabelo molhado é resquício do banho que acabou de tomar.
— Você foi um erro, Solar, desde o início. — Diz assim que me vê entrar.
Sua voz, seus olhos, a postura de seu corpo, tudo me repele e demonstra sua raiva por mim. É como se o acidente tivesse arrancado suas memórias comigo e tirado qualquer traço de sentimentos que compartilhamos.
— Por que está fazendo isso? — Choramingo. — Não precisa me machucar...
— Você me machucou! E nem pensou no que isso poderia acarretar. Sabe o quanto abdiquei na minha vida para que você vivesse a sua? Tem noção de que se não fosse eu ou o Dereck, você poderia não estar livre hoje? Você viu as fotos. Sabe do que o Leon é capaz. Você não é a primeira que ele fica obcecado, e se eu não pará-lo agora, não será a última.
— Eu estava em meu direito! — Minha voz sai mais alta que o normal. — Você me usou e mentiu para mim.
— Para te proteger! — Ele grita.
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Confusões do Amor
RomanceSiga meu Instagram para saber mais sobre meus livros: @melpimentelautora * Mica, queria entender a partir de que momento sua vida se tornou uma confusão. Se foi quando perdeu seu melhor amigo ou quando se entregou a um desconhecido. Mas, não importa...