ADEUS NECESSÁRIO

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Rodrigo jogou seu corpo cansado em uma das cadeiras da delegacia, exibindo extrema tristeza e permanecendo completamente inerte a tudo ao seu redor. Nem mesmo Caio, discutindo sobre o motivo da soltura de Bob, conseguia tirá-lo de seu dilema interno: seu filho.

Caio bateu a porta com fúria e sentou-se ao lado de Rodrigo, que parecia em transe, sem perceber sua chegada; seu amigo estava passando por uma fase de falta de sorte.

- Oi, parceiro. Lamento informar que o Bob continuará solto - disse Caio, olhando para a porta à sua frente e demonstrando cansaço.

- Isso não importa - respondeu Rodrigo, sem demonstrar muita emoção.

Caio o olhou, incrédulo.

- Como assim "não importa"?! Ele quase levou seu filho! E agora você está aqui, enquanto Mag foi obrigada a ir para casa com o bebê antes do tempo, cercada por guardas! - Caio esperava que seu ponto de vista trouxesse o amigo de volta à realidade.

- Nós já sabíamos que ele não seria preso - disse Rodrigo, sem fazer esforço para elevar a voz.

- E por que está conformado? - questionou Caio, gesticulando com revolta.

- Porque eu tenho um plano.

Caio sorriu, aliviado por saber que o amigo estava apenas planejando algo.

- Graças a Deus! O que você vai fazer? - perguntou, inclinando-se em expectativa.

- Nada bom - respondeu Rodrigo, finalmente olhando para o amigo com uma expressão de tristeza.

Instantes depois...

Mag ajeitou-se na cama para dar espaço a Rodrigo, ficando ambos deitados ao lado do filho, que dormia profundamente entre eles. Caio, encostado na porta, observava a cena e trocou um olhar significativo com Rodrigo, compartilhando aquela ideia que só os dois sabiam. Compadecia-se do triste, mas inteligente plano do amigo.

Para Caio, Rodrigo não merecia esse fim; sempre sonhou com essa família. Por isso, para não alertar Mag na hora errada, disfarçou a tristeza e deixou o quarto o mais rápido possível. Ao sair para a sala, viu-a repleta de brinquedos, o que o deixou ainda mais preocupado com o amigo.

- Está tudo pronto? - Rodrigo desceu as escadas, e Caio confirmou com um aceno.

- Para amanhã - disse Caio, transmitindo com o olhar todo o seu apoio.

- Ótimo. Amanhã, falo com ela - respondeu Rodrigo, dirigindo-se à cozinha para pegar um copo de água, tentando aparentar indiferença.

- Sinto muito, amigo - disse Caio ao abrir a porta e deixar a casa, dando tempo a Rodrigo para refletir. Tempo esse que jamais seria esquecido.

Rodrigo, então, olhou para a sala, caminhou lentamente até o sofá e pegou uma bola de futebol com a qual pretendia brincar com seu filho. Naquele instante, percebeu que nem havia tido tempo para vê-lo direito e que talvez fosse melhor assim, para seu plano. Entregou-se ao choro e à dor de seu triste destino.

Na manhã seguinte...

Mag desceu as escadas com dificuldade, após o bebê pegar no sono, e aproveitou para procurar algo para comer na geladeira; seu vestido longo arrastava pelo chão. Ela parou, surpresa, ao perceber que os brinquedos, que antes enchiam a sala, não estavam mais lá. Apenas Rodrigo estava sentado no sofá, pensativo.

- Querido! Você não dormiu? - perguntou ela, sentando-se ao seu lado e tocando seu rosto.

- Não consegui - respondeu Rodrigo, com um ar cansado e visivelmente abalado ao olhar para ela.

- Não se preocupe, temos guardas por perto - disse ela, deitando a cabeça em seu peito, mas notando que ele não reagia.

- Precisamos conversar - disse ele em voz baixa, mas clara.

- É verdade, ainda não escolhemos o nome do bebê - disse ela, sorrindo para ele, feliz.

- Vamos nos separar.

Mag perdeu o sorriso e se levantou, espantada.

- O que você está dizendo?

Ele desviou o olhar, resistindo à vontade de desistir da ideia.

- Viver comigo é viver em risco, e isso eu não posso permitir - respondeu ele, encarando-a enquanto ela andava de um lado para o outro.

- Isso é por causa do que aconteceu ontem?! - perguntou ela, com um tom frio.

- É também porque eu não a amo mais - disse Rodrigo, sabendo que apenas assim o plano funcionaria e que o sacrifício valeria a pena.

- Você não está falando sério! - exclamou ela, furiosa ao vê-lo desviando o olhar.

- Estou.

- Quer saber? Fique com a casa! Mas você nunca mais verá nosso filho.

Naquele instante, Rodrigo percebeu que seu plano havia funcionado, mas não estava feliz. Mantê-los longe era a única solução. E aquele dia foi a última vez que Rodrigo os viu.

Hoje - 17 anos depois...

Não havia nada pior que a fama, pelo menos não para Rodrigo, que abrira sua própria agência de agentes ultrassecretos. Seu nome havia se tornado uma lenda, sendo chamado de o famoso "Senhor Rodrigo".

Diversas pessoas procuravam sua agência, quer para trabalhar com ele, quer como clientes. E, embora tivesse muitos funcionários e Caio como sócio, Rodrigo ainda amava sair de seu escritório para ele mesmo fazer o trabalho de campo. Ao contrário da agência de Bob, Rodrigo era conhecido por sua humildade e por auxiliar de perto os jovens recrutas.

Poucos sabiam que Rodrigo jamais parou de procurar seu filho, e que o arrependimento o assombrava por tê-lo mandado para longe para protegê-lo. No entanto, acreditava que seu sacrifício valera a pena, pois seu filho, com certeza, cresceu longe de Bob e da exposição da fama.

Agora, Rodrigo o procurava com mais afinco, ansioso para saber como ele era. Será que herdara a pele morena e os cabelos castanhos longos de Mag? Ou se parecia mais com ele, de cabelos loiros? Como sentia a falta dela, e como doía tudo o que lhe dissera anos atrás.

Rodrigo sabia que Mag o via pela televisão; era impossível que ela não o tivesse visto em algum momento. Mas será que seu filho também o via? Será que sabia dele?

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