III

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III

DUPNTE


Sentando no seu lugar favorito da casa, debaixo da escada íngreme que levava para seu quarto, Renjun tinha Nana aninhado em seu colo. Ele passava a mão pelo pêlo branquinho do gato, sentindo-o ronronar contra seu toque e automaticamente, passar uma sensação de paz que o ômega precisava urgentemente em seu sangue. Do outro da pequena sala, sua mãe estava sentada no outro sofá, observando-os com um olhar receoso.

Renjun odiava como ele e ela pareciam separados por mais de vinte camadas de tijolos nos últimos dias. Mas sempre que olhava para ela, ele se lembrava de que tudo aquilo era consequência de uma escolha que ela havia feito aos vinte e poucos anos. Ao mesmo tempo que ele odiava a distância entre eles, ele odiava o fato de ter perdido tanto tempo com pessoas que poderiam ter feito parte de sua vida, poderiam ter sido sua família.

Mas ele simplesmente não conseguia colocar toda a culpa em Yuling. Como poderia? Ela só queria que ele tivesse uma vida normal, que fosse para a escola como as outras crianças, que tivesse amigos tão normais quanto ele, que tivesse as mesmas preocupações que qualquer garoto de dezessete anos teria. Como ele poderia julgar ela por isso?

Puxando as pernas para mais perto do peito, abraçando Nana com mais força, Renjun olhou para a mãe, resolvendo quebrar o silêncio que parecia durar uma eternidade.

— Se eu quisesse ir conhecer os meus primos, a senhora deixaria?

Yuling suspirou, imitando o filho e cruzando as pernas sob o sofá. As mãos dela se uniram sobre as pernas, seus olhos não encontraram os de Renjun.

— Eu não me importaria de deixar, eu sei que você sempre quis uma casa cheia, com primos, irmãos... — ela fez uma pausa, escolhendo cuidadosamente as próximas palavras e encarando o filho. — Renjun, eu gostaria de deixar algo claro entre nós dois.

Renjun olhou para ela, esperando.

— Eu não me importo de você querer conhecer eles, eu não me importo de você ir para a Coreia para conhecê-los, não me importo caso você decida ficar por lá e viver confortavelmente em um dos castelos deles, de verdade, Renjun, meu amor, eu não me importo, desde que seja uma escolha sua. A questão que eu sempre fui contra era a que te obrigassem a seguir esse caminho sem você realmente querer, sem que lhe fosse dada uma chance de ver como era uma vida normal. — as palavras dela apenas confirmaram o que ele já sabia, mas ouví-las concretas e ditas com sinceridade de sua mãe lhe arrancou um peso no peito. — Eu nunca quis te ver preso à uma coroa, não como Junhyeong vivia. Eu sei que ele podia ter renunciado para ficar conosco, mas também sei que ele tinha um papel a seguir. Ele amava você, mas ele também amava e tinha um papel e um compromisso com o país dele. E vendo-o tomar essa decisão, vendo o quanto ele ficou destruído no caminho, eu decidi que nunca iria deixar você ter lidar com esse tipo de decisão, por isso te afastei deles.

Renjun respirou fundo, sentindo-se mais nu do que nunca. Ele devia um pedido de desculpas.

— Mãe... eu sei que surtei, eu sei que ainda estou meio surtado com tudo isso, mas saiba que reconheço que a senhora fez o que achava ser melhor, e eu agradeço pela vida normal que sua decisão me deu. — ele fez uma pausa, acariciando o pelo macio de Nana. — Eu realmente não tenho vontade de assumir qualquer coroa, mas eu estaria mentindo se dissesse que não estou morrendo de vontade de conhecer esse outro lado da minha família. Taeyong me disse que eu tenho uns quatro primos para conhecer, sem contar com meus tios, um tio-avô, uma tia-bisavó... são tantas pessoas, mãe.

Yuling sorriu, sentindo aquela pressão que havia tomado conta de seu peito há dias desaparecer.

— Você acha que poderia aceitar essa coroa algum dia?

Diário de Um Príncipe Não Muito EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora