Capítulo 08

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Capítulo 08

As gravações haviam recomeçado com uma intensidade diferente naquela manhã. Adriana e Zé se mantinham afastados, cada um no seu canto, imersos em pensamentos e evitando qualquer troca de olhares. Mas o diretor, atento ao clima entre os dois, logo os convocou para uma cena crucial entre Abraão e Sara, uma sequência de grande importância que exigiria demonstrações intensas de afeto.

Enquanto os ajustes de câmera e iluminação eram feitos, Adriana observava Zé de longe, o coração apertado. Cada detalhe da noite anterior voltava em sua mente, o beijo, as palavras duras trocadas, a dor que ainda pairava entre eles. Ela tentava se concentrar, respirar fundo e lembrar que, ali, eles eram apenas Abraão e Sara, nada mais. Mas o corpo parecia discordar — o peito acelerado e as mãos inquietas a traíam.

Zé, por outro lado, mantinha uma expressão séria e compenetrada, mas a cada segundo seu olhar deslizava discretamente na direção de Adriana. Ele sentia a distância imposta entre eles, como um peso silencioso. E agora, o roteiro pedia que se entregassem ao sentimento genuíno e inabalável que unia seus personagens.

Assim que o diretor gritou "ação", Zé e Adriana se encontraram, como Abraão e Sara, no centro da cena. Ele segurou o rosto dela com uma ternura quase dolorosa, e naquele instante, todos os sentimentos que tentavam enterrar pareciam vir à tona com força total. O toque de Zé, embora parte do roteiro, era intenso, uma conexão profunda que ultrapassava qualquer ensaio ou encenação.

Nas trincheiras, amigos do elenco, os câmeras, todos assistiam atentamente aquele show de interpretação tão realista que eles estavam dando sem perceber.
Adriana manteve os olhos fixos nele, sentindo um calor familiar e devastador. Cada palavra dita no silêncio dos olhares era um reflexo daquilo que ambos desejavam, mas tinham medo de admitir. E então, enquanto seus rostos se aproximavam, Zé se inclinou e a beijou com uma paixão contida, uma entrega completa que quase fez o mundo desaparecer ao redor.

O beijo era parte da cena, mas a forma como ambos se perderam naquele instante transcendia qualquer atuação. Adriana se sentiu levada pela emoção, cada barreira interna desmoronando conforme os lábios dele tocavam os seus. Por um momento, não existiam câmeras, equipe, nem o diretor observando; eram apenas eles dois, mergulhados na intensidade do que compartilhavam. Seus lábios encaixados perfeitamente, o gosto do beijo dele havia se tornado viciante, mesmo sabendo que era Abraão, ela ignorou completamente, seu coração lhe deixou imaginar a boca dele tocando a sua, como Adriana e Zé. Ela se entregou, o pensamento foi longe, a cena foi muito além do esperado. Mal sabiam que não era apenas encenação.

Quando a cena terminou, o diretor anunciou o corte, mas nenhum dos dois parecia ouvir. Adriana e Zé continuaram imóveis, ofegantes, ainda sentindo o gosto e a sensação do beijo. A linha tênue entre a realidade e a ficção se desfez, os deixando ali, em uma confusão de emoções, sem saber onde um terminava e o outro começava.

Não havendo mais nada para gravar naquela noite, Adriana totalmente séria e aparentemente atordoada ainda pela cena, pediu licença ao diretor e saiu direto para o ônibus camarim, onde entrou e trancou a porta. Estava aparentemente sozinha, então não aguentou em segurar o choro que veio para lhe fazer desabar, ela arrancou da cabeça os acessórios de Sara e se sentou abaixando a cabeça.

— Adriana? — a voz de Ana.

Adriana levantou o rosto assustada e limpou as lágrimas.

— Minha amiga, o que foi? O que houve?

Nenhuma resposta falada conseguiu sair, ela apenas chorou. Ana a abraçou forte.

— Ôh, não fica assim... Fica calma, o que houve? Senta aqui, me conta.

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