Capítulo 09

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Capítulo 09

O corredor do hotel estava mergulhado em sombras, iluminado apenas pelo brilho fraco das luzes de emergência. O apagão havia pegado todos de surpresa, e o silêncio que envolvia o lugar só fazia com que os ruídos mais sutis ecoassem de forma quase ensurdecedora.

Adriana segurava a maçaneta da porta do quarto, hesitando. O escuro a incomodava, mas não tanto quanto a ideia de se encontrar com Zé. Desde o último beijo e a discussão que se seguiu, ela tinha feito de tudo para evitá-lo. Ainda assim, o ambiente opressivo do quarto sem luz a obrigou a sair, e agora, seus passos ecoavam pelo corredor, o coração batendo forte, como se previsse o inevitável.

— Quer que eu leve ele pro meu quarto? Ele tá cheio de sono — Fabiana perguntou com Gael encostado nela coçando os olhos.

— Pode sim, filho, vai dormir tá. Quando a luz voltar a mamãe te busca lá.

— Tá bom — ele se agarrou em Adriana e recebeu um beijo suave dela no rosto.

Adriana esperou eles entrarem no quarto da babá.

[...]

Quando chegou à escadaria que levava à recepção, viu uma figura conhecida. Zé estava lá, iluminado apenas pelo fraco brilho da luz de emergência. Ele segurava o corrimão com uma das mãos, parecendo distraído, mas atento ao mesmo tempo. O olhar dele encontrou o dela, e Adriana sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

— Adriana — ele chamou, com a voz baixa, mas firme.

Ela parou no meio do caminho, o coração disparado. A lanterna de seu celular ligada iluminava o chão.

— Não sabia que você tinha medo do escuro. — Ele tentou um tom leve, mas o sorriso era tenso, como se estivesse medindo o quanto podia se aproximar.

— Não tenho — respondeu ela, cruzando os braços, defensiva. — Só achei que seria melhor sair um pouco. O quarto está... sufocante.

Zé assentiu, mas o sorriso em seus lábios sugeria que ele entendia mais do que ela dizia.

— Estou descendo para a recepção — disse ele, gesticulando para as escadas. — Quer vir?

Ela hesitou por um instante, mas acabou assentindo. Algo na companhia de Zé, mesmo com a tensão entre eles, parecia mais seguro do que a solidão no escuro.

Eles caminharam lado a lado, em silêncio. O som de seus passos ecoava pela escadaria vazia. A tensão era palpável, mas havia algo quase reconfortante na presença um do outro.

— Parece que toda vez que a gente tenta se afastar, alguma coisa acontece para nos colocar no mesmo lugar. — Zé quebrou o silêncio, o tom de voz mais baixo do que o normal.

Adriana olhou de relance para ele, percebendo o leve sorriso que brincava nos lábios dele.

— Coincidência — disse ela, tentando soar indiferente, mas a voz vacilou um pouco.

Ele parou de caminhar e se virou para ela.

— Será que é mesmo? — perguntou, olhando diretamente nos olhos dela.

Adriana sentiu o rosto aquecer e desviou o olhar.

— Não começa, Zé.

Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre eles.

— Eu não estou começando nada, Adriana. Só... queria que a gente conversasse como antes. Sem farpas, sem mágoas.

Ela o olhou novamente, e pela primeira vez em dias, viu a vulnerabilidade nos olhos dele. Isso a desarmou um pouco. Seu coração batia feito louco, como era difícil tê-lo tão perto assim, já podia sentir sua respiração.

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