Zephyra
O eco da batalha ainda pulsava na mente de Zephyra. A despedida de Tharo, seus olhos se fechando para sempre, era uma ferida aberta que latejava com a mesma intensidade da solidão que a consumia. O flashback se dissipava como poeira ao vento, deixando-a diante da vastidão silenciosa do planeta em que agora vagava.O céu, tingido por tons de laranja e roxo, parecia o último suspiro de uma estrela morrendo. Zephyra caminhava pelas planícies desoladas, mantendo-se à distância das formas que habitavam aquele mundo. Criaturas pequenas e frágeis, tão efêmeras quanto a própria vida, reuniam-se em aldeias feitas de pedra e madeira. Suas risadas e movimentos pareciam ecos distantes de algo que ela nunca teria.
Ela observava em silêncio, sentindo uma mistura de curiosidade e tristeza. Não era apenas a distância física que a separava deles, mas algo mais profundo: um abismo que jamais poderia ser cruzado.
Foi então que ouviu os sussurros.
Baixos, como um coro de vozes há muito esquecidas. Não eram palavras, mas ressonâncias que dançavam em sua mente, moldando-se em avisos velados:
"As sombras estão voltando."Zephyra parou abruptamente, o coração pulsando em um ritmo que não era seu. Seus olhos, fixos na linha do horizonte, pareciam perder o foco. Desde a morte de Tharo, os sussurros tinham se tornado uma presença constante. Às vezes eram guias, outras, tormentos. Mas agora, eram diferentes. Urgentes. Intensas.
Ela olhou para as próprias mãos e engasgou. Uma sombra densa começava a se formar sobre sua pele, serpenteando como se tivesse vontade própria. Era um negro profundo, que sugava a luz ao redor. Zephyra tentou controlar a respiração, mas o peso daquele momento a puxava de volta à memória.
De olhos fechados, as imagens explodiram em sua mente.
O planeta sem nome. Um lugar já marcado pela destruição, onde as ruínas eram as únicas testemunhas de uma era perdida. A terra estava rachada, quebrada, como se tivesse sido dilacerada de dentro para fora. As sombras ainda se moviam entre as pedras e escombros, como serpentes que aguardavam o momento de retornar.
No meio de tudo isso, estava ela. Mas não a Zephyra que agora conhecemos. Esta era uma versão dela tomada pela escuridão. Sua mão erguida, envolta por uma aura de pura energia destrutiva, emanava ondas de força tão intensas que o próprio solo tremeu. As ruínas, as cicatrizes do mundo, começaram a se desintegrar sob a força daquele poder, como se a terra, que já estava morta, estivesse sendo consumida por um fogo invisível.
O poder dela não estava destruindo o que já havia sido destruído, mas desintegrando as últimas partículas de resistência daquele planeta, como se o próprio mundo estivesse se desfazendo diante de sua mão. Não havia controle. Era como se ela estivesse soltando uma energia reprimida há muito tempo, e o mundo ao seu redor simplesmente não fosse mais capaz de resistir.
Zephyra abriu os olhos de súbito, sugando o ar como alguém que emergia de um afogamento. As mãos ainda estavam manchadas, mas a sombra começava a recuar lentamente. Ela respirou fundo, tentando expulsar a lembrança e o medo.
Mas o silêncio que veio depois não trouxe conforto. Trouxe algo mais.
Uma presença.
As sombras.
Elas estavam ali, escondidas, observando. Não se aproximavam desde o dia em que ela destruiu tudo em um acesso de poder, mas Zephyra sabia que nunca a tinham abandonado. Estavam sempre à espreita, esperando.
Ela ergueu o rosto, encarando o céu estrelado que agora surgia entre as nuvens. As vozes ainda ecoavam em sua mente, enquanto um pensamento a atravessava: "Se elas estão voltando... o que resta para ser tomado?"
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ETERNAL GLITCH
FantasyNo vasto e implacável cosmos, as estrelas não são apenas astros; são deuses que governam os destinos de incontáveis civilizações avançadas e religiosamente devotas. No entanto, o equilíbrio eterno está prestes a ser desafiado. Zephyra é uma Primordi...