Azel
O Além do Esquecimento nunca foi um lugar para se apressar. O tempo aqui não existe, e as sombras — essas sombras que são minhas e de ninguém ao mesmo tempo — são a única companhia que conheci ao longo dos milênios. Caminho por entre elas, como sempre fiz, me acostumei à quietude e à solidão que me cercam. O mundo, lá fora, parece distante demais para importar. Aqui, sou o senhor das sombras, mas, paradoxalmente, também sou seu prisioneiro. Sou moldado por elas, como quem se deixa levar por uma corrente invisível, porque é tudo o que resta de quem eu fui.
É reconfortante. A solidão é minha amiga há tanto tempo que me tornei parte dela. As sombras são a única lembrança do que fui antes, daquilo que um dia fui. Elas são minha conexão com o que ficou para trás — minha essência, minha verdadeira natureza.
Mas há algo diferente. Algo que cresce, algo que não consigo afastar. O ódio, a indignação, a lembrança da traição, a separação entre eu e os outros deuses. A nova ordem, os Eternos, que surgiram das ruínas de um velho ciclo, agora governam com suas leis cruéis, cegas à verdade. Não importa o quanto o tempo passe, essa ferida não cicatriza. E a vingança... a vingança ainda está longe de ser consumada. Eu sinto isso no ar, pesado, como uma promessa de que algo está prestes a acontecer. Uma mudança está se aproximando. A nova ordem está nascendo, mas meu foco sempre se volta para o mesmo ponto: a dor dos Exilados, a dor dos esquecidos.
Caminho mais adentro, e as sombras se entrelaçam ao meu redor, como se quisessem me prender mais forte. De repente, o ar à minha volta muda. Há algo no peso que carrego. Algo... diferente. Algo distante, mas poderoso.
Então, é quando ela aparece. Não fisicamente, mas sua presença começa a se estender até mim, como uma mão invisível que me alcança das profundezas. O vazio que preenche esse lugar se torna mais denso, e eu sei: algo está acontecendo. Alguém está se fazendo presente, alguém que se conecta comigo, que me chama.
As sombras ao meu redor se agitam. Eu estico a mão, e as sombras respondem ao meu comando. Elas se movem de uma forma diferente, quase como se tentassem se comunicar comigo. Elas se estendem, se contorcem, formando padrões, formas e símbolos que só eu posso entender. Algo está se revelando, algo que vai além das minhas próprias forças.
E então eu vejo.
Uma mulher. Não a vejo diretamente, mas vejo o que ela carrega. Uma aura intensa, escura, envolta nas sombras, uma energia pulsante que parece se entrelaçar com a minha própria essência. As sombras me sussurram, como se quisessem me dar um nome, como se quisessem me mostrar o que está além do visível.
"Zephyra." As sombras sussurram.
O nome penetra minha mente, cortando o silêncio como uma lâmina afiada. A conexão entre nós se intensifica. É como se, de alguma forma, eu fosse atraído para ela, como se a minha própria existência estivesse ligada à dela. É uma sensação estranha, desconfortável. Nunca imaginei que me ligaria a uma força tão... imponente. Mas não posso negar. Ela é real. E está aqui. Ela é uma presença que desafia tudo o que eu conheço.
A conexão se estreita, e as sombras revelam mais. Imagens fragmentadas começam a se formar diante de mim — flashes de um poder destrutivo, de uma energia que eu sei ser dela. A destruição, a devastação. O que quer que tenha acontecido, ela esteve no centro disso. Sua presença, embora invisível, está marcada em cada pedaço daquele planeta. Eu não sei quem ela é, mas as sombras me mostram: ela é importante. Ela é uma força que não pode ser ignorada.
A visão dela, Zephyra, apareceu de maneira tão vívida e contraditória, como se fosse a própria definição do paradoxo.
Mesmo sendo das sombras, ela parecia... luz. Sua pele pálida, quase translúcida, refletia uma pureza etérea, como se fosse feita de algo mais do que carne e sangue, algo além de toda escuridão. O contraste com a escuridão ao seu redor era nítido, como se sua presença iluminasse a própria sombra. Era quase uma ironia cruel: uma criatura das sombras que exalava a sensação de luz, mas ao mesmo tempo carregava a própria essência da escuridão dentro de si.
Seus cabelos brancos, longos e ondulados, pareciam flutuar ao vento invisível, como fios de prata, refletindo uma aura intensa que quase cegava. Era uma aparência angelical, quase divinal, algo que fazia Azel questionar como algo tão iluminado podia carregar em seu ser a mesma escuridão que ele próprio comandava. Era como se as sombras, ao se entrelaçarem nela, fizessem parte de sua natureza luminosa, conferindo-lhe uma beleza cruelmente delicada. Ela não era apenas da escuridão — ela era a junção do contraste entre luz e sombra, uma criatura de pura complexidade.
O choque foi quase físico. Azel sentiu um formigamento percorrendo suas costas, como se a própria essência dela tivesse uma força que o atraía, mas ao mesmo tempo, o desafiava.
Eu tento afastar as imagens, balançando a cabeça, como se pudesse controlar o que vejo. Mas as sombras não me deixam. Elas continuam a se mover, a pulsar, me forçando a ver mais. Algo está despertando aqui, neste lugar esquecido. E eu sei que essa energia, essa presença, está conectada a algo que será fundamental para o que está por vir. Algo que vai mudar tudo.
Eu não entendo o que está acontecendo. Não sei como ela e eu estamos conectados, mas sei que não posso ignorar.
O vento cortante que sempre me acompanha nesse lugar perdido parece mais pesado agora. A sensação de que algo novo está prestes a acontecer se torna cada vez mais forte. Eu sei, de algum modo, que meu caminho está ligado ao dela. O que quer que tenha liberado, o que quer que ela tenha despertado, eu preciso encontrá-la.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ETERNAL GLITCH
Viễn tưởngNo vasto e implacável cosmos, as estrelas não são apenas astros; são deuses que governam os destinos de incontáveis civilizações avançadas e religiosamente devotas. No entanto, o equilíbrio eterno está prestes a ser desafiado. Zephyra é uma Primordi...