O ar ao redor de Lara parecia mais espesso agora, como se cada respiração fosse mais difícil. O silêncio da floresta era pesado, uma ausência de som que a fazia se sentir observada, como se a própria terra estivesse esperando por algo. Ela olhou para trás, mas a trilha que ela havia seguido desaparecia nas sombras das árvores, como se o caminho estivesse sendo engolido pela própria floresta. O medo a alcançava em ondas, mas havia algo mais profundo que a mantinha em movimento: a necessidade de saber.
A cada passo que dava, o chão se tornava mais irregular, as raízes das árvores saltando e se entrelaçando, quase como se quisessem impedi-la de seguir. Mas Lara não recuou. Ela sabia que não poderia voltar agora. Emily estava lá, em algum lugar, e ela faria de tudo para encontrá-la.
Ela seguiu adiante, as árvores cada vez mais altas, as folhas formando um teto denso, deixando apenas raios de luz filtrados, criando uma atmosfera de sonho distorcido. A floresta parecia se estender para sempre, mas Lara sentia que estava chegando perto de algo. Ela podia sentir isso na sua pele, uma vibração estranha que crescia com cada passo.
O som de uma risada baixa cortou o ar, fazendo seu coração disparar. Não era uma risada humana, mas algo mais profundo, mais antigo. Lara parou, tentando localizar a origem daquele som. Sua mão se moveu para o bolso, onde ela guardava um pequeno facão, mais por segurança do que por necessidade. Seus olhos percorreram a floresta, tentando entender o que estava acontecendo. Foi então que ela o viu.
No centro da clareira à frente, uma figura estava de pé, envolta em uma capa escura, com o rosto oculto pela sombra da capô. A figura não se movia, mas parecia emitir uma presença quase palpável. A risada parecia vir dela, mas Lara não conseguia entender por que alguém estaria ali, no coração da floresta, no meio da noite.
"Quem é você?", Lara perguntou, a voz tremendo, mas tentando manter a firmeza.
A figura não respondeu de imediato. Em vez disso, ela se moveu lentamente, seus pés não tocando o chão como se estivesse flutuando. "Você realmente acha que pode sair daqui?", a voz baixa e rouca ecoou pela clareira. Era uma voz cheia de ecos, como se várias pessoas falassem ao mesmo tempo.
"Emily", Lara sussurrou, desesperada. "Onde está Emily?"
A figura fez um movimento suave, como se estivesse apontando para as árvores ao redor, e Lara seguiu o movimento com os olhos. Foi então que ela viu. As árvores, ou melhor, as raízes delas, começaram a se mover. As raízes se esticavam como braços, entrelaçando-se umas nas outras, criando um padrão como uma rede, como se estivessem tecendo algo. O ar ficou gelado, e Lara sentiu como se estivesse sendo puxada para dentro daquele enredado de raízes e sombras.
"Emily não está mais aqui", a figura falou novamente, mais sombria desta vez. "Ela fez sua escolha. E agora, você também terá que fazer a sua."
O medo gelou os ossos de Lara. Ela olhou para as raízes que se moviam e começou a perceber algo ainda mais perturbador: elas pareciam estar formando um símbolo, um círculo de árvores e raízes que envolvia tudo ao seu redor. As árvores sussurravam, uma música dissonante que parecia chamar seu nome.
"Não entendo", Lara disse, suas palavras mal saindo por entre os dentes. "O que vocês querem de mim?"
A figura se aproximou, ainda com o rosto oculto, mas seus olhos brilharam por trás da capa, como dois faróis na escuridão. "Não somos nós que pedimos algo. A floresta pede, Lara. Ela sempre pede. E agora, você fará parte dela."
Com um movimento brusco, as raízes se fecharam ao redor dela, e Lara gritou. Mas sua voz foi engolida pelo som crescente das árvores. "Não!", ela tentou lutar, mas as raízes eram fortes demais. Elas a seguravam com força, e ela sentiu a pressão crescente, como se a floresta estivesse sugando sua energia. Ela tentou se soltar, mas o medo a paralisava.
Antes que a escuridão a envolvesse por completo, a figura falou uma última vez, sua voz agora clara e imponente: "Você foi chamada, Lara. O preço será seu, mas em troca, você receberá a verdade."
Então, o mundo ao seu redor se apagou.
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Capítulo 3: O Preço da Verdade
Quando Lara abriu os olhos, não estava mais na clareira. Ela estava em um lugar diferente, um espaço profundo e nebuloso. O ar era denso, e o cheiro de terra úmida preenchia seus pulmões. Ela olhou ao redor, tentando entender onde estava. À sua frente, havia uma árvore gigantesca, cujos galhos se estendiam como braços, tocando o céu nublado acima dela. Mas, por mais que tentasse, Lara não conseguia ver mais nada além daquela árvore e das sombras que dançavam à sua volta.
Foi então que ela ouviu um sussurro, suave e quase imperceptível.
"Você já chegou. Agora, faça sua escolha."
Lara sentiu a pressão de um peso sobre seus ombros, como se o lugar estivesse cobrando algo dela. "Escolher o quê?", ela perguntou, sua voz trêmula.
"Entre a verdade... ou o esquecimento."
As palavras se dissolveram no ar, deixando um eco de incerteza em sua mente. Ela sabia que estava diante de uma escolha difícil. A floresta queria algo de ela, mas o que? Ela estava prestes a descobrir o que havia por trás dos desaparecimentos e o que realmente acontecia naquele lugar. Mas estaria disposta a pagar o preço por essa verdade?
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Os Sussurros da Floresta
HororDepois de uma série de desaparecimentos em uma floresta, uma jovem decide investigar o mistério. Ela logo percebe que as árvores sussurram segredos, e os espíritos do lugar não a deixarão sair sem pagar um preço.