Cartas para Paris | Rebi

Dália

compromisso, mudança, despedida

"Querida Paris,

Hoje te escrevo, como quem envia um pedaço de meu coração. Há algo no ar, algo que me impulsiona a te escrever, sem certezas, apenas com a confiança de quem sabe que, em algum lugar, você sentirá as palavras que aqui coloco.

Em cada momento, penso em você. Algo em mim se acende, como uma chama que não se apaga, que ilumina os dias e os torna mais leves, mais verdadeiros. Eu, por aqui, sigo. E, mesmo em meio à rotina, sinto que há algo maior se desenrolando. Não consigo evitar, é como se o destino estivesse me guiando.

Se algo me move, é a certeza de que a vida se desenha com os detalhes mais simples, os gestos mais puros. Estou enviando a você o que sou: uma presença que, de longe, sente e se conecta, como se o tempo fosse apenas uma linha tênue entre nós.

Com todo o meu ser,

Gabriela Guimarães"

Rebeca acordou naquela manhã com uma sensação de vazio no peito. O ar parecia mais pesado, como se pressentisse que o dia que ela tanto temia finalmente havia chegado. Observou Gabriela ainda dormindo ao seu lado, respirando suavemente, com os primeiros raios de sol iluminando seu rosto. Rebeca permitiu-se observá-la por alguns segundos, absorvendo cada detalhe — o contorno suave do rosto, os cabelos levemente desarrumados, os lábios entreabertos. Ela sabia que, em poucas horas, Gabriela estaria partindo, e tudo o que havia florescido entre elas seria deixado ali, suspenso no tempo.

-Bom dia Gabizinha - Rebeca sussurou espalhando beijos no pescoço e rosto de Gabriela, sentindo a melancolia invadir o seu peito.

Gabriela mexeu-se preguiçosamente, soltando um murmúrio baixo antes de abrir os olhos devagar. O sorriso sonolento que surgiu em seus lábios foi como um raio de luz atravessando as nuvens sombrias de Rebeca.

-Bom dia, Beca — respondeu com a voz rouca, segurando o rosto da ginasta com as mãos e acariciando levemente sua bochecha. - Já está acordada há muito tempo?

-O suficiente pra te admirar — Rebeca respondeu, tentando disfarçar a voz embargada pela emoção.

Gabriela riu suavemente, puxando-a para mais perto.

- Acordar assim todo dia seria um sonho.

Rebeca tentou sorrir, mas o peso da despedida iminente tornou difícil. Ela não queria que aquele momento terminasse, mas sabia que, inevitavelmente, o tempo continuaria avançando.

-Temos algumas horas antes de você ir — Rebeca começou, tentando manter o tom leve, mesmo que por dentro estivesse despedaçada. -Pensei em fazermos algo especial.

-Já sei o que é — Gabriela disse, com um brilho travesso nos olhos. -Você quer me levar para um treino exaustivo no ginásio, não é?

Rebeca riu pela primeira vez naquela manhã, balançando a cabeça.

-Não dessa vez, Gabizinha. Chico me liberou hoje, vamos passear pelo Rio. Quero te mostrar mais da cidade... pelos meus olhos.

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O céu do Rio de Janeiro pintava tons de azul e dourado no amanhecer, anunciando o último dia de Gabriela e Rebeca juntas. A cidade despertava lentamente, enquanto as duas percorriam as ruas com um silêncio confortável, cada uma absorta nos próprios pensamentos. No banco de trás do carro, repousava uma cesta de piquenique que Rebeca havia preparado de forma quase meticulosa na noite anterior.