02. Learn to Fly

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❝Hook me up a new revolution' Cause this one is a lie ❞

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❝Hook me up a new revolution
' Cause this one is a lie

Eu paralisei. A palavra ressoou nos meus ouvidos como um eco distante, carregando um peso que eu não sabia se estava pronta para suportar. Filha. Algo tão pequeno, mas com tanto significado. Meu coração parecia querer rasgar meu peito, e a dor que eu vinha enterrando durante esses nove anos encontrou uma fresta para escapar. era difícil saber que teria agora alguém por perto, que esteve distante grande parte da minha vida.

— Pai. — Minha voz saiu quase como um sussurro, rouca, embargada.

Ele deu mais um passo, os olhos fixos nos meus, cheios de arrependimento e uma ansiedade quase palpável. Eu não sabia se queria abraçá-lo ou sair correndo, e ao mesmo tempo, me odiava por sentir isso. Ele era meu pai, mas parecia um estranho. Daniel e Samantha sabiam que teríamos de ter uma conversa a sós, então voltaram para a casa. O senhor Larusso me fez um sinal com as mãos, como se indicasse "vá em frente, diga o que sente e ele vai entender", ou pelo menos, é o que espero que aconteça, que ele entenda o que esse abandono me causou.

— Você cresceu tanto... — Ele disse, com a voz tremida, e sorriu fraco. — Achei que nunca mais teria a chance de ver você de novo.

— Bem, talvez não fosse a ideia original — Retruquei, minha voz saindo mais dura do que eu pretendia. Soltei uma risadinha amarga, mais para abafar o nó na garganta do que por achar graça. — Mas parece que o destino gosta de brincar com a gente, não é?

Ele piscou, surpreso com minha resposta, e deu um pequeno passo para trás, como se tivesse levado um golpe. Percebi o erro imediatamente, mas não sabia como consertar. Meu instinto de me proteger estava lutando contra a pequena parte de mim que queria perdoá-lo.

— Jean... Eu sei que errei. Sei que deixei você e sua mãe... Sei que abandonei... — Ele tentou, mas a voz falhou, e ele respirou fundo, apertando os punhos como se estivesse se segurando para não desabar ali mesmo. — Eu não sei como te pedir desculpas por algo assim.

— É, talvez porque não existam desculpas. — Minha voz saiu mais fria do que eu esperava, mas não recuei. Eu queria gritar, mas também queria ouvir. Queria distância, mas ao mesmo tempo queria respostas.

— Eu sei. — Ele abaixou a cabeça, os ombros caídos em uma postura de rendição total. — Mas, mesmo assim, eu quero tentar. Quero fazer as coisas certas agora. Mesmo que isso leve o resto da minha vida.

Um silêncio pesado caiu entre nós, interrompido apenas pela respiração dele, que parecia carregada. Meus olhos ardiam, e eu sabia que estava à beira das lágrimas, mas não queria ceder. Não ainda. Como ele esperava resolver tudo agora? Me parece tarde demais, não sou mais uma garotinha, e não estamos mais em Okinawa.

— Então está me dizendo que acha que pode compensar nove anos em algumas semanas ou meses? — Perguntei, cruzando os braços. Meu tom soava ácido, mas no fundo era um grito desesperado por algo que nem eu sabia definir.

— Não, Jean. — Ele levantou a cabeça, me encarando com sinceridade. — Eu sei que nunca vou conseguir compensar esses anos. Sei que te deixei com dúvidas, com mágoas, e talvez até com raiva de mim. Mas, se você me permitir... Eu quero tentar ser seu pai novamente.

Aquelas palavras me acertaram como um golpe bem no estômago. Eu queria acreditar nele, mas a dor era um escudo que eu não sabia como abaixar. Eu sentia um misto de emoções tomando conta de meu corpo. Eu pensei que seria fácil encará-lo e apenas decidir que o odiaria, mas vendo seus olhos, a forma como me encarava com um sincero arrependimento, fazia meu peito arder em chamas, como se não conseguisse sentir tanta raiva dele, mas ainda queria saber o porquê dele ter nos deixado pelo karatê, o porquê dele nos ter trocado por tão pouco.

— Eu não sei, pai. — Minha voz quebrou no final, e as lágrimas finalmente escorreram. — Não sei se consigo.

Ele deu mais um passo em minha direção, mas parou, respeitando o espaço que eu parecia desesperada para manter. Apenas me olhou, com os olhos marejados, e assentiu lentamente.

— Eu espero, Jean. Pelo tempo que você precisar. Eu só quero que você saiba que estou aqui. E que não vou mais a lugar nenhum.

E, pela primeira vez em anos, a promessa parecia verdadeira. Eu apenas não sabia se estava pronta para acreditar. Eu apenas respirei fundo, balançando a cabeça positivamente, então cruzei meus braços, recuando um passo, como se estivesse na defensiva. Ele não poderia esperar que eu deixasse as coisas como estão, certo? Eu exigiria as respostas, exigiria saber todos os motivos que o fizeram deixar minha mãe e eu em tanto sofrimento.

— Por que? — Perguntei, e agora foi minha vez de avançar um passo em sua direção, sentia um choro entalado, mas tentei segurá-lo ao máximo, para não me perder em minhas palavras — Por que nos abandonou? O karatê é tão importante assim para você que teve de nos deixar sozinhas? Sem nada?

Ele soltou um suspiro frustrado, abaixando a cabeça.

— Eu não queria deixá-las, mas não tive outra escolha, Jean — Ele hesitou ao estender a mão na direção do meu ombro. Eu vidrei meus olhos ao seu movimento, mas não recuei, permitindo que ele tivesse esse mísero contato depois de tanto tempo — O karatê me trouxe problemas, problemas de verdade. Eu estava envolvido com pessoas perigosas de meu passado, que machucariam vocês se eu continuasse lá. Por isso, tive que desaparecer por um tempo... E depois, não tive mais coragem de voltar, temendo que isso fosse doer ainda mais.

— Sabe o que mais doeu nisso tudo? — Um tom quase irônico ressoou de meus lábios, eu inclinei a cabeça e o afastei do toque, rindo desacreditadamente — Você ter ido embora, e sequer ter voltado, ou então, sequer ter feito muitas ligações. Você simplesmente parou de ligar todos os dias, como se tivesse nos apagado da sua vida. Isso sim, pai, doeu muito.

— Eu sinto muito, Jean — Eu pude ver uma lágrima dolorida escorrer por seu rosto, e ele recuou um passo, respeitando meu espaço. Seus olhos foram até a porta do senhor Larusso, e depois voltaram-se para mim, carregando um nítido arrependimento e amargura de si mesmo — Eu fui covarde a minha vida toda, e só o tempo me fez perceber isso, mas eu amadureci, e gostaria muito de tentar de novo. Por favor, me perdoe. Não agora, nem amanhã, mas um dia.

Vê-lo falar de tal forma me trazia à sensação de uma lâmina afiada acertando meu peito, deixando-me em uma posição difícil. Eu queria muito poder perdoá-lo facilmente, porque uma das coisas que aprendi com minha mãe é sobre compaixão, e como bem sei desde que nasci, é preciso saber perdoar, porque o ódio só corrompe alguém, mas isso era muito difícil. Não vou demorar meses ou anos para conseguir processar isso, mas ainda assim, não consigo fazer isso nesse instante.

— Vamos resolver isso depois — Afirmo agora mais seriamente, mantendo um tom de voz firme, tentando apagar o resquício de um choro em meu tom, então eu balanço a cabça positivamente, decidia —, agora tenho que cumprir a promessa do senhor Larusso e entrar para o seu dojô. Espero que seja melhor sensei do que pai, porque eu trilharei o caminho da vitória dessa vez.

— E eu confio que conseguirá, Jean — Ele afirmou mais baixo, dando-me espaço para passar.

Eu sabia que isso era difícil para ele também, mas sabia que entenderia o quão complicado é dizer simples palavras e perdoar seus erros de muitos anos consecutivos. Talvez, como ele realmente esperou de nós, o karatê possa nos reaproximar, mas eu sei que farei por merecer, afinal, graças à bondade de Larusso e sua família, não só ele, como eu agora, tínhamos as melhores condições para se viver. Vacilar não é uma opção, e darei meu sangue e suor para garantir o troféu, honrando esse legado que fora construído, e no fundo, provar ao meu pai que apesar de tudo, eu ainda posso encontrar força em mim mesma, sem precisar de sua ajuda.

Obra autoral ©

𝗙𝗢𝗢𝗟 𝗙𝗜𝗚𝗛𝗧𝗘𝗥𝗦 | 𝖢𝗈𝖻𝗋𝖺 𝖪𝖺𝗂Onde histórias criam vida. Descubra agora