Capítulo 17: Ecos do Passado

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Marcus – Uma infância marcada pela escuridão

Aos oito anos, Marcus descobriu que o mundo era cruel. Crescer em uma casa onde o pai tratava a violência como linguagem e a mãe se afundava em silêncio foi a primeira lição que moldou sua visão sobre o poder. Ele nunca esqueceu a noite em que viu o pai arrastar sua mãe pela cozinha, gritando acusações que ecoaram como trovões. Ele também nunca esqueceu como ela se encolheu no chão, murmurando desculpas.

O pequeno Marcus, escondido atrás da porta, soube então que o silêncio não protegia ninguém. Ele decidiu que, se precisasse lutar pela sobrevivência, faria isso com as próprias regras.

Adolescente, foi expulso da escola após quebrar o nariz de um colega que zombou de seu uniforme rasgado. Aquele dia foi uma vitória para Marcus. Não porque tinha se defendido, mas porque descobriu algo novo: a satisfação em controlar o medo alheio.

Aos 18, foi recrutado por um pequeno grupo criminoso. Suas mãos firmes e frieza natural o tornaram um executor eficiente. Não demorou muito até que subisse na hierarquia, transformando-se no homem que comandava as sombras. Mas nem sempre a violência era suficiente. Ele aprendeu que o controle verdadeiro vinha da manipulação.

Daphne – Luz em meio à tempestade

Daphne Hale tinha apenas 13 anos quando seu pai foi baleado em um assalto a um mercado local. Ele não morreu de imediato. As semanas que se seguiram no hospital foram as mais angustiantes de sua vida. O sorriso gentil e os olhos amorosos de seu pai nunca deixaram de lhe oferecer conforto, mesmo enquanto ele perdia a luta contra a vida.

— Prometa que será forte — ele murmurou no último dia, segurando a mão da filha. — O mundo precisa de pessoas que lutem por justiça.

A promessa se tornou a base de tudo o que ela fez a partir de então. Estudou incansavelmente, dedicando-se a ser a melhor em tudo que tentava. O treinamento na academia de polícia foi brutal, mas ela nunca desistiu. Cada medalha, cada reconhecimento, era uma homenagem ao homem que lhe ensinou o valor da justiça.

De volta ao presente

Marcus observava Daphne de longe, encostado em uma moto estacionada do outro lado da rua. Ele sabia onde ela estava indo: o hospital. Sua conexão com ela era inexplicável, quase absurda, mas ele não podia ignorá-la. Ele a via como a personificação de tudo o que nunca teve: propósito, força e, acima de tudo, luz.

Dentro do hospital, Daphne entrava no quarto de Jacob, os passos mais leves do que de costume. Ver o amigo ali, machucado, lhe trazia uma mistura de culpa e alívio. Ela o encontrou acordado, lendo um livro velho que parecia deslocado em suas mãos grandes.

— Trouxe isso para você. — Daphne colocou um café sobre a mesa ao lado da cama.

— Você sabe que me mimar assim vai me deixar mal-acostumado, não sabe? — Jacob brincou, o sorriso fraco mas genuíno.

Daphne riu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Ela ainda pensava nos eventos recentes. Na presença constante e ameaçadora de Marcus. No perigo que ele representava.

Enquanto conversavam, Marcus continuava do lado de fora, refletindo sobre como havia chegado ali. Pela primeira vez em anos, ele se perguntou se ainda tinha escolha. Se o homem que ele se tornara precisava ser eterno ou se ainda havia um caminho de volta.

Ele afastou o pensamento com um movimento brusco. Não havia espaço para arrependimentos. Daphne era dele, mesmo que ela ainda não soubesse disso.

O preço da redenção

A memória da morte de sua mãe vinha a Marcus nos momentos mais inesperados, como um fantasma persistente. Ele não gostava de admitir, mas aquele foi o único momento em sua vida em que hesitou.

Ele tinha apenas 10 anos. Seus pais estavam dormindo no quarto ao lado, como se o caos que consumia a casa durante o dia desaparecesse à noite. Mas Marcus sabia que era uma ilusão.

O pai era um homem violento, cruel, que descontava sua frustração e ira em todos ao seu redor. A mãe, por sua vez, era submissa, sempre tentando proteger Marcus, mesmo que isso significasse suportar a fúria sozinha. Naquela noite, após um dia especialmente terrível, Marcus entrou no quarto com uma faca tremendo em sua pequena mão.

Ele sabia o que o pai merecia, mas a mãe... A mãe era diferente. Ainda assim, algo nele acreditava que estava salvando-a de mais sofrimento, da vida de dor que ela suportava.

O quarto estava escuro, e o som do sono pesado do pai o irritava. A primeira facada foi para ele. O coração de Marcus batia como um tambor enquanto ele se virava para a mãe, que acordou apenas por um instante, tempo suficiente para que ela murmurasse com uma voz fraca:

— Por favor, Marcus... — e depois, silêncio.

Ele convenceu a si mesmo de que era um ato de misericórdia. Que a estava libertando de uma vida de sofrimento. Mas, à medida que crescia, a dúvida o consumia.

Daphne – O vazio de uma perda

Do outro lado da cidade, enquanto estava no hospital com Jacob, Daphne não conseguia evitar que os fantasmas de seu passado emergissem. O cheiro de antisséptico, as paredes brancas e o murmúrio distante dos aparelhos a levavam de volta àquela noite fatídica.

A mãe de Daphne era tudo o que o pai não foi: calorosa, protetora, sempre sorrindo, mesmo quando as coisas ficavam difíceis. Quando ela adoeceu de repente, Daphne ficou completamente desorientada.

Ela passava as noites ao lado da cama, segurando a mão frágil da mãe, ouvindo histórias de sua infância. Até o último momento, sua mãe lhe deu força:

— Você é minha luz, Daphne. Não importa o que aconteça, continue brilhando.

Quando ela se foi, Daphne sentiu como se uma parte dela tivesse sido arrancada. Foi por isso que ela abraçou a carreira policial. Era uma forma de proteger outros de sentir a dor que ela sentiu, de encontrar alguma justiça em um mundo tão cruel.

Duas vidas entrelaçadas pelo destino

Enquanto Daphne segurava a mão de Jacob, tentando manter o foco em algo que não fosse o passado, Marcus continuava em sua moto, os olhos fixos na porta do hospital.

Ele sabia de tudo. Sobre a morte da mãe de Daphne. Sobre como aquilo a moldara. Ele havia investigado sua vida minuciosamente, e a semelhança entre os dois o perturbava mais do que ele queria admitir.

Ambos haviam perdido tudo. Ambos tinham sido moldados por tragédias. Mas enquanto Daphne havia escolhido o caminho da justiça, ele havia seguido o da vingança e da dominação.

Marcus apertou o guidão da moto, frustrado consigo mesmo. Talvez fosse isso o que o atraía para ela. Daphne era uma versão de quem ele poderia ter sido, em outra vida.

— Um mundo diferente, uma escolha diferente... — murmurou para si mesmo, antes de dar partida na moto e desaparecer na escuridão.

Mas, mesmo enquanto se afastava, ele sabia que não iria longe. Daphne estava se tornando mais do que um alvo. Ela era um ponto de fixação, um elo com a humanidade que ele há muito havia deixado para trás.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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sᴜsᴜʀʀᴏs ᴅᴇ ᴜᴍ ᴀssᴀssɪɴᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora