͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ 𝖼𝖺𝗉𝗂́𝗍𝗎𝗅𝗈 𝟢𝟤

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- Eu não sei como você aguenta trabalhar em um lugar tão chato. - Jisung reclama pela milésima vez, enquanto eu guardo um dos livros que segurava na prateleira correspondente.

- Eu amo livros, então pra mim, trabalhar nessa biblioteca é um paraíso. - Dou de ombros, ainda sem olhar para ele. Eu trabalho na biblioteca municipal de Tóquio há cerca de um ano e eu realmente amo o que faço.

- Se você diz. - Ele dá de ombros e pega sua mochila, que até então estava encima da poltrona e se direciona à mim novamente. - Eu já vou indo. Você sabe que eu detesto lugares muito intelectuais. - Murmurou, abrindo um sorriso torto.

- Andou revisando o alfabeto? Não é sempre que eu te vejo falando palavras difíceis. - Provoquei, recebendo um leve tapa na cabeça como resposta.

- Te vejo depois, cabeçuda. - Ele disse, se afastando logo em seguida, não sem antes bagunçar levemente o meu cabelo.

- Tchau mini Alvin! - Acenei, observando-o deixar o local, e então, volto a me concentrar em guardar os livros nas estantes.

Enquanto organizava a sessão de romance, me deparo com o clássico "A mulher de Areia", de Kōbõ Abe.

Sem conseguir me conter, sento-me na poltrona mais próxima e abro o livro, começando a lê-lo, mesmo que o tenha feito centenas de vezes.
Eu sempre tive muito prazer na leitura, principalmente em romances clichês. Quando leio, me sinto completa, é até difícil explicar, eu apenas adoro a sensação de felicidade ao imaginar as palavras ganhando vida em lindos romances com finais mais do que perfeitos.

"Ela tentou não olhar para ele, como se ele fosse o sol. Mas, como o sol, ela o viu sem nem mesmo olhar para ele".

Ao ler esse trecho, me lembro rapidamente de Hyunjin.

Eu não me apaixonei por ele de maneira intencional, apenas, aconteceu.

Algo em Hyunjin me atraiu de tal forma que, foi simplesmente impossível negar ou reverter. Já conheci um ou dois garotos que se interessaram por mim, mas quem eu mais quero, nem sequer sabe que eu existo e isso machuca.

Machuca muito.

Desperto dos meus devaneios ao ouvir Chilla chamar por mim com o mesmo tom suave e carinhoso de sempre.

- Desculpa Chilla, eu estava concentrada demais. - Passo os dedos pela ponte do meu nariz, ajeitando o óculos no lugar, completamente sem graça, vendo a senhora em minha frente sorrir compreensiva. Ela é a gerente da biblioteca e, sem dúvidas a senhora mais doce que já conheci além da minha mãe.

- Eu compreendo, querida. Quando damos vida à um livro, todo o resto parece desaparecer. - Assinto em concordância. - Aliás, não queria atrapalhar sua leitura, mas preciso lhe pedir um favor.

- Pode pedir o que quiser. - Sorrio, fechando o livro em seguida.

- Bem, que queria saber se pode fechar a biblioteca hoje. - Pede gentilmente. - Não quero te incomodar, mas minha filha mais velha insistiu para que eu jantasse com ela hoje. - Explica, parecendo envergonhada.

- É claro que posso. - Levanto-me, deixando o livro sobre a mesa de estudos.

- Muito obrigada, meu bem! - Ela sorri, deixando as ruguinhas no canto de seus olhos em evidência. - Vou voltar para o escritório, tenho que organizar alguns documentos antes de ir. - Concordo com um aceno. - Obrigada mais uma vez. - Chilla sorri, se afastando.

...

Ouvi o sino da porta soar e tirei meus olhos dos livros que estava entiquetando, direcionando-os para a porta. Imediatamente senti um frio na barriga e um arrepio percorrer minha espinha.

The Storm  .  𝗵𝘆𝘂𝗻𝗷𝗶𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora