A medicina afirma que a frequência normal do coração de um adulto em repouso é entre sessenta a cem batimentos por minuto, porém eu tenho sérias dúvidas do que a medicina falaria sobre o estado em que estava meu coração naquele minuto. A noite inteira, na verdade.
Meu corpo passou a noite inteira sendo abraçado pelos braços fortes de Sakusa Kiyoomi, logo, eu não dormi um minuto que seja a noite inteira. Pois esse fato, somado com ele chamando meu nome enquanto dorme e dizendo que tinha ficado preocupado, tinha dado um nó completo no meu cérebro. Sempre fomos uma espécie de rivais que lutam juntos, mas os últimos acontecimentos envolvendo esse homem ao meu lado têm me feito duvidar das minhas capacidades de interpretação e principalmente da minha sanidade.
Os primeiros raios de sol começam a despontar lá fora, o que fazia o meu coração idiota ficar ainda mais desesperado, pois Sakusa tinha um sono leve, a qualquer segundo ele iria acordar. Já estava cansado de todo esse clima esquisito que estava tendo entre nós e era quase certeza que isso só iria piorar tudo.
Seus olhos parecem incomodados com os raios de sol que adentram pelas brechas da cortina e quando eles finalmente se abrem, ainda parecem sonolentos e cansados demais para ficar em choque com o fato de sua cabeça estar grudada ao meu peitoral.
- Sakusa... - Minha voz o faz despertar por completo.
Ele levantou de supetão ao perceber como nossos corpos estavam tão colados. Por longos minutos, ele apenas me encara, agora sentado na cama, nenhum de nós estava realmente com coragem de falar alguma coisa.
- Você não vai falar nada? - Eu pergunto, não suportando mais aquele silêncio desconfortável.
Ele pega o celular no móvel ao lado da cama e parece checar as horas.
- Nós precisamos nos arrumar para o treino de hoje. - Ele vai até sua mala e começa a pegar o que vai ser necessário para tomar seu banho.
- Você ao menos se lembra do que aconteceu ontem quando eu cheguei de madrugada? - Ele para onde estava agachado em frente à sua mala.
- Eu lembro...
- E...
Sakusa se vira em minha direção, ele não parece nervoso como antes, nem preocupado com alguma coisa.
- E você não precisa quebrar a cabeça pensando nisso. Eu estava preocupado porque você ficou fora por quase a noite toda em uma cidade que nós nunca estivemos antes e quando eu te a-abracei foi por puro reflexo. - Ele vai até o armário de toalhas e pega uma nova para tomar seu banho.
Antes que ele pudesse adentrar o banheiro e finalizar essa conversa por completo, eu me vi abrindo a boca para falar aquilo que roda na minha cabeça há dias.
- Eu achei que você me odiava. - Ele se vira em minha direção mais uma vez, dessa vez sua expressão é uma espécie de choque misturado com aborrecimento.
- Você me irrita como nenhuma pessoa jamais me irritou, mas não chego a te odiar. E mesmo se odiasse, você é importante demais para... o time, seria um problema perder o nosso levantador.
Ele então adentra o banheiro.
Saber que Sakusa na verdade, não me odiava, foi sem dúvida o maior choque da semana, do mês, do ano, talvez até da minha vida inteira, mas isso ainda não explicava tudo. Ele disse que foi reflexo, o que ele estava admitindo com essa afirmação? Sempre achei que ele era do tipo que não gostava de contato físico, principalmente com alguém que o irritava tanto.
Quanto mais eu penso nisso, mais parece que eu estou tentando solucionar alguma espécie de mistério muito complexo e que não estou indo para lugar nenhum. Sinceramente, aquele homem deveria vir com um manual de instruções.