CAPÍTULO 2: MAIS ATRASADO QUE TARTARUGA

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Ano de 2024. Um garoto chamado Enki Fernandes, de 18 anos, cabelos escuros, rebeldes e sedosos, tinha a pele morena como um verniz de seda, lembrando um toque de sol tropical. Sua estatura era média, e o corpo magro, porém sarado como o de um atleta. Ele acordou de sua cama com muita preguiça e, tirando uma meia da testa, olhou para o celular e percebeu que o alarme estava disparando. Estava atrasado para o trabalho como jovem aprendiz numa instituição que preserva animais marinhos.

Levantou-se em desespero, pois nunca havia chegado atrasado. Lembrou como foi difícil conseguir aquele emprego. Enki sempre foi um bom aluno, esforçado, tirava notas altas, ajudava sua mãe nas contas de casa e sonhava em ser biólogo, principalmente em espécies marítimas. Naquele dia, ele iria cuidar de tartarugas de água doce.

Vestindo sua farda do trabalho na pressa e colocando um pão na boca enquanto saía da cozinha, ele deu um beijo em sua mãe, Dona Rosa Fernandes, uma mulher negra, linda, carismática, de cabelos pretos e bem volumosos, trabalhava como baiana de acarajé na praia, estava vendo o noticiário da manhã na sala. A televisão estava numa reportagem informando sobre uma construção:

— Nesta quarta-feira começa a obra do novo quebra-mar do Farol da Barra, servirá para deslocamento e estacionamento de pequenos barcos e lanchas que irá ajudar no comércio de pescas da região. — Dizia a repórter na tela.

Ao ouvir aquilo, Enki ficou indignado e reclamou:

— Palhaçada! Não é possível que ninguém percebe que isso afetará os corais e todas as espécies que ficam concentradas ali?

— Pare de reclamar com problemas que são do Governo e vá para o seu trabalho, senão vai acabar se atrasando. Deixei seu almoço na mochila. Te amo. — Retrucou Dona Rosa com todo carinho, entregando a mochila do seu filho.

— É problema nosso também! Somos responsáveis por tudo que afetamos, mesmo só assistindo de braços cruzados. Enfim, estou indo. Também te amo, mãe. — Respondeu Enki, pegando sua marmita e dando um beijo na cabeça de sua mãe, saindo pela porta e ouvindo as últimas palavras do jornal:

— E vamos à previsão do tempo. Depois da forte chuva de ontem, o que temos para essa semana, Roger?

Saindo de casa, o dia não estava como ontem; estava tão ensolarado que o azul do céu estava parecendo uma safira brilhante! Não havia nuvens, Enki descia a ladeira correndo, da sua pequena casa de tijolos sem pintura, numa humilde comunidade, porém privilegiada com uma vista de um oceano só para ele.

— Bom dia, Ekin! O que houve? Foi assaltado? — Disse um senhor baixinho careca, bem carismático.

— Bom dia, seu Luiz! Não, pior! Estou atrasado. — Respondeu Ekin, dando risada. Seu Luiz era seu vizinho, que trabalhava numa banca de frutas e sempre o ajudava quando precisava.

Dando uns passos mais devagar desta vez, ele parou num ponto, esperou alguns minutos, entrou no ônibus, sentou-se num banco ao lado da janela e ficou admirando a paisagem durante a viagem. Ekin amava sua cidade e mais ainda o mar azul que brilhava,  era apaixonado por aquilo, onde o ônibus subia na parte mais alta do local e via um espetacular forte histórico na baía do mar, não é à toa que era um famoso cartão postal aos turistas.

Descendo do ônibus, chegando na porta do seu trabalho, Ekin foi parado por dois policiais altos e fortes. Um parecia aqueles homens de filmes de ação, com o maxilar quadrado que derrota um alienígena no soco; não era nada simpático. Seu parceiro era mais novo, tinha um olhar mais breve e sereno, parecia que estava só acompanhando.

Parado aí cidadão! Onde pensa que vai? ­— disse o policial mal-encarado.

Seu parceiro de patrulha indaga:

— Ele está com a farda da instituição, vem aqui todos os dias não temos o que se preocupar.

— Por acaso me direcionei ao recruta? Quem me garante que esse meliante não esteja andando com uma arma branca! ­— Exclamou o policial mal-encarado, puxando a mochila do Ekin jogando suas coisas no chão, caindo caderno, estojo, pastas, canetas...

— Ei, ei! O que está fazendo? Ele trabalha aqui. — Veio um rapaz gordinho, um pouco mais velho que o Ekin usando óculos de grau quadrados flutuante, ajudando-o a recolher seus materiais caídos no chão.

— Obrigado, Kevin... E desculpe pelo atraso. — Agradece Ekin ao seu supervisor, Kevin era um cara legal que sempre ensinava tudo que sabia e bastante responsável com o seu trabalho.

— Se desculpe aos cágados da serra, estão precisando da sua ajuda. — Responde Kevin.

A instituição era magnífica, um verdadeiro oceanário com painéis de vidros enormes que passavam os peixes e moreias, uma área enorme de tartarugas marinhas e até tubarões! Vinham visitantes de todos os lugares e diversos países, muitos biólogos e pesquisadores trabalhavam no local, com a missão de preservar as espécies marinhas e seu habitat natural. Na ala de pesquisa Ekin estava com o seu supervisor cuidando das tartarugas de água doce onde estavam reparando o casco de uma.

— Essa parece que foi atacada por um gavião, olha o dano no casco. — Disse Ekin.

— Boa avaliação jovem, já está sabendo que vai começar a construção do quebra mar? E o pior não estamos tendo retorno de recurso para a instituição. — Disse Kevin chateado.

— Sim... Ouvi no noticiário de hoje. É um desastre! Como vamos proteger essas criaturas se o governo não nos apoia? — Respondeu Ekin, preocupado.

— É um problema político, Ekin. Mas não podemos desistir. Nossa missão é proteger a vida marinha, independentemente dos obstáculos. — Afirmou Kevin.

— E quanto às baleias e os corais? Como vamos garantir sua segurança com o quebra-mar? — Perguntou Ekin.

— Estamos trabalhando em um plano para realocar as tartarugas para uma área mais segura. Mas precisamos de recursos para fazer isso. É um desafio, mas vamos encontrar uma solução. — Garantiu Kevin.

— Vamos fazer o que for necessário. Não podemos deixar que essas criaturas sofram. — Disse Ekin, determinado.

— É esse o espírito, Ekin! Juntos, vamos proteger nosso oceano e todas as criaturas que o habitam. — Concluiu Kevin.

O som das ondasOnde histórias criam vida. Descubra agora