CAPÍTULO 1: CHOVE NO INFERNO

36 6 5
                                    


Século XVII, ano 1650. Em uma noite de chuva, a Baía de Todos os Santos, na cidade de Salvador, Bahia, estava sendo atacada por piratas holandeses. Em frente à baía, no meio do mar, o Forte São Marcelo, com sua estrutura circular e coqueiros, resistia aos bombardeios, defendido por muitos militares que devolviam os tiros.

— Resistam, homens! Não podemos deixar que invadam nossa terra! — gritava o capitão, alto e bem fardado, com insígnias de patente e uma atadura cobrindo seu olho esquerdo machucado e sangrando.

Enquanto corria e gerenciava o caos, o capitão não suportou mais o ataque e foi para uma área coberta e mais privada no forte, onde se encontrava a estatueta de madeira feita a mão  referente a uma santa ou divindade. Não era perfeito seu acabamento, mas era a imagem de uma mulher com vestido decorado de búzios e estrelas do mar, dado de presente por um escravo ao capitão onde existiu uma amizade e contava historias de sua cultura a ele, tornou-se um amuleto de sorte e proteção em suas viagens.

— Mãe do mar,  de mulheres, pescadores e marinheiros ajude-nos! — orava o capitão, desesperadamente para aquela estatueta. — Proteja nossa terra e nosso povo dos invasores!

No mesmo instante, parecia que alguém lhe ouviu. Um feixe enorme de luz disparou, um raio rebatendo num navio pirata. A tempestade ficou cada vez mais forte, com ventos destruindo velas e lonas, e ondas do mar derrubando os navios.

— Milagre! — exclamou o capitão, apertando os olhos contra os punhos. — É um milagre!

Os piratas foram derrotados, não sobrando um. Muitos afogados boiavam no mar, outros gritavam em um navio incendiado, enquanto o restante se tornou refeição de tubarões.

— É... é inacreditável — disse um militar, ofegante.

— Não há tempo para comemorar — disse o capitão, sério. — Precisamos socorrer nossos colegas e garantir que a cidade esteja segura.

Os militares concordaram e começaram a socorrer os feridos, enquanto o capitão olhava para a estatueta, grato pela intervenção divina.

O som das ondasOnde histórias criam vida. Descubra agora