Capítulo 3: Sobreviventes e o Caminho Adiante

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Um Encontro de Sobreviventes

Os primeiros raios de luz atravessavam o céu cinzento, filtrados pela poeira que ainda pairava sobre as ruínas de Absolum. A cidade, outrora viva, agora era um monumento à destruição, com escombros espalhados e ecos de um passado vibrante que não retornaria. Entre os destroços, Uruk Ferreira observava a jovem adormecida sobre um colchão improvisado. Sua expressão era tranquila, mas ele sabia que os traumas recentes logo tomariam conta dela quando despertasse.

Quando ela abriu os olhos, confusa e tensa, Uruk se aproximou lentamente, tentando transmitir calma.
— Você está segura agora — ele disse, sua voz baixa, mas firme. — E viva. Por enquanto.

A garota, no entanto, rapidamente notou sua aparência. Os cabelos cinzentos, os olhos vermelhos e as marcas demoníacas em seu corpo a fizeram recuar instintivamente.
— Você é... um deles? Um demônio de Zardrak? — Sua voz estava embargada de medo enquanto ela se levantava com dificuldade, gesticulando no ar. Runas de vento começaram a se formar, cintilando com energia mágica.

Antes que pudesse ativar o feitiço, Uruk, rápido e preciso, arrancou um galho de madeira próxima e o lançou contra a runa. O golpe desfez a magia antes de causar qualquer dano.
— Espere! — ele exclamou, erguendo as mãos em um gesto pacífico. — Eu sou Uruk Ferreira.

O nome fez a jovem congelar no lugar.
— Uruk? O... príncipe? — Sua expressão alternava entre choque e alívio. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto enquanto ela desabava no chão, murmurando: — Você está vivo...

Sem saber o que fazer diante da comoção, Uruk hesitou por um instante. Então, em um gesto tímido, ele se ajoelhou e a abraçou.
— Nós somos os últimos sobreviventes deste planeta — ele murmurou. — Mas talvez outros tenham conseguido fugir.

O calor do abraço pareceu acalmá-la, mas quando ela percebeu que estava coberta apenas por faixas de ataduras, o constrangimento tomou conta. Corando intensamente, ela levantou a mão e deu um tapa no rosto dele.
— Idiota! Não podia ter arranjado roupas? — reclamou, cruzando os braços, claramente envergonhada.

Uruk esfregou a marca vermelha em seu rosto, evitando contato visual.
— Eu estava mais preocupado em salvar sua vida... — murmurou.

A Lâmina e as Runas

Mais tarde, Uruk trabalhava em silêncio, martelando os pedaços quebrados da espada de seu pai. Sob os restos de uma velha oficina, ele moldava o metal com dedicação, mas era evidente que lhe faltava experiência. Seu rosto ainda exibia a marca do tapa, o que arrancou uma risada contida de Zelthor, o rei demônio.
— Um herói marcado por sua própria companheira. E ainda por cima, forjando uma arma imperfeita? Você é um desastre ambulante.

Uruk lançou um olhar irritado para o espírito que pairava ao seu lado.
— Cale a boca. A arma ainda não está pronta.

Zelthor riu novamente, mas permaneceu em silêncio enquanto observava Uruk gravar runas na lâmina. Os símbolos brilhavam intensamente, emitindo um poder que surpreendeu até mesmo o rei demônio.
— Isso... — ele começou, hesitando pela primeira vez. — Isso é possível? Em qualquer mundo?

Uruk, concentrado, respondeu sem desviar o olhar da espada.
— É uma habilidade exclusiva da minha família: as runas de modificação. Podemos dar características únicas aos objetos. Antes, essa espada aguentava vinte runas. Agora, após ser quebrada e reforjada por mim, suporta apenas três. É a minha primeira tentativa com forja...

Zelthor permaneceu calado por um momento, pensativo.
— E mesmo assim, seu mundo caiu? Como?

Uruk parou, sua expressão escurecendo.
— Traição. Dos próprios Ferreira.

Ele não disse mais nada, desviando o assunto ao observar a espada. Apesar de imperfeita, ela emanava um poder formidável. Ele se aproximou de sua companheira, que o observava em silêncio, ainda retraída.
— Temos que sair daqui — disse ele.

— Para onde? — perguntou ela, a voz ainda insegura.

— Para a forja do meu pai. Fica longe daqui. Vamos de carruagem. Na sua condição, você não pode caminhar.

Ela baixou o olhar, entristecida, mas Uruk colocou a mão em sua cabeça, bagunçando levemente seus cabelos. Não disse nada, mas o gesto a fez corar levemente. Ele a pegou no colo e a levou para fora, onde uma carruagem velha, puxada por um cavalo magro, os aguardava.

O Caminho da Forja

Enquanto a carruagem seguia seu caminho por uma estrada de terra, Uruk, vestido com uma túnica e capuz, segurava as rédeas no banco do cocheiro. O mapa que ele havia encontrado guiava a jornada, revelando a localização da antiga forja de seu pai.

Dentro da carruagem, a garota permanecia em silêncio, segurando os joelhos contra o peito, lutando contra seus próprios pensamentos. Zelthor, no entanto, estava mais atento.
— Você está sendo seguido, garoto.

Uruk olhou para os lados, ativando o Olho do Rei Demônio, que lhe permitia ver o fluxo de energia ao seu redor. Ele notou uma presença, embora distante, que parecia os observar.
— Quem é? — perguntou ele, mantendo a calma.

Zelthor apenas sorriu, claramente intrigado.
— Nada com que se preocupar. Considere isso... um teste.

Uruk franziu o cenho, mas decidiu esperar. Ele sabia que, cedo ou tarde, a pessoa mostraria suas intenções.

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