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Prólogo

-Mamãe, onde a "zente" vai? - Nicca olhou para sua mãe, piscando seus grandes e bonitos olhos castanhos claros. Sua mãe arrumava a mochila, era rápida, parecia um tanto desesperada. A garotinha segurava seu macaquinho, que arrastava as pernas no chão de piso de madeira. 

-Vamos dar um passeio na casa da vovó Marta meu bem. - A mãe lhe deu um sorriso terno e um beijo na testa e voltou a pegar as coisas e enfiar na mala vermelha em cima do sofá. 

-Mas eu tenho roupinha na vovó mamãe...- Nicca sorriu, lembrando do vestidinho amarelo que a avó havia comprado pra ela na última visita.

-Eu sei princesa, mas vamos ficar mais tempo na vovó dessa vez. - Ela fechou a mala e colocou a mochila nas costas, ajudou então a filha a por a blusa de frio.- Sobe o zíper tá bom? - Ela sorriu. 

-E o papai mãe? - Nicca indagou, arrastando o macaco pela sala, atrás da mãe.

-Ele...ele vai ter que trabalhar e....- Ele abre a porta com violência e anda até a mulher, com raiva.

-Onde pensam que vão? -Ele a olha, um misto de ódio e desprezo. Seu hálito denunciava a embriaguez. 

-Na vovó Marta, papai! -Nicca diz, inocentemente. Ele puxa a mala do braço da mulher com força e a segura pelo pulso.

-Bill, está me machucando! Me solta!- Ela chora, de raiva, de dor.- Eu já pedi o divórcio! Aceite e me deixe em paz!

-Eu não vou aceitar nada Catarina! Você é minha mulher! - Ele grita, e apertando com mais força o pulso da mulher. Então a joga no tapete com força e tira uma faca da cintura.

-CORRE NICCA, CORRE!- A mãe grita desesperada, tentando levantar-se para fugir do homem furioso. A menina chora, gritando pela mãe. Ele dá a primeira facada, na barriga, e então outra e mais outra. Foram cinco. O sangue escorre pelo tapete, pelo chão e Bill larga a faca e se dá conta do que fez, saindo de perto do corpo. A filha corre em direção ao corpo da mãe, chorando, chamando por ela, e ele chora desesperado.

-É TUDO CULPA SUA, MENINA MALDITA! NUNCA QUIS QUE VOCÊ FICASSE. OLHA O QUE FEZ! OLHA ISSO!- Ele pega novamente a faca a vai para cima de Nicca, mas algo o atinge na cabeça e ele desmaia. 

O vizinho, Charlie, ouviu os gritos,ligou para a polícia e entrou na casa, onde atingiu o homem na cabeça com uma frigideira. Suzan, sua esposa, entrou logo atrás e pegou a menina no colo, saindo com ela dali. Não demorou muito para a que os oficiais chegassem e levassem o homem. Com certa dificuldade, uma psicóloga conseguiu tirar um pequeno depoimento de Nicca. Ela dormiu na casa dos vizinhos junto de David, filho do casal e melhor amigo da menina, e no outro dia foi para um abrigo. 

Foram seis meses no local. A avó que morava no Canadá também não tinha condições de ficar com a menina, era idosa e vivia sozinha. Na Itália ela também não tinha família. Durante os seis meses, a família Wills lutou pela menina e conseguiram. Suzan, Charlie e David eram sua nova família.