Capítulo 2 - Primeiro amigo em solo americano

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Cheguei a minha casa exausta. Havia sido um dia cansativo, mas eu ainda tinha energia para conhecer meu novo lar. Andei lentamente pelo local, mapeando cada canto, e estava encantada. Apesar de pequena, a casa era adorável, os cômodos confortáveis e os móveis me levavam até o Canadá, de volta a casinha de madeira dos meus pais.

Eu e David quem procuramos a casa para que eu viesse pra cá, e demos a sorte de acharmos essa por um preço bom e toda mobilhada. A casa pertencia a uma senhora, que estava de mudanças para um asilo no norte do país, e quando a mesma ouviu minha proposta e o porquê da minha mudança, ajudou-nos e fizemos alguns acordos. Durante 5 anos eu guardei dinheiro para sair do Canadá e consegui juntar ao todo $201.600 CAD. Isso me deu o total de US$155.094,82. A senhora me vendeu a casa por 98mil e agora eu tenho um dinheiro para me manter aqui até que arrume um emprego. Óbvio que isso tem que ser o mais rápido possível, afinal dinheiro se vai com o vento.

Tomei um banho longo, revendo todo o meu dia, desde a despedida com meus pais, o voo e o beijo com Danilo. Minha boca ainda sentia o gosto da sua e no meu estômago ainda existia aquele arrepio bom, por mais errado que isso fosse, afinal ele era um estranho. Sai do chuveiro e vesti o mais fácil de retirar da mala: um vestidinho todo florido que eu usava para ficar em casa. O vesti e me deitei, pegando um edredom que achei dentro do armário antigo que ficava em meu quarto, não levei muito tempo para adormecer. Acordei no outro dia, eram 07hrs da manhã e meu celular gritava desesperadamente. O peguei sonolenta e olhei, ainda com os olhos meio fechados, quem me ligava. Era minha mãe.

-Merda, esqueci de ligar! - Sussurrei, esfregando os olhos e atendi. - Oi mãe, tudo bem?

-Nicca, graças ao nosso bom Deus, você já chegou? Porque não me ligou menina, enlouqueceu? Quer matar seus pais do coração? Sabe que eu não posso passar por esse tipo de estresse!

-Calma mãe, o celular tinha descarregado. - Resmungo sonolenta.- Eu cheguei bem sim Senhora Wills, mas estava muito cansada, dormi muito rápido. -Suspirei, sentando-me na cama.

-Ah minha princesa, quase nos enfarta. Estamos com tantas saudades meu amor...-Sua voz já sai embargada.

-Também estou mamãe, morrendo de saudades de todos aí. -Sorrio para mim mesma e me levanto, indo ao banheiro. -Diga a David que a casa é realmente encantadora, me faz sentir aí com vocês. -Coloco no viva-voz enquanto lavo o rosto.

-Direi sim, ele foi até a biblioteca buscar livros para uma tarefa, disse-me que quer fontes concretas assim como você o ensinou. -Ela riu e eu fiz mesmo. -Fico feliz que se sente bem em sua nova casa, eu e teu pai estamos orgulhosos de ti e da tua força de vontade minha filha.

-E eu devo tudo isso a vocês, os melhores pais do mundo todinho. - Lhe respondo simplória.

-Agora vou te deixar em paz, preciso ir checar o forno. Amo você meu bebezinho, cuide-se por favor. - Sua voz era cheia de um carinho inexplicável.

-Também amo você mamãe, mande um beijo a todos. -Despedi-me e ela desligou o telefone logo após um "pode deixar" choroso.

Ter sido criada pelos Wills foi sem dúvida alguma a melhor coisa que me aconteceu. Suzan e Charlie me criaram como se eu tivesse nascido naquela família e David sempre foi um irmão incrível. Eles eram meus vizinhos antes de me adotarem, morávamos na Capital, mas depois de me trazerem pra família nos mudamos para Kleinburg, uma vila em Vaughan (cidade vizinha de Toronto). A casa era grandinha mas simples, de madeira e com muitas árvores no quintal. Minha mãe dá aulas de História na escola pública da Vila e meu pai é padeiro. Eu e David crescemos ajudando-o na padaria, conhecíamos cada habitante do lugar. Suspiro pesadamente, já estava morrendo de saudades da minha família. Me levantei, fui tomar um banho e revirei as malas a procura de um shorts e uma camiseta. Me troquei rápido, peguei a carteira e o celular e fui caminhar pela cidade.

No caminho, passei em uma cafeteria próxima e comi deliciosas panquecas nova-iorquinas com um capuccino com canela incrivelmente delicioso. Resolvi que deveria ir ao mercado e assim o fiz, e enquanto refletia com o carrinho entre os corredores e pegava algumas várias besteiras, bati com em outro carrinho.

-Me desculpa, eu ando tão distraída! - Sorri, envergonhada. O homem olhou pra mim, era bonito, devia ter a minha idade, era negro, cabelos pretos cacheados e olhos escuros.

-Relaxa querida, tá tudo bem! - Ele coçou a nuca sorrindo abertamente. - Posso te fazer uma pergunta?

-Claro...-Estranhei.

-Mora sozinha e está vindo pela primeira vez no mercado certo? - Como ele sabia? -Sou Thiago e tenho uma dica pra ti, não compre tantas besteiras, você não vai conseguir comer tudo isso e vai sentir muita fome. - Ele deu de ombros, sorrindo. -É só uma dica...

-Nicca...- Entendi-lhe a mão e ele a apertou. - Matou minha charada Thiago, e eu realmente não sei o que fazer! - Comecei a rir e ele acabou por gargalhar também.

-Posso te ajudar Nicca, e não cobro absolutamente nada por isso, pode confiar. -Disse-me piscando e eu assenti. Fomos as compras, ele me ajudou a comprar de tudo um pouco, e enquanto empurrávamos nossos carrinhos, conversávamos tranquilamente. Thiago me disse que é brasileiro, nascido em Ilhéus, na Bahia. De lá, eu só havia ouvido falar de Salvador, e ele defendeu sua cidade, dizendo que as pessoas pensem que no Brasil só existe Rio de Janeiro e São Paulo, e de vez em quando eles lembram da Bahia e da Amazônia, tudo isso com um tom cheio de revolta. Seu inglês tinha um sotaque carregado, mas gostoso de se ouvir.
Depois de compras feitas, Thiago me deixou na porta de casa e ainda me ajudou a colocar as compras pra dentro. Trocamos telefones e redes sociais e ele se despediu com um beijo na bochecha e um abraço caloroso.
Eu estava exausta, tomei um banho pra relaxar e liguei o notebook, olhando meu e-mail, torcendo por uma boa noticia. Quando vi o assunto no ecrã quase cai da cadeira.

"Vaga de editora secundária: the Black's publishing company"

Eu estava sendo convidada para um entrevista de emprego em uma das maiores editoras de livros do mundo, era a oportunidade da minha vida. Eu mal podia acreditar. Respondi o e-mail rapidamente, confirmando minha presença amanhã, as 10hrs em ponto e já subi para procurar uma roupa descente.

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Eu estava muito ansiosa, e enquanto decidia se iria com a saia lápis preta ou com a cinza, vi meu celular vibrando em cima da cama. Desbloqueei e vi a mensagem de Thiago.

"Oi gatinha!"
Respondi logo em seguida:
"Oi meu bem! Preciso de ajudaaaaa"
"Já vai falando, tô aqui pra isso."
Vesti as saias, tirei fotos e mandei pra ele.
"Preta, com certeza a preta."
minha reação foi rir e vestir a saia indicada. Lhe mandei um áudio contando toda a história, e ele me desejou boa sorte e disse que tudo vai dar certo.
Com um amém final, uma figurinha de corações e um tchau tchau, me despedi do meu mais novo amigo. Eu estava feliz, nervosa, ansiosa, nem avisei meus pais da entrevista, pois sabia que eles ficariam mais nervosos que eu.
Pronta pra sair, peguei minhas coisas, um casaco, ajeitei o salto no pé, e dei uma última olhada no espelho.
-Você tá linda Nicca, e vai arrasar nessa entrevista!
Respirei fundo e parti, rumo a entrevista da minha vida.






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⏰ Última atualização: Aug 01, 2019 ⏰

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